"Nenhum homem pode pacificar o mundo inteiro, mas cada um pode pacificar a si mesmo." Enio Burgos
A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.
A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.
Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.
A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.
A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.
Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.
A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.
terça-feira, 12 de maio de 2015
Por que orar?
Por Thich Nhat Hanh
Às
vezes, a oração é bem-sucedida e, por vezes, não é. Talvez tenhamos de fazer
mais perguntas. A questão que se pode fazer é: Por que a oração é bem sucedida
em alguns momentos e não em outros?
Nós
sabemos que quando queremos usar nosso telefone, ele precisa ter um fio e tem
de haver electricidade neste o fio. A oração funciona da mesma maneira. Se a
nossa oração não tem a energia da fé, compaixão e amor, é como tentar usar um
telefone quando não há energia elétrica no fio. O simples fato de que nós
oramos não conduz a um resultado.
Existe
uma maneira de rezar que garanta resultados satisfatórios? Se alguém tivesse
tal método, as pessoas ficariam felizes em comprá-lo a um preço elevado, mas
até agora ninguém encontrou um.
Nós
não sabemos por que a oração é eficaz em alguns momentos e não outros, mas
tirando esta questão, outra surge: Se Deus ou qualquer outro poder fora de nós
mesmos em que acreditamos já determinou que as coisas deveriam ser de certa
forma, então qual é a razão de rezar? Algumas pessoas de fé diriam que, se Deus
quer alguma coisa, então a vontade de Deus já está sendo feita. Qual é o ponto
de rezar se tudo já está pré-determinado? Se uma pessoa em uma determinada
idade sofre de câncer, por que que devemos orar para a saúde dessa pessoa?
Rezar não seria um desperdício de tempo?
Para
os budistas, esta mesma questão se coloca em relação ao karma. Se alguém
realizou ações prejudiciais no passado, e, em seguida, algum tempo depois, fica
doente, alguns diriam que este é apenas um exemplo do karma funcionando; como
pode a nossa oração mudar alguma coisa? Se o nosso karma é tal, então como pode
o resultado do nosso karma ser mudado? O que chamamos de "vontade de
Deus" no cristianismo é equivalente ao que chamamos de "retribuição
do karma" no budismo.
Portanto,
se um ser espiritual fez as coisas do jeito que são, por que orar? Nós
poderíamos responder com outra pergunta: Por que não orar? No budismo,
aprendemos que tudo é impermanente, o que significa que tudo pode mudar. Hoje
estamos em boa saúde e amanhã estamos com problemas de saúde. Hoje estamos
doentes e amanhã a nossa saúde pode voltar. Tudo vai de acordo com a lei de
causa e efeito. Portanto, se temos uma nova energia, uma nova visão, uma nova
fé, somos capazes de abrir uma nova etapa na vida do nosso corpo e da nossa
mente.
Quando
nos sentamos para a prática de unificação do nosso corpo e nossa mente, e
trazemos a nossa energia de amor para a nossa avó, para uma irmã mais velha, ou
um irmão mais novo, então nós estamos produzindo uma nova energia. Essa energia
imediatamente abre o nosso coração. Quando temos o néctar da compaixão e
estabelecemos a comunicação entre a pessoa que está orando e aquele para quem a
oração está sendo dirigida, então, a distância entre Plum Village e Hanói não
tem qualquer significado. Esta ligação não pode ser estimada ou descrita em
palavras; tempo e espaço não podem apresentar quaisquer obstáculos.
Nós
e Deus não somos duas existências separadas; portanto, a vontade de Deus é
também a nossa própria vontade. Se queremos mudar, então Deus não irá nos
impedir de mudar. O poeta Nguyen Du colocou desta maneira:
Quando necessário, os
céus não vão ficar no caminho dos seres humanos.
Os resultados das ações
passadas podem ser levantados,
Causas e condições
futuras podem ser criadas.
A
verdadeira questão é: queremos mudar ou não? Queremos continuar a manter a
atração do sofrimento e deixar nossas mentes passearem em sonhos? Se em seu
coração você quer mudar, então qualquer que seja o ser espiritual em que você
acredita, ele também ficará feliz em você mudar.
Famílias
funcionam da mesma maneira; nenhuma pessoa é completamente separada. Se o filho
ou a filha mudam, então o pai e a mãe também vão mudar. Se a energia surge do
filho ou da filha e os efeitos da mudança surgem neles em primeiro lugar, em
seguida, isto também irá produzir uma mudança no coração do pai e da mãe algum
tempo depois. As famílias não são feitas de entidades completamente separadas.
Mesmo
que Deus tenha predisposto que as coisas para que sejam de certa forma, ainda
podemos mudar porque, como diz a Bíblia, "somos filhos de Deus" (I
João 3: 2). Qual é a relação entre o criador e a criatura? Um deles tem a
capacidade de criar e o outro é o que é criado. Se eles estão ligados um ao
outro, então podemos falar deles como sujeito e objeto. Se eles não estivessem
conectados um ao outro, como podemos chamá-los de sujeito e objeto?
O
sujeito que cria é Deus; o objeto criado é o universo em que vivemos. Entre o
sujeito e o objeto, há uma estreita relação, assim como há uma estreita relação
entre esquerda e direita, noite e dia, a satisfação e a fome; assim como, de
acordo com a lei da reflexão, aquele que percebe e o que é percebido têm uma
ligação muito próxima. Quando o ângulo de incidência muda, do ângulo de
reflexão mudará imediatamente. O que chamamos a vontade de Deus está ligada à
nossa própria vontade. É por isso que a retribuição de nossas ações passadas
pode ser alterada.
(Do
livro de Thich Nhat Hanh - "The energy of prayer” - Tradução Leonardo
Dobbin)
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Você se conhece?
Por Monja Coen Sensei
É preciso cuidado. Buda dizia que a mente humana deve ser mais temida do que cobras venenosas e assaltantes vingadores
O carnaval passou, mas ainda continua.
Há carros alegóricos desfilando pelas ruas, com policiais e bandidos, traficantes e perdidos.
Há fantasias remendadas de plumas e brilhos nas pessoas que se emplumam para defender o indefensável.
O roto fala do rasgado.
Imaginam façanhas que se tornam vergonhosas artimanhas.
Acham-se salvadores da pátria. Mas é a pátria que nos salva a todos.
Hitler se achava um homem bom — queria a pureza da raça. Exterminador
brutal, representante de uma grande parte da sociedade de sua época.
Vergonha.
E muitos se calaram. Porque "não era comigo". Até que venham bater à sua porta e, então, será tarde demais.
Os homens de barbas e capuzes negros que degolam e queimam pessoas em
nome da fé e do estado — será que eles se consideram errados? Será que
se acham salvadores do mundo? Quebrando obras de arte, patrimônio da
humanidade?
É preciso cuidado.
Cuidado de cuidar com respeito e dignidade.
Buda dizia que a mente humana deve ser mais temida do que cobras
venenosas e assaltantes vingadores.
Você observa sua própria mente? Você
se conhece e reconhece as manobras da politicagem mental, física e
social?
É preciso acordar, despertar. Compreender as razões pelas quais as
notícias nos são passadas. Regionais, nacionais, internacionais.
Há tanta gente boa no mundo.
Há tantos projetos que deram certo, que dão certo e nunca sabemos.
Escondido o bem, o mal se revela vitorioso.
Cada pessoa procurando pelos erros e faltas alheios. Nos telhados de
vidro. No grande telhado de vidro que nos cobre a todos, em todo o
planeta. Jogamos fezes e lixo para o alto, caem sobre nós mesmos.
Mas há flores e fragrâncias.
Há idosos e crianças felizes.
Há pessoas comprando nas lojas alimentos, roupas, automóveis, flores, presentes, encantamentos. Há quem não apertou o gatilho.
Há o policial que ajudou o bebê a nascer e impediu um crime. Você sabia que a polícia existe para nos proteger?
Alguém noticiou as boas ações dos bombeiros, dos militares, dos
policiais, dos políticos, dos líderes, dos professores, dos médicos, dos
religiosos, das mulheres, dos homens, das crianças, dos adolescentes,
dos idosos?
Gente. Somos gente e somos bons. Podemos ficar envenenados pela
ganância, raiva e ignorância. Por outro lado, podemos nos curar com a
compreensão clara e o discernimento correto.
