A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Dalai Lama visita o Brasil e destaca valores universais



Dalai Lama visita o Brasil e destaca a prática de valores universais

Por Ivan Deus Ribas

Em mais uma visita ao Brasil, SS o Dalai Lama tratou de temas atuais e diversos, como: diálogo inter-religioso, ciência, estados da consciência e valores universais, como pilares fundamentais para uma vida mais feliz.

Foram três dias de atividades na cidade de São Paulo, que reuniram empresários, admiradores, praticantes e religiosos do Budismo e de outras denominações. Logo no primeiro dia, 15.09, discorreu sobre o tema “Nova Consciência nos Negócios – Valores para um Mundo Sustentável – Um movimento de transformação”, falando para um público composto por líderes de várias empresas do país. Mesmo tendo chegado com duas horas de atraso, em razão do tráfego aéreo, o Prêmio Nobel da Paz foi aguardado com entusiasmo por representantes do empresariado.

Em sua fala destacou o cultivo do altruísmo e da ética moral como remédios para diminuir o abismo existente entre ricos e pobres, assinalando a responsabilidade que recai em especial sobre a iniciativa privada, que ao agir dentro destes valores pode inclusive se beneficiar, uma vez que gera confiança e respeito de toda comunidade.

No segundo dia de sua estada, palestrou diante de uma platéia de mais de cinco mil pessoas no “Simpósio Estados de Consciência: Encontro entre o Saber Tradicional e o Científico”, onde estiveram presentes cientistas de universidades renomadas no cenário mundial em pesquisas sobre neurociência, como Cambridge e a University of Liége, da Bélgica, além do reitor da Universidade de São Paulo (USP) e o presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, que conduziram o encontro.

Durante todo o simpósio foram apresentados resultados de recentes pesquisas na área da neurociência que evidenciam, por exemplo, que pacientes tidos em estado vegetativo podem apresentar “respostas”, diante de estímulos detectados por meio de ressonância magnética. Estes resultados, ainda bastante preliminares, estão longe de dizer se o paciente tem real percepção sobre o seu estado, se sente dor, se reconhece a voz de um parente ou se é capaz de conjecturar sobre o futuro ou mesmo as circunstancias sob as quais se encontra, mas indicam que, apesar da inércia física, há certo grau de consciência, diferentemente do que se imaginava.

Segundo o cientista Dr. Adrian Owen, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, ao serem sugestionados para imaginar jogando tênis, por exemplo, imediatamente observa-se que a área responsável pelo movimento do corpo entra em operação; ao mesmo tempo, quando solicitados a imaginar erguendo o braço direito, igualmente, há uma resposta a nível neural, o que evidencia possuírem, ao menos os pacientes pesquisados, uma percepção ou consciência do mundo a sua volta, muito embora estejam totalmente imóveis do ponto de vista motor.

O Dalai Lama acompanhou todos os trabalhos que se desenvolveram ao longo do dia, interferindo pontualmente com perguntas sobre os dados apresentados, a fim de compreender melhor os detalhes da pesquisa. Perguntado sobre o tema a partir da visão budista, ponderou inicialmente que não deve haver conflito entre o saber tradicional e o científico, entre espiritualidade e a razão, inferindo que ambos são igualmente importantes, pois devolvem o individuo para o conhecimento de si e o reconhecimento do mundo, a ética, o respeito e todos os demais valores próprios de uma condição humana, que devem ser a força motriz para se chegar a um bem maior. A humanidade avançou muito em termos tecnológicos, a própria energia nuclear é algo extraordinário, mas perde sua capacidade de promover o bem quando é mal empregada, destacou.

Dentro das diversas questões levantadas ao longo do dia, os cientistas relataram que é muito difícil trabalhar em uma pesquisa como essa, em razão da condição em que se encontra o paciente, os familiares, além do custo para isso. Ressaltaram ainda que existem coisas mais importantes, emergenciais, como a recuperação deste indivíduo, do que ficar perguntando sobre isso ou aquilo, mas que aos poucos estão avançando e obtendo resultados cada vez mais promissores.