Queremos o bem, o bem de todos os seres. Logo, temos de incluir e de
nos unir — não para impedir, atrapalhar, ferir, queimar, mas para
construir uma realidade que mostre todas as suas faces.
Sem fantasias, sem máscaras.
O carnaval passou.
Vamos deixar passar o carro fantasmagórico dos ódios e rancores.
Vamos cantar a possibilidade de cuidar e reparar sem parar o fluxo contínuo e puro das ações que beneficiem todos os seres.
Mãos em prece.
Texto da Monja Coen publicado no jornal O Globo de 05/03/2015.
Extraído do site: http://www.monjacoen.com.br/
Livro do Mês - Maio
"Medicina Interior, A Medicina do Coração e da Mente" detalha todos os aspectos do caminho através do qual pensamentos e emoções causam as doenças e as dificuldades da vida.
As pessoas sabem que, amiúde, fortes emoções resultam no desequilíbrio da saúde física e mental. A base deste desequilíbrio, assim como a causa deste fenômeno são esclarecidas nesta obra fascinante. Ela descreve não apenas como os diferentes tipos de pensamentos e emoções atuam sobre o nosso organismo, elucidando o modo como a mente determina as escolhas e as experiências de vida, mas também como o nosso perfil mental (apegado, aversivo, indiferente, ciumento, orgulhoso, etc.) determina até mesmo a forma que nosso corpo irá assumir ao longo da sua existência.
As pessoas sabem que, amiúde, fortes emoções resultam no desequilíbrio da saúde física e mental. A base deste desequilíbrio, assim como a causa deste fenômeno são esclarecidas nesta obra fascinante. Ela descreve não apenas como os diferentes tipos de pensamentos e emoções atuam sobre o nosso organismo, elucidando o modo como a mente determina as escolhas e as experiências de vida, mas também como o nosso perfil mental (apegado, aversivo, indiferente, ciumento, orgulhoso, etc.) determina até mesmo a forma que nosso corpo irá assumir ao longo da sua existência.
Este
livro funciona como um espelho onde vemos refletidas as sutilezas da
nossa mente e as consequências do nosso estado mental sobre a nossa
saúde física e psíquica. Nele, vemos como transformar pensamentos e
emoções em saúde, paz, sabedoria e plenitude de vida.
Prescrevendo "remédios" ou antídotos absolutamente sutis e práticas curativas de meditação e mente atenta, podemos aprender a transformar e curar hábitos mentais negativos, alcançando um estado de maior compreensão, harmonia e felicidade.
Dotado de uma visão livre, independente de escolas, linhagens ou tradições religiosas, o Dr. Enio Burgos, além de médico e físico, tem-se destacado como pacifista, poeta, compositor e difusor de ensinamentos absolutamente universais. Facilitador da Unipaz, vem orientando inúmeras pessoas na prática de meditação e da mente atenta ao longo dos últimos vinte e cinco anos. Com o objetivo de difundir a meditação e a mente atenta, fundou a Associação Meditar, entidade voltada ao ensino da meditação e da mente atenta, tendo disseminado locais de estudo e prática por várias cidades do país. Dentre seus livros, o "Medicina Interior, A Medicina do Coração e da Mente" destaca-se pela profundidade e abrangência dos temas, sendo cada vez mais recomendado e lido tanto por profissionais da saúde, tais como médicos, terapeutas e psicólogos, como também pelo público em geral.
Prescrevendo "remédios" ou antídotos absolutamente sutis e práticas curativas de meditação e mente atenta, podemos aprender a transformar e curar hábitos mentais negativos, alcançando um estado de maior compreensão, harmonia e felicidade.
Dotado de uma visão livre, independente de escolas, linhagens ou tradições religiosas, o Dr. Enio Burgos, além de médico e físico, tem-se destacado como pacifista, poeta, compositor e difusor de ensinamentos absolutamente universais. Facilitador da Unipaz, vem orientando inúmeras pessoas na prática de meditação e da mente atenta ao longo dos últimos vinte e cinco anos. Com o objetivo de difundir a meditação e a mente atenta, fundou a Associação Meditar, entidade voltada ao ensino da meditação e da mente atenta, tendo disseminado locais de estudo e prática por várias cidades do país. Dentre seus livros, o "Medicina Interior, A Medicina do Coração e da Mente" destaca-se pela profundidade e abrangência dos temas, sendo cada vez mais recomendado e lido tanto por profissionais da saúde, tais como médicos, terapeutas e psicólogos, como também pelo público em geral.
"Dr.
Enio Burgos é uma das principais referências da espiritualidade
universalista." - Irmão Vítor Caruso Júnior, discípulo ordenado por
Thich Nhat Hanh, fundador do Espaço Hermógenes e do Ciência Meditativa. Curitiba - PR
Terceira Edição revisada e ampliada pelo autor.
Terceira Edição revisada e ampliada pelo autor.
Capa Dura, 344 páginas, formato 16 x 23 cm.
Mais informações: http://bodigaya.com.br/index.php/
Mais informações: http://bodigaya.com.br/index.php/
quarta-feira, 8 de abril de 2015
EU MAIOR entrevista com Professor Hermógenes
Esse vídeo é postado em homenagem ao mestre Hermógenes.
Mãos unidas em prece.
Gassho.
Monja Coen responde sobre a morte
P - Há realmente a necessidade de uma preparação para a morte tendo como foco os doentes terminais e seus familiares?
MC - Sim e não.
De certa forma estamos todos preparados para morrer e para aceitar a morte. Faz parte de nosso processo natural. Entretanto, quanto estamos afastadas, afastados de nossa essência verdadeira?
Queremos o impossível. Nos apegamos ao que é transitório e passageiro. Criamos sofrimentos em cima de sofrimentos. Portanto se faz necessário trazer de volta a consciência de que podemos morrer bem. Por boa morte quero dizer uma morte consciente de estar morrendo e sem deixar remorsos.
É preciso lembrar aqueles que são muito apegados às formas e sons materiais, que tudo isto é passageiro, mas permanece em nós a vida dos que se vão, em nossas vidas.
De certa forma estamos todos preparados para morrer e para aceitar a morte. Faz parte de nosso processo natural. Entretanto, quanto estamos afastadas, afastados de nossa essência verdadeira?
Queremos o impossível. Nos apegamos ao que é transitório e passageiro. Criamos sofrimentos em cima de sofrimentos. Portanto se faz necessário trazer de volta a consciência de que podemos morrer bem. Por boa morte quero dizer uma morte consciente de estar morrendo e sem deixar remorsos.
É preciso lembrar aqueles que são muito apegados às formas e sons materiais, que tudo isto é passageiro, mas permanece em nós a vida dos que se vão, em nossas vidas.
P - Há uma seqüência ou uma lógica de fases do enfrentamento da morte/luto?
MC - Parece haver, dependendo evidentemente das
situações. Mortes súbitas, causadas por desastres, crimes, guerras podem
ter uma sequência de raiva e culpa pela incapacidade de evitá-la,
tristeza e finalmente aceitação.
Contam os sutras que certa feita uma senhora desesperada carregava seu bebê morto em seus braços e pediu a ele que devolvesse a vida a seu filhinho. Buda disse que o faria se ela trouxesse a ele três sementes de sesame de uma casa onde a morte não houvesse entrado. Cheia de esperança a mãe começou a percorrer o vilarejo. E logo percebeu, que a morte havia entrado em todas as casas. Assim foi capaz de aceitar a morte de seu filho.
Contam os sutras que certa feita uma senhora desesperada carregava seu bebê morto em seus braços e pediu a ele que devolvesse a vida a seu filhinho. Buda disse que o faria se ela trouxesse a ele três sementes de sesame de uma casa onde a morte não houvesse entrado. Cheia de esperança a mãe começou a percorrer o vilarejo. E logo percebeu, que a morte havia entrado em todas as casas. Assim foi capaz de aceitar a morte de seu filho.
P - Cada pessoa tem um jeito particular de encarar a morte e o luto ou há atitudes comuns a todos, independente de sexo, idade...
MC - Somos semelhantes e não iguais. Assim sendo
cada um de nós tem um relacionamento diferente com a morte e este
relacionamento também se modifica conforme a situação. Alguém que esteja
sofrendo muito diz que quer morrer. Assim que o sofrimento passe não se
apressa mais em morrer. Todos nós, homens e mulheres, crianças e
adultos, jovens e idosos, carregamos em nós o instinto da vida e o
instinto da morte. Isso é comum. Como que somos educados para a morte -
isso é particular, diferente, conforme culturas, etnias, e mesmo
famílias ou grupos sociais.
P - Qual o significado da morte para o Budismo? Acredita-se em uma outra vida após a morte? Há linhas diferentes dentro do Budismo?
MC - "A vida é um processo em si mesma. A morte é um
processo em si mesma. Assim como a cinza não volta a ser lenha, a morte
não volta a ser vida." Essas palavras foram escritas pelo Mestre Zen
Eihei Dogen Daiosho, fundador da tradição Soto Zen Budista no Japão do
século XIII.
Há várioas linhas budistas - desde as que crêem na reencarnação como as que negam alguma coisa eterna e permanente que pudesse reencarnar.
Nada é fixo ou permanente. A vida é transitória e a morte é transitória.
Há várioas linhas budistas - desde as que crêem na reencarnação como as que negam alguma coisa eterna e permanente que pudesse reencarnar.
Nada é fixo ou permanente. A vida é transitória e a morte é transitória.
P - Como a morte é encarada por seus seguidores?
MC - Eu não sei. Poderia falar de alguns alunos,
algumas alunas, algumas pessoas. Um idoso, com quase noventa anos,
durante o enterro de sua irmã, me confessou: "todos dizem que foi uma
boa morte, pois morreu dormindo. Eu quero ver a morte. Quero morrer
acordado, consciente. É a grande aventura de minha vida."
P - Para o Budismo morre é apenas um momento de transição ou é um ponto final?
MC - Não há ponto final. Não há ponto inicial. Há o Interser.
Se acreditamos na Lei da Causalidade, a morte não anula todas as causas e condições criadas durante a vida. Cada instante de vida é transição.
Como dizia nosso poeta paulistano, Cassiano Ricardo, "cada instante de vida não é mais, é sempre menos. Desde o instante em que se nasce, já se começa a morrr". Cada célula viva, cada molécula, cada partícula e sub partícula - tudo está em constante movimento e transformação. Onde começa a vida? Onde termina? Nem mesmo a Biologia moderna consegue definir. Somos vida e somos morte.
Se acreditamos na Lei da Causalidade, a morte não anula todas as causas e condições criadas durante a vida. Cada instante de vida é transição.
Como dizia nosso poeta paulistano, Cassiano Ricardo, "cada instante de vida não é mais, é sempre menos. Desde o instante em que se nasce, já se começa a morrr". Cada célula viva, cada molécula, cada partícula e sub partícula - tudo está em constante movimento e transformação. Onde começa a vida? Onde termina? Nem mesmo a Biologia moderna consegue definir. Somos vida e somos morte.
P - Como lidar com o sentimento de culpa e revolta com a
perda de um filho? E dos pais? Quais as diferenças e semelhanças sob o
ponto de vista do Budismo?
MC - Tudo que começa, termina. A vida é um processo
terminal. Morrem bebês, morrem idosos. Meu mestre, Yogo Suigan Roshi,
costumava dizer às pessoas "seja qual for a idade em que morrerem - já
era tempo. Geralmente as pessoas dizem isso quando alguém morre com mais
de noventa anos. Eu digo a qualquer idade."
Não podemos controlar nem a vida nem a morte. É preciso ter humildade e fazer sempre o que for mais adequado ás circunstâncias. Assim não há culpa. Assim não há revolta. Há tristeza, há saudade, há ternura. Não devemos cultivar vinganças, rancores, revoltas, culpas. Se formos éticos, éticas e cultivarmos as virtudes aceitamos a realidade e ao mesmo tempo nos tornamos transformadores, transformadoras da realidade através de nossos gestos, pensamentos e palavras.
Não podemos controlar nem a vida nem a morte. É preciso ter humildade e fazer sempre o que for mais adequado ás circunstâncias. Assim não há culpa. Assim não há revolta. Há tristeza, há saudade, há ternura. Não devemos cultivar vinganças, rancores, revoltas, culpas. Se formos éticos, éticas e cultivarmos as virtudes aceitamos a realidade e ao mesmo tempo nos tornamos transformadores, transformadoras da realidade através de nossos gestos, pensamentos e palavras.
P - Segue rituais antes e depois da morte ? Quais?
MC - Sim. No Zen Budismo da Soto Shu, ordem à qual
pertenço, oramos pelas pessoas doentes, oramos pelos moribundos, oramos
pelos mortos. Oramos no travesseiro onde morreram, oramos ao prepará-los
para o caixão, para o velório. Oramos no velório, oramos no crematório,
oramos no enterro, oramos depois do enterro, das cinzas. Oramos nos
sétimos dias. Sete vezes sete. Quarenta e nove dias. Tempo em que se
completa um ciclo de vida-morte. Então outro ciclo se inicia. Como ondas
no mar são nossas vidas. Mas tudo é água. Causas e condições formam as
ondas e cada onda é responsável e coadjuvante de outras ondas.
Incessante e luminoso processo de vida,de morte, de vida, de morte,
devida...
P - Como ajudar uma criança a enfrentar a proximidade da morte? O que dizer? E um adolescente?
MC - Que a flor fenece, que tudo se transforma, que morrer é bom, que todos nossos ancestrais já morreram.
Que não é preciso ter medo, mas ir, ir, sempre ir com alegria para a luz infinita, sem se lastimar, pois viveu o que tinha a ser vivido - e o que é uma vida, em meio a tantas vidas?
É preciso tirar o estigma da morte - nossa amiga e companheira, que nos acolhe, sem distinção, sem discriminação. E´é secreta, misteriosa.
Que não é preciso ter medo, mas ir, ir, sempre ir com alegria para a luz infinita, sem se lastimar, pois viveu o que tinha a ser vivido - e o que é uma vida, em meio a tantas vidas?
É preciso tirar o estigma da morte - nossa amiga e companheira, que nos acolhe, sem distinção, sem discriminação. E´é secreta, misteriosa.
P - É mais fácil aceitar a morte de idosos? É verdade que o paciente sempre sabe que irá morrer?
MC - De certa forma todos sabemos o que está acontecendo com nosso corpo, pois somos este corpo.
A questão é que nos enganamos ou gostamos de ser enganados. Claro que é mais fácil aceitar a morte de idosos - como se houvessem, com o longo tempo de vida, "aproveitado a vida". Entretanto temos um sutra que diz valer mais viver um dia corretamente do que cem anos em ilusão.
Não é o tempo (conforme nós o compreendemos) que torna a morte melhor ou pior. É a qualidade da vida que vivemos e a qualidade da morte que morremos.
A questão é que nos enganamos ou gostamos de ser enganados. Claro que é mais fácil aceitar a morte de idosos - como se houvessem, com o longo tempo de vida, "aproveitado a vida". Entretanto temos um sutra que diz valer mais viver um dia corretamente do que cem anos em ilusão.
Não é o tempo (conforme nós o compreendemos) que torna a morte melhor ou pior. É a qualidade da vida que vivemos e a qualidade da morte que morremos.
P - Até que ponto vale investir na extensão da vida sem
qualidade em casos terminais? É preciso viver a doença e a morte com
dignidade? Como a religião e a fé contribuem para isso?
MC - Cada religião e cada grupo tem pareceres
diferentes sobre casos terminais. Tenho uma amiga, a Dra. Glória
Brunetti do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, com um projeto
maravilhoso de construir um centro para pacientes terminais. Pacientes
pobres, carentes. Porque pobres ou ricos, todos temos o direito de
morrer com dignidade. Ela ainda encontra muita dificuldade em conseguir
realizar seu projeto. As pessoas pensam apenas em encontrar remédios e
curas para doenças. Mas a vida é um processo terminal e precisamos
morrer bem, bem cuidados, bem amados, bem tratados.
Há várias pesquisas sobre a força da oração, da meditação nos processos de cura e de morte. Ajudam sim. Mas há também os ateus, as atéias, que morrem bem. Não é apenas a religião institucionalizada. É a espiritualidade e a confiança em si e na própria vida, na própria morte. Quem até hoje deixou de morrer?
Há várias pesquisas sobre a força da oração, da meditação nos processos de cura e de morte. Ajudam sim. Mas há também os ateus, as atéias, que morrem bem. Não é apenas a religião institucionalizada. É a espiritualidade e a confiança em si e na própria vida, na própria morte. Quem até hoje deixou de morrer?
P - No passado a morte envolvia maior
proximidade/envolvimento da família, acontecia geralmente em casa. Hoje
há um maior distanciamento, em geral acontece nos hospitais. É uma forma
mais fácil de enfrentá-la?
MC - É uma forma asséptica e distante. Não queremos
lidar com a dor. Nos hospitais o local para onde são levados os mortos é
pequeno e escondido, nos fundos. Ninguém quer falar muito sobre os que
morreram, como se fosse feio, como se fosse uma perda. Por que não temos
locais lindos e públicos para acolher os mortos, para lamentar sim essa
despedida, mas para reafirmar a vida em nossas vidas.
Antigamente e ainda nos locais carentes e simples, as pessoas morrem em casa, cercados de seus parentes, amigos. Pode ser mais agradável. Ou não? Será que no momento da morte isso importa muito? Talvez não. Mas, importa antes. E talvez importe muito para os que ficam - saber que cuidaram, que acompanharam, que compreenderam seus últimos desejos, que perceberam os sinais da morte e que fecharam seus olhos, amarraram seu maxilar e cobriram seu corpo de flores, amores.
Rituais são importantes para nós humanos. Rituais de passagem. Nós gostamos de fazê-los. Por que evitá-los? Talvez as doenças contagiosas tenham dado origem ao que temos hoje em dia. Também as dificuldades de alguém morrer em casa e a necessidade legal da verificação da morte do Instituto Médico Legal. O que é interessante é procurar manter a ternura, mesmo nas instituições hospitalares.
Muitos já fazem isso. Muitos ainda carecem disso.
Antigamente e ainda nos locais carentes e simples, as pessoas morrem em casa, cercados de seus parentes, amigos. Pode ser mais agradável. Ou não? Será que no momento da morte isso importa muito? Talvez não. Mas, importa antes. E talvez importe muito para os que ficam - saber que cuidaram, que acompanharam, que compreenderam seus últimos desejos, que perceberam os sinais da morte e que fecharam seus olhos, amarraram seu maxilar e cobriram seu corpo de flores, amores.
Rituais são importantes para nós humanos. Rituais de passagem. Nós gostamos de fazê-los. Por que evitá-los? Talvez as doenças contagiosas tenham dado origem ao que temos hoje em dia. Também as dificuldades de alguém morrer em casa e a necessidade legal da verificação da morte do Instituto Médico Legal. O que é interessante é procurar manter a ternura, mesmo nas instituições hospitalares.
Muitos já fazem isso. Muitos ainda carecem disso.
P - A nossa dificuldade de aceitar a morte hoje dificulta seu enfrentamento?
MC - Independentemente de aceitarmos ou não, a morte é.
Não precisa ser enfrentada, precisa ser experimentada. E apenas a experiência da morte pode nos dizer o que é morrer.
Não precisa ser enfrentada, precisa ser experimentada. E apenas a experiência da morte pode nos dizer o que é morrer.
P - Há uma tendência para os próximos anos diminuir a negação da morte? Por quê?
MC - Porque percebemos que a morte é necessária, é
importante e não é má. Todos morreremos. Há um obstetra, que também é
pastor, que costuma dizer ao fazer um parto "sei que nasceu e sei que
morrerá, posso apenas orar por aquilo que fará durante sua vida"
P - É possível ensinar sobre como encarar a morte? Fale da sua experiência com pacientes oncológicos e terminais.
MC - É preciso falar da morte. Algumas pacientes e
alguns pacientes não querem falar sobre a morte. Querem se auto-enganar,
que vão se recuperar. Mas, sabem que não.
É uma oportunidade preciosa poder rever sua própria vida e saber se compreender, se amar e se perdoar. A si mesma e aos outros. Todas as experiências de nossa vida e de nossa morte são a tapeçaria do universo - hoje até chamado de multiverso. Múltiplos universos convergentes e divergentes.
É preciso fazer o arrependimento. Temos um verso:
"Todo o carma prejudicial alguma vez cometido por mim
Devido á minha ganância, raiva e ignorância
Nascido de meu corpo, boca e mente
Agora, de tudo, eu me arrependo"
Este arrependimento, quase como um "mea culpa" cristão, purifica, liberta, transforma.
Arrepender-se é esforçar-se por se transformar. Nesta vida e em vidas subseqüentes a esta. Que possamos sempre nos refugiar nas Três Jóias: Buda, Darma e Sanga.
Buda - a pessoa iluminada, sábia, que tudo compreende e atua adequadamente a cada circunstância para minimizar a dor e o sofrimento do mundo - para libertar todos os seres dos medos e sofrimentos
Darma - a lei verdadeira, os ensinamentos superiores que nos levam à libertação
Sanga - a comunidade de praticantes, de seres que se propõem a viver com sabedoria e compaixão, uma vida ética e poder viver e morrer com tranquilidade.
É uma oportunidade preciosa poder rever sua própria vida e saber se compreender, se amar e se perdoar. A si mesma e aos outros. Todas as experiências de nossa vida e de nossa morte são a tapeçaria do universo - hoje até chamado de multiverso. Múltiplos universos convergentes e divergentes.
É preciso fazer o arrependimento. Temos um verso:
"Todo o carma prejudicial alguma vez cometido por mim
Devido á minha ganância, raiva e ignorância
Nascido de meu corpo, boca e mente
Agora, de tudo, eu me arrependo"
Este arrependimento, quase como um "mea culpa" cristão, purifica, liberta, transforma.
Arrepender-se é esforçar-se por se transformar. Nesta vida e em vidas subseqüentes a esta. Que possamos sempre nos refugiar nas Três Jóias: Buda, Darma e Sanga.
Buda - a pessoa iluminada, sábia, que tudo compreende e atua adequadamente a cada circunstância para minimizar a dor e o sofrimento do mundo - para libertar todos os seres dos medos e sofrimentos
Darma - a lei verdadeira, os ensinamentos superiores que nos levam à libertação
Sanga - a comunidade de praticantes, de seres que se propõem a viver com sabedoria e compaixão, uma vida ética e poder viver e morrer com tranquilidade.
Uma de minhas alunas, paciente oncológica terminal, só morreu depois
que eu a visitei e murmurei em seus ouvidos o poema do arrependimento e o
refúgio nos Três Tesouros, acima mencionados.
Parece que precisamos desse ritual, desse conforto, desse carinho.
Alguém que nos acompanhe até o final, acompanhe com respeito, não apenas com lástimas, não com o egocentrismo de "eu estou perdendo alguém", mas sem esse "eu", apenas acompanhar e se despedir.
Quando Xaquiamuni Buda estava morrendo, aos oitenta anos de idade, doente, disse a seus alunos e suas alunas:
"Não se lamentem. Tudo que começa termina. Não é meu corpo que vocês amam, mas o Darma, a Lei Verdadeira - esta sim, que liberta e salva.
Assim sendo, façam do Darma o seu Mestre e eu viverei para sempre."
(Parinirvana Sutra)
Parece que precisamos desse ritual, desse conforto, desse carinho.
Alguém que nos acompanhe até o final, acompanhe com respeito, não apenas com lástimas, não com o egocentrismo de "eu estou perdendo alguém", mas sem esse "eu", apenas acompanhar e se despedir.
Quando Xaquiamuni Buda estava morrendo, aos oitenta anos de idade, doente, disse a seus alunos e suas alunas:
"Não se lamentem. Tudo que começa termina. Não é meu corpo que vocês amam, mas o Darma, a Lei Verdadeira - esta sim, que liberta e salva.
Assim sendo, façam do Darma o seu Mestre e eu viverei para sempre."
(Parinirvana Sutra)
Mãos em prece,
Monja Coen.
Impermanência
Impermanência
A prática e entendimento da
impermanência não é apenas outra descrição de realidade. É uma ferramenta que
ajuda-nos em nossa transformação, cura e emancipação. Impermanência significa
que tudo muda e que nada permanece o mesmo em dois momentos sucessivos. E
embora as coisas mudem a todo momento, elas ainda não podem ser descritas com
precisão como as mesmas ou como diferente do que eles eram a um momento atrás.
Quando hoje nós tomamos banho em um
rio que nos banhamos ontem, é o mesmo rio? Heráclito disse que nós não podemos
entrar duas vezes no mesmo rio. Ele tinha razão. A água no rio hoje é
completamente diferente da água que nós tomamos banho ontem. Ainda é o mesmo
rio. Quando Confúcio estava na margem de um rio assistindo seu fluxo, ele
disse: "Oh, flui assim dia e noite, sem fim".
O insight da impermanência ajuda-nos
a ir além de todos os conceitos. Ajuda-nos a ir além de mesmo e diferente,
vindo e indo. Ajuda-nos a ver que o rio não é o mesmo rio mas também não é
diferente. Nos mostra que a chama que acendemos na vela antes de dormir não é
a mesma chama queimando na manhã seguinte. A chama não é duas chamas diferentes,
mas também não é a mesma chama.
Nós estamos freqüentemente tristes e
sofremos muito quando as coisas mudam, mas a mudança e a impermanência têm um
lado positivo. Graças à impermanência, tudo é possível. A própria vida é
possível. Se um grão de milho não for impermanente, nunca pode ser transformado
em um talo de milho. Se o talo não fosse impermanente, nunca poderia nos
proporcionar a espiga de milho que nós comemos. Se sua filha não for
impermanente, ela não pode crescer se tornando uma mulher. Então seus netos
nunca vão se manifestar. Portanto em vez de se queixar da impermanência, nós
deveríamos dizer, "Acolhida calorosa e vida longa a impermanência."
Nós deveríamos estar contentes. Quando nós pudermos ver o milagre da
impermanência, nossa tristeza e sofrimento passarão.
A impermanência também deveria ser
entendida a luz do inter-ser. Porque todas as coisas inter-são, elas
constantemente estão influenciando umas as outras. É dito que as asas de uma
borboleta que agitam em um lado do planeta podem afetar o tempo no outro lado.
As coisas não podem ficar do mesmo modo porque elas são influenciadas por tudo
mais.
Todos
nós podemos entender a impermanência
com nosso intelecto, mas isto não é, contudo a verdadeira compreensão.
Apenas nosso
intelecto não nos conduzirá a liberdade. Não nos conduzirá ao
esclarecimento.
Quando somos sólidos e concentramos, nós podemos praticar o olhar em
profundidade. E quando nós olhamos profundamente e vemos a natureza da
impermanência, nós
podemos ficar concentrados neste insight profundo. Isto é como o insight
da
impermanência se torna parte de nosso ser. Se torna nossa experiência
diária.
Nós temos que manter o insight da impermanência para poder ver e viver a
impermanência todo o tempo. Se nós pudermos usar impermanência como um
objeto
de nossa meditação, nós nutriremos a compreensão da impermanência de tal
modo
que ela viverá diariamente em nós. Com esta prática, a impermanência se
torna uma chave que abre a porta de realidade.
Nós também não podemos descobrir o
insight da impermanência por só um momento e depois encobri-lo e ver tudo
novamente como permanente. A maior parte do tempo nós nos comportamos como se
nossos filhos sempre fossem estar em casa conosco. Nós nunca pensamos que em
três ou quatro anos eles nos deixarão para se casar e ter as próprias famílias.
Assim nós não valorizamos os momentos que nossos filhos estão conosco.
Eu conheço muitos pais cujos filhos aos
dezoito ou dezenove anos deixam a casa e vão morar sozinhos. Os pais perdem os
seus filhos e se sentem muito arrependidos. Os pais não valorizaram os momentos
que eles tiveram com os seus filhos. O mesmo é verdade para maridos e esposas.
Você pensa que seu cônjuge estará lá por toda sua vida, mas como você pode
estar tão seguro? Nós realmente não temos nenhuma idéia de onde nossos
parceiros estarão em vinte ou trinta anos ou mesmo amanhã. É muito importante
se lembrar da prática da impermanência diariamente.
Quando alguém diz algo que te dá
raiva e você deseja que ele fosse embora, por favor olhe profundamente com os
olhos da impermanência. Se ele ou ela tivesse ido, o que você sentiria realmente?
Você estaria contente ou se lamentaria? Praticando este insight pode ser muito
útil. Há um gatha, ou poema que nós podemos usar para nos ajudar:
Com raiva na última dimensão
Eu fecho meus olhos e
olho profundamente.
Trezentos anos no futuro
Onde você estará e onde
eu estarei?
Quando nós estamos bravos, o que
fazemos normalmente? Nós gritamos, e tentamos culpar a outra pessoa por nossos
problemas. Mas olhando para raiva com os olhos da impermanência, nós podemos
parar e podemos respirar. Com raiva do outro na dimensão última, nós fechamos
nossos olhos e olhamos profundamente. Nós tentamos ver trezentos anos no
futuro. Como estará você? Como estarei eu? Onde você estará? Onde eu estarei?
Nós só precisamos inspirar e expirar, olhar para nosso futuro e o da outra
pessoa. Nós não precisamos olhar para trezentos anos a frente. Poderia ser
agora, cinqüenta ou sessenta anos no futuro quando nós estaremos falecidos.
Olhando para o futuro, nós vemos que
a outra pessoa é muito preciosa para nós. Quando nós sabemos que nós podemos a
perder a qualquer momento, nós não ficamos mais bravos. Nós queremos abraçar o
outro e dizer: "Como é maravilhoso você ainda estar vivo. Eu estou tão
contente. Como eu poderia estar bravo com você? Nós dois vamos morrer em algum
dia, e enquanto nós ainda estamos vivos e juntos é bobagem ficar bravo um com o
outro.”
A razão pela qual nós somos tolos o bastante
para nos fazer sofrer e fazermos a outra pessoa sofrer é que nós esquecemos que
nós e a outra pessoa somos impermanentes. Em algum dia quando nós morrermos,
perderemos todas nossas posses, nosso poder, nossa família, tudo. Nossa
liberdade, paz e alegria no momento presente são as coisas mais importantes que
nós temos. Mas sem um entendimento desperto da impermanência, não é possível
estar contente.
Algumas pessoas nem mesmo querem
olhar para uma outra pessoa quando a pessoa está viva, mas quando a pessoa
morre, eles escrevem obituários eloqüentes e fazem oferecimentos de flores.
Naquele momento a pessoa morreu e não pode mais desfrutar da fragrância das
flores. Se nós realmente entendemos e nos lembramos que aquela vida era
impermanente, nós faríamos tudo o que podíamos para fazer a outra pessoa feliz
aqui mesmo e agora mesmo. Se nós passamos vinte e quatro horas com raiva de
nosso amado, é porque nós somos ignorantes sobre a impermanência.
"Com raiva na dimensão
última/ Eu fecho meus olhos." Eu fecho meus olhos para praticar
visualização do meu amado cem ou trezentos anos no futuro. Quando você se
visualiza e ao seu amado trezentos anos no futuro, se sente muito feliz de vocês
estarem vivos hoje. Você abre seus olhos e toda sua raiva se foi. Você abre
seus braços para abraçar a outra pessoa e você pratica: "Inspirando você
está vivo, expirando eu estou tão contente." Quando você fechar seus olhos
para visualizar a outra pessoa trezentos anos no futuro, você está praticando a
meditação na impermanência. Na dimensão última, não existe raiva.
Ódio também é impermanente. Embora
nós possamos ser consumidos pelo ódio neste momento, se nós soubermos que o
ódio é impermanente, nós podemos fazer algo para mudar essa situação. Da mesma
forma que com a raiva, nós fechamos nossos olhos e pensamos, onde nós estaremos
em trezentos anos? Com a compreensão do ódio na dimensão última, ele pode
evaporar em um momento.
Porque somos ignorantes e nos
esquecemos de impermanência, nós não nutrimos nosso amor corretamente. Quando
nos casamos, nosso amor era grande. Nós pensávamos que se nós não tivéssemos um
ao outro não poderíamos viver nem mais um dia. Porque não soubemos praticar a
impermanência, depois de um ou dois anos nosso amor se tornou frustração e
raiva. Agora desejamos saber como poderemos sobreviver mais um dia tendo que
conviver com a pessoa que amamos tanto no passado. Nós decidimos que não há
nenhuma alternativa: queremos o divórcio. Se nós vivermos com a compreensão da
impermanência, cultivaremos e nutriremos nosso amor. Só assim ele durará. Você
tem que nutrir e cuidar seu amor para ele crescer.
(Do livro “No death, no fear” – Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
Extraído em http://sangavirtual.blogspot.com
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Livro do Mês - Fevereiro
Detalhes
“Se você for um poeta, verá claramente que há uma nuvem
flutuando nesta folha de papel. Sem uma nuvem, não haverá chuva; sem
chuva, as árvores não podem crescer e, sem árvores, não podemos fazer
papel. (...) Se olharmos mais profundamente ainda, poderemos ver os
raios do sol, o lenhador que cortou a árvore, o trigo que o alimentou na
forma de pão e o pai e a mãe do lenhador. Sem todas estas coisas, esta
folha de papel não pode existir. Na verdade, não podemos apontar para
nada que não esteja aqui – o tempo, o espaço, a terra, a chuva, os
minerais e o solo, os raios de sol, a nuvem, o rio, o calor e a mente.
Todas as coisas coexistem nesta folha de papel. Assim podemos afirmar
que a nuvem e a folha de papel "intersão". Nós não podemos ser apenas
nós mesmos; nós temos de interser com todas as demais coisas."
O "Sutra do Coração" ou "Prajnaparamita Sutra"* é considerado a
essência do ensinamento budista. Ele é recitado diariamente nos templos
Mahayana e centros de prática ao redor do mundo inteiro. Esta tradução e
comentários são fruto de mais de 40 anos de prática e estudo monástico.
Em seu inigualável estilo suave e lúcido, Thich Nhat Hanh desvenda,
neste livro único e histórico, o coração da compreensão da
espiritualidade e de uma vida verdadeiramente desperta e significativa.
"Thich Nhat Hanh nos mostra a interconexão entre a nossa paz pessoal, íntima, e a paz na Terra."
S.S. Dalai Lama *
* O Sutra está incluído no livro traduzido para o português,
juntamente com o poderoso mantra transmitido por Avalokitesvara (O Buda
da Compaixão).
Outras informações e adquirir: http://www.bodigaya.com.br/index.php/
Ensinamento para as crianças
Sidarta quietamente fez um gesto para que as crianças
sentassem e disse: “Vocês todas são crianças inteligentes e eu estou certo que
serão capazes de entender e praticar as coisas que eu partilharei com vocês. O
Grande Caminho que eu descobri é profundo e sutil, mas qualquer um desejando
aplicar seu coração e mente pode entendê-lo e segui-lo.”
“Quando você, criança, descasca uma tangerina, pode comê-la
com consciência ou sem consciência. O que significa comer uma tangerina com
consciência? Quando você está comendo uma tangerina está consciente que está
comendo uma tangerina. Você experimenta totalmente sua adorável fragrância e
gosto doce. Quando você descasca a tangerina, sabe que está descascando a
tangerina; quando remove um gomo e o coloca em sua boca, sabe que está
removendo um gomo e o colocando na boca. Quando experimenta sua adorável
fragrância e gosto doce, está consciente que está experimentando seu gosto doce
e adorável fragrância.”
“A tangerina que Nandabala me ofereceu tem nove gomos. Eu
comi cada gomo em plena consciência e vi o quão preciosos e maravilhosos eram.
Eu não esqueci a tangerina, e portanto a tangerina era real, a pessoa comendo a
tangerina era real. Isto é que é comer uma tangerina de forma consciente.”
“Crianças o que significa comer uma tangerina sem plena
consciência? Quando você está comendo uma tangerina, não sabe que está comendo
uma tangerina. Não experimenta a adorável fragrância e o gosto doce da
tangerina. Quando você descasca a tangerina, não sabe que está descascando uma
tangerina. Quando remove um gomo e põe na sua boca, não sabe que está removendo
um gomo e o colocando em sua boca. Quando sente o cheiro da fragrância ou o
gosto de uma tangerina, não sabe que está sentindo o cheiro da fragrância ou o
gosto da tangerina. Ao comer uma tangerina deste modo, você não pode apreciar
sua preciosa e maravilhosa natureza. Se você não está consciente que está
comendo uma tangerina, a tangerina não é real. Se a tangerina não é real, a
pessoa que a está comendo também não é real. Crianças, isto é comer uma
tangerina sem plena consciência.”
“Crianças, comer uma tangerina em plena consciência
significa que enquanto você come está verdadeiramente em contato com ela. Sua
mente não está correndo atrás dos pensamentos de ontem ou de amanhã, mas está
habitando totalmente no momento presente. A tangerina está verdadeiramente presente.
Vivendo com plena consciência da mente significa morar no momento presente, sua
mente e corpo habitando realmente no aqui e agora.”
“Uma pessoa que pratica a plena atenção pode ver coisas na
tangerina que outros não são capazes de ver. Uma pessoa consciente pode ver a
árvore de tangerina, o florescer da tangerina na primavera, os raios de sol e
chuva que nutriram a tangerina. Olhando profundamente, a pessoa pode ver dez
mil coisas que fizeram a tangerina possível. Olhando para a tangerina, uma
pessoa que pratica plena atenção pode ver as maravilhas do universo e como
todas as coisas interagem umas com as outras. “
“Crianças, nossa vida diária é justamente como a tangerina.
Como a tangerina é dividida em gomos, cada dia é dividido em 24 h. Uma hora é
como um gomo da tangerina. Viver todas as 24hs do dia é como comer todos os
gomos da tangerina. O caminho que eu encontrei, é o caminho de viver cada hora
do dia em plena atenção, mente e corpo sempre habitando no momento presente. O
oposto é viver no esquecimento, não saber que estamos vivos. Não experimentamos
totalmente a vida porque nossa mente e corpo não estão habitando no aqui e
agora.”
Gautama olhou para Sujata e disse seu nome.
“Sim, Mestre?” Sujata juntou as palmas das mãos.
“Você acha que uma pessoa que vive em plena atenção fará
muitos erros ou poucos?”
“Respeitável Mestre, uma pessoa que vive em plena atenção
fará menos erros. Minha mãe sempre me diz que uma menina deveria prestar
atenção à maneira como anda, fica em pé, fala, ri e trabalha de forma a evitar
pensamentos, palavras e ações que possam causar lamento para ela mesma e para
os outros.”
“Isso mesmo, Sujata. Uma pessoa que vive em plena atenção
sabe o que está pensando, dizendo e fazendo. Tal pessoa pode evitar
pensamentos, palavras e ações que causam sofrimento para ela mesma e para os
outros.”
“Crianças, viver em plena atenção significa viver no momento
presente. Uma pessoa é consciente do que está acontecendo dentro dela e ao seu
redor. A pessoa está em contato direto com a vida. Se a pessoa continua a viver
desse modo, será capaz de profundamente entender a si mesma e ao que está a sua
volta. Entendimento leva à tolerância e ao amor. Quando todos os seres se
entenderem, eles se aceitarão e se amarão. Então não haverá tanto sofrimento no
mundo. O que você pensa Svasti? As pessoas podem amar se elas são incapazes de se
entender?”
“Respeitável Mestre, sem entendimento, o amor é bem difícil.
Me lembra algo que aconteceu com minha irmã Bhima. Uma vez ela chorou a noite
toda até que minha irmã Bala perdeu a paciência e deu umas palmadas nela. Isso
apenas fez Bhima chorar mais. Eu peguei Bhima e percebi que ela estava com
febre. Tinha certeza que sua cabeça deveria estar doendo por causa da febre. Chamei
Bala e disse a ela que colocasse a mão na testa de Bhima. Quando ela fez isso
entendeu de uma vez porque Bhima estava chorando.Seu olhos amoleceram e ela
pegou Bhima nos seus braços e cantou para ela com amor. Bhima parou de chorar
mesmo ainda com febre. Respeitável mestre, penso que isto aconteceu porque Bala
entendeu o porque de Bhima estar chateada. E assim penso que sem entendimento,
o amor não é possível.”
“Isso mesmo Svasti! O amor só é possível quando há
entendimento. E somente com amor pode haver aceitação. Pratiquem viver em plena
atenção crianças e vocês aprofundarão seu entendimento. Serão capazes de
entender a vocês mesmos, às outras pessoas e todas as coisas. E vocês terão
corações de amor. Este é o caminho que eu descobri.”
Svasti juntou as palmas das mãos. “Respeitável Mestre,
podemos chamar este caminho do ‘Caminho da Plena Atenção’?”
Sidarta sorriu “Claro. Podemos chamá-lo de o Caminho da
Plena Atenção. Eu gosto muito. O Caminho da Plena Atenção leva ao perfeito
Despertar.”
Sujata juntou as palmas das mãos e pediu permissão para
falar. “Você é aquele que despertou, aquele que mostra como viver em plena
atenção. Podemos chama-lo de ‘O Desperto’?”
Sidarta fez que sim com a cabeça. “Isto me agradaria muito.”
Os olhos de Sujata brilharam. Ela continuou “Desperto em
Magadhi é pronunciado como budh. Uma pessoa desperta deveria ser chamada
Buda em Magadhi. Podemos chamá-lo de Buda?”
Sidarta fez que sim com a cabeça. Todas as crianças estavam
extasiadas. Nalaka, um menino de 14 anos, o mais velho do grupo falou: “Respeitável
Buda, estamos muito felizes de receber seus ensinamentos sobre o Caminho da
Plena Atenção. Sujata me disse como você meditou sobre esta árvore nos últimos
6 meses e como na última noite obteve o Grande Despertar. Respeitável Buda,
esta árvore é a mais bonita da floresta. Podemos chama-la de ‘Árvore do
Despertar’, a ‘Árvore Bodhi’? A palavra bodhi divide a mesma raiz da
palavra Buda e também significa despertar.”
Gautama fez que sim com a cabeça. Ele também estava
deleitado. Ele não tinha adivinhado que durante seu encontro com as crianças o
caminho e mesmo a grande árvore receberiam nomes especiais.
(Traduzido do livro “Old Path White Clouds” sobre a vida do
Buda – Thich Nhat Hanh)
Texto extraído em: http://sangavirtual.blogspot.com
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Livro do Mês - Janeiro
Detalhes
A ciência vem comprovando a ampla gama de benefícios que a meditação traz aos seus adeptos. Redução do estresse e da depressão, incremento da produtividade e eficiência, melhora da concentração e do humor, prevenção e cura de doenças ou maior equilíbrio da saúde, estão entre os frutos desta prática milenar.
A ciência vem comprovando a ampla gama de benefícios que a meditação traz aos seus adeptos. Redução do estresse e da depressão, incremento da produtividade e eficiência, melhora da concentração e do humor, prevenção e cura de doenças ou maior equilíbrio da saúde, estão entre os frutos desta prática milenar.
A mais sublime consequência da meditação, porém, traduz-se através da
paz emocional, dos vislumbres de compreensão, do desenvolvimento da
sabedoria e, sobretudo, do chamado “estado desperto” alcançado por seu
intermédio. O ápice da evolução interior do ser humano, portanto,
estaria intimamente associado à constante consecução da prática da
meditação. Nesse sentido, nas palavras dos grandes sábios budistas, ela é
denominada de “A Grande Mãe dos Budas de todos os tempos”.
“O Guia da Prática de Meditação e Mente Atenta (Mindfulness)”
desvenda o caminho da meditação conforme palmilhado por todos os
mestres da humanidade. Nesta obraextremamente oportuna, fundamentada em
ensinamentos universais, aprendemos a acessar a essência natural da
mente, repleta de harmonia, bem-estar e felicidade.
Meditação silenciosa, caminhando, com canto de mantras, sorrindo, abraçando, bem como a maravilhosa prática de Mente Atenta ou Mindfulness,
a qual nos instiga a “viver o momento presente”, são explicadas em
detalhes, tornando tais atividades acessíveis a todos os interessados,
quer sejam iniciantes ou veteranos.
“O banho purifica o corpo. A meditação purifica a mente. Quando uma
pessoa atinge esse estado de integridade, de inteireza
mente-corpo-coração juntos no momento presente, ela se conecta a todos
os seres... ela restabelece, conscientemente, uma real irmandade
cósmica, desde os átomos até as galáxias.” – Dr. Enio Burgos.
Livro adotado pela Associação Meditar: www.associacaomeditar.org
Os meios são o fim
Tempos atrás nós discutimos sobre
meios e fins e aprendemos que na prática do Budismo não há nenhuma distinção
entre meios e fins, e que os meios deveriam ser considerados como os fins por
si mesmos. Esta é uma prática muito intensa e nós deveríamos nos apoiar no
Sangha para fazer isto.
Quando você vai para o Salão de Buda
ou para o Salão de Dharma sabe que tem algo a fazer lá: meditação sentada,
ouvir uma palestra de Dharma ou limpar o salão, mas ir para lá também é uma
prática. É solicitado que vocês limpem o salão de meditação com consciência, é
esperado que vocês se sentem belamente enquanto escutam a uma palestra de
Dharma, é esperado que vocês se concentrem, estejam atentos durante sua
meditação sentada, e assim a prática acontece no salão de meditação, mas
deveríamos saber que a prática também acontece durante sua caminhada até ali.
Eis por que deveríamos tentar estar
praticando durante o tempo em que caminhamos para o salão de meditação, e se
você for bem sucedido em todo passo que você der, a meditação sentada, a
palestra de Dharma ou a limpeza do salão de meditação serão também um sucesso. Como
temos o hábito de fazer as coisas sem eficiência, tendemos a negligenciar,
menosprezar o valor dos meios.
Nesta época no Outono, eu normalmente
limpo as folhas do eremitério. Eu faço isto a cada três dias mais ou menos e
uso um ancinho. Eu sei que limpar as folhas significa ter um caminho limpo para
caminhar, fazer meditação caminhando e assim por diante. Eu corro diariamente
pelo menos duas vezes - eu pratico a meditação correndo e limpo as folhas deste
modo, conscientemente. Limpar as folhas não significa apenas ter um caminho
limpo para correr ou caminhar, mas também significa simplesmente gostar de
limpar as folhas. Assim, eu seguro o ancinho de tal modo que possa estar
contente e sólido durante o tempo de usar o ancinho. E todo movimento que faço,
quero fazê-lo como um ato de iluminação, um ato de alegria, um ato de paz,
assim eu não tenho pressa, porque vejo que o ato de limpar é tão maravilhoso
quanto ter um caminho limpo. Eu não estaria satisfeito com menos do que isso.
Todo golpe que eu dou deve trazer alegria, solidez e liberdade para mim. Devo
ser completamente eu mesmo durante o ato de limpar as folhas, e limpar as
folhas, deste modo não será mais um meio para se chegar a um fim chamado
"ter um caminho limpo".
E você não precisa esperar por muito
tempo; se puder dar um golpe assim, um movimento assim, investindo
completamente você mesmo no ato de limpar as folhas, então imediatamente será
recompensado. Essa é uma obra de arte perfeita que você faz porque cada
movimento é uma obra de arte.
O mesmo é verdade quando você
pratica a caminhada. Cada passo que dá deveria ser uma obra de arte perfeita,
cada passo pode lhe trazer solidez, soberania, pois você não caminha como um
escravo, caminha como uma pessoa livre. Caminha como um Buda porque quis ser um
discípulo, uma filha ou um filho do Iluminado. Você quer ser a sua continuação,
eis por que é capaz de dar um passo com soberania, estando completamente no
controle si mesmo. Você está completamente presente no aqui e agora, e desfruta
daquele passo. Assim, a meditação andando não é chegar ao salão de meditação.
Chegar ao salão de meditação é o que você quer, mas você quer mais do que isso,
porque alcança o salão de meditação várias vezes ao dia e às vezes dez ou vinte
chegadas como esta não fazem nenhuma diferença. Assim, um passo é o bastante
para você chegar. Eu cheguei! Com um passo.
Essa é a nossa prática, mas há uma
energia de hábito que lhe impede de fazer assim. Você está acostumado a correr
por acreditar que a felicidade não é possível aqui e agora, a felicidade só é
possível no futuro. Este tipo de convicção, este tipo de energia de hábito tem
estado presente por muito tempo, transmitido por muitas gerações de
antepassados e vir à Plum Village é ter uma chance de perceber isto; que você é
governado por sua energia de hábito, pela tendência de correr todo o tempo.
Você não é capaz de estar no aqui e no agora para tocar as maravilhas da vida
que estão disponíveis.
Nós temos muitas chances para
praticar. Sabemos que lavamos roupas, lavamos pratos, varremos o solo, cuidamos
do jardim, há muitas coisas que vocês podem fazer, mas não façam isto do modo
como fazem isto no mundo. Façam como uma prática, uma boa prática, e vocês
serão recompensados imediatamente, saberão que estão lidando com sua energia de
hábito. A energia de hábito nos diz: "rápido, rápido, vá, rápido, rápido,
termine logo! O prazo final está próximo!", mas a prática está lhe dizendo
o oposto: "não corra, desfrute, o aqui e o agora é a única coisa que você
possui, a felicidade não pode ser possível fora do aqui e do agora", assim
você tem duas coisas que contradizem uma à outra. Eis por que a palavra
"treinamento" significa superar a energia de hábito lentamente e cultivar
outra energia de hábito, que é boa. A energia de hábito que você quer cultivar
é a capacidade de estar no aqui e agora, e viver todos os momentos de sua vida
diária profundamente. Limpe as folhas, desfrute! Faça o café da manhã! Desfrute
completamente deste ato de arte culinária. Lave os pratos! Desfrute
completamente o ato de lavá-los.
Diariamente no Mosteiro eu lavo os
pratos, diariamente eu fervo o arroz e cuido das flores, das plantas, e minha prática
é de desfrutar todos os minutos enquanto estou fazendo estas coisas. Sim,
escrever um poema é maravilhoso, escrever um artigo é maravilhoso, dar uma
palestra de Dharma é maravilhoso, mas é igualmente maravilhoso cuidar do
arbusto, cuidar das plantas, lavar os pratos e assim por diante. Por ser muito
enriquecedor, muito recompensador, isto pode trazer muita paz, alegria e
solidez para você.
Nós sabemos que a felicidade não
seria possível se não tivéssemos nenhuma estabilidade e solidez, porque sem o solo
da estabilidade e solidez nenhuma paz real, nenhuma felicidade real poderia ser
possível. Eis porque aprender a limpar as folhas, aprender a varrer o solo,
aprender a lavar os pratos é muito importante. Não diga que a meditação sentada
é mais importante ou que a meditação caminhando é mais importante, ou ouvir uma
palestra de Dharma é mais importante. Você escuta a palestra de Dharma para
poder limpar as folhas. Você escuta a palestra de Dharma para poder lavar os
pratos, corretamente e sabendo desfrutar isto.
Em Plum Village nós temos a vantagem de
ter muitos irmãos e irmãs que fazem o mesmo e quando vemos um deles praticando
nos sentimos apoiados. Eles não fazem nada demais. Eles apenas praticam, não
dizem nada a nós; eles simplesmente fazem. E quando nós os vemos agir, temos
uma chance de nos voltar para nós mesmos e fazer isto também.
A comunidade de prática é um grande
presente, como o raio de sol. Muitos franceses talvez tenham um dia de sol hoje
mas talvez porque muitos não tenham a capacidade de habitar no aqui e agora, o
raio de sol não significa muito para eles. Mas se você sabe como inspirar e
ficar consciente do raio de sol, terá um tipo diferente de sol. O sol existe
para você mas não para esses que estão tão ocupados, e que perdem tanto tempo
nas suas preocupações, no passado, no futuro. Pressupomos que a lua exista para
todos mas há alguns de nós que jamais vêem a lua, nunca obtêm algo da lua,
nunca desfrutam a lua.
Nós vivemos juntos em Plum Village durante uma semana, durante um mês ou três meses, durante um ano, e praticamos
juntos. Existem alguns de nós que estão bastante contentes, contudo existem
alguns de nós que não estão tão contentes; o mesmo ambiente, a mesmo Sangha, a
mesma prática e ainda assim recebemos diferentemente o volume de felicidade,
paz, estabilidade e alegria. E o que faz esta diferença? A diferença é nossa
capacidade de pôr em prática o ensinamento que nos é dado. O Buda foi bastante
claro nisto, a vida só está disponível no aqui e agora, com todas suas
maravilhas. Se você continuar correndo, estas maravilhas da vida não serão
suas. Assim, pare! Sorria ao sol, sorria à lua, sorria para seus irmãos ou
irmãs e especialmente, sorria para você.
Reconheça que você está presente.
Você precisa ser nutrido pela paz, pela alegria. Você tem se privado destes
elementos. É você mesmo que se privou da paz, alegria, nutrição e cura. Agora o
Dharma existe para lhe ajudar a parar este curso de vida. Olhe-se, sorria para
você, seja amável com você, trate-se com a prática. Aprenda a caminhar, aprenda
como respirar e sorrir, aprenda a limpar as folhas no jardim do pátio. É muito
importante. O Reino de Deus, a Terra do Buda está aqui mesmo para você tocar.
Se você observou os monges e as
monjas, se os observou em Plum Village, notará que enquanto eles caminham não
falam, quando falam eles param para falar e escutar, e depois de falar e
escutar, eles retornam ao seu andar. Por que eles fazem assim? Porque quando
eles falam e escutam, querem investir 100% de si no ato de falar e escutar. Eis
porque eles não falam enquanto estão caminhando; eles querem investir 100% de
si no ato de andar. Eles querem dar passos reais, passos que podem trazer
estabilidade para eles, solidez, liberdade porque sabem que a estabilidade, a
solidez é o solo da felicidade, assim eles caminham para ao mesmo tempo
cultivar e desfrutar disto.
Eis porque, se você vier a Plum
Village e seguir este tipo de exemplo, se unirá à prática. Não falar durante o
caminhar não é uma regra porque nós não queremos ser vítimas de regras, não
queremos absolutamente nenhuma regra, simplesmente queremos praticar. Se não
falamos, é porque queremos praticar. Não é que falar seja um crime. Mas se você
falar durante a prática, estará destruindo-a.
Nos ensinamentos do Buda, estar
preso a regras é algo que vocês não são encorajados a fazer. Deveríamos olhar
para isto como uma prática e não como regras, como os dez preceitos do
noviciado que nós temos aqui e que vocês ouviram ontem. Eles não são regras
para o noviço. Elas não existem para restringir a liberdade e a felicidade
dele. Elas existem para ajudá-lo a levar uma vida de noviço feliz. Porque estes
preceitos devem ser considerados como sendo a prática da consciência plena e se
vocês praticarem adequadamente preservarão sua liberdade, sua beleza, sua
felicidade. Se vocês pensam que estas dez coisas são regras às quais tem que se
submeter, tem que se render, vocês não entenderam, vocês não perceberam o
sentido real; eis porque o Buda disse: não seja escravo de regras e rituais.
Rituais e regras, nós não precisamos deles; precisamos apenas da prática.
Quando entramos no salão de Dharma
todo o mundo se levanta e une as palmas. Isso não é uma regra, é a prática. Quando
o professor entra no salão, não é afetado pelo respeito que é mostrado a ele.
Ele também pratica caminhando, conscientemente, a prática do andar atento é a
sua prática. Andar conscientemente é a sua prática, e o levantar-se, respirar e
mostrar respeito são as práticas de vocês. Estas duas coisas são igualmente
importantes. E se vocês olharem isto como um ritual, estarão errados. Se
olharem isto como uma regra, estarão errados, vocês devem ver isto como sua
prática, e a boa prática sempre pode ser reconhecida. Quando o professor
caminha, ele deveria ser uma pessoa livre, não é afetado pelo orgulho, complexo
de arrogância, esta é sua prática. Sua prática é ser respeitoso com o
professor, gostar de se levantar desta forma, inspirar, expirar, sorrir e tocar
as muitas gerações de professores na história. Quando você está em contato com
seu professor, você está em contato com o professor de seu professor, o
professor de sua professora, e você está em contato com muitas gerações de
professores, está