Dois outros pesquisadores demonstraram a partir de seus estudos que a Mente Atenta e a Compaixão, respectivamente, são capazes de auxiliar no tratamento de distúrbios mentais e outras doenças, como a depressão. Genshe Lobsang Tenzin Negi, monge tibetano, professor e fundador da Emory University, abordou o trabalho que vem desenvolvendo sobre os efeitos da meditação da compaixão sobre pacientes com depressão, demonstrando que há uma curva extremamente significativa nos indivíduos que praticam e aqueles que não realizaram o processo meditativo. A Dra. Tamara Russel, Doutora em Psicologia Clínica, com mestrado em neurociência e especialização em intervenção com base em Atenção Plena (Mente Atenta) para população psiquiátrica e saudáveis, relatou casos clínicos onde pacientes considerados em estado severo apresentaram melhora significativa apenas desenvolvendo este método de mente atenta, que consiste em tomar consciência dos próprios pensamentos, sem se envolver com eles, além de focar a atenção no momento presente, ou seja, sem dar seguimento a quaisquer dramas mentais experienciados, enfatizou.

Por fim, formou-se uma mesa de debate entre os próprios participantes que trocaram impressões, destacando ou enfatizando pontos relacionados aos dados trazidos a baila durante todo o dia. Terminado as discussões, encerraram-se os trabalhos do segundo dia, que teve o aplauso de todos os presentes no simpósio.

Na manhã do terceiro e último dia, o local escolhido para penúltima palestra foi o Centro de Convenções do Anhambi, que contou com a presença de um número superior a seis mil e quinhentas pessoas, para ouvirem o líder budista falar sobre Convivência Responsável e Solidária.

O prêmio Nobel da Paz iniciou a sua explanação falando que pertence a uma geração do século passado e que está se despedindo, que está chegando a hora de ir embora, entretanto, se você tem entre 20 ou 30 anos, significa que pertence ao século XXI, o que representa a responsabilidade de trabalhar pela paz. Mas, para isso é preciso ter em mente dois pontos: o primeiro, a visão, uma perspectiva ampla, global, do mundo todo; e, o segundo, da educação, que é um instrumento, o saber, e que pode ser construtiva ou destrutiva, dependendo do tipo e da qualidade de motivação que possuímos em nosso coração. É muito importante prestar a atenção nos valores internos. Pois se você cultiva o calor em seu coração, se ele está cálido, certamente será mais feliz.

Sua Santidade destacou ainda que para desenvolver uma mente sadia e, conseqüentemente, a motivação correta, existem três caminhos, a saber: através das religiões teístas, que acreditam em um Deus criador, que oferecem um instrumento extremamente poderoso contra o egoísmo, contra nossa arrogância; as não teístas, que não propõem a idéia de um criador, dentre estas o budismo, e que ensinam em sua maioria a lei da causalidade, onde uma ação praticada contra o outro produz uma reação equivalente, ou seja, se for boa trará o bem, ensinando assim o respeito, a compaixão; e, por último, o caminho ateísta, que não se atem a qualquer visão religiosa.

Destacou ainda, que é fundamental que respeitemos a escolha de cada um, por se tratar de um assunto de foro íntimo. Ressaltou que independente do caminho que escolhermos seguir, os valores como: amor, perdão, respeito e tolerância, são universais, não religiosos, podendo ser praticados por todos, que seguramente conduzirá a um mundo pacífico e solidário.

Em sua última palestra, na tarde do dia 17.09, ocorrida no WTC – World Trade Center –sobre o tema “Cultivando Emoções Construtivas”, enfatizou que todos os mamíferos possuem a noção de felicidade e se organizam em comunidade, não apenas o ser humano. Nós, desde que nascemos, crescemos cercados pelo afeto de nossas mães, ao passo que pessoas que não receberam, tendem a sentir mais medo da vida, desconfiança, insegurança. Neste sentido, podemos dizer que as experiências vividas por um indivíduo até certo ponto podem contribuir para o tipo e a qualidade das suas emoções. Estudos recentes, promovidos por cientistas, demonstram que os pensamentos influenciam no funcionamento do cérebro, interferindo, assim, na própria saúde e estados de contentamento.

Concomitantemente, nossa sociedade, vem percebendo cada vez mais que mesmo que tenhamos bens materiais, isto representa apenas uma parte do que realmente é necessário para sermos felizes. A prática da ética moral, do altruísmo, neste ponto são essenciais e determinantes para que consigamos cultivar a sanidade e, por conseguinte, a felicidade que almejamos. Estes valores, não apenas representam a superação dos conflitos vividos no passado, como dão outra percepção destas experiências. O perdão, a compaixão, o respeito, são indispensáveis para termos a base correta para o cultivo das emoções construtivas.

Ao término de sua fala, aplaudido de pé, recebeu o agradecimento dos organizadores do evento, que externaram o anseio do seu retorno em 2012, o que foi comemorado efusivamente por todos os presentes.

* Ivan Deus Ribas é integrante da Associação Meditar de Cuiabá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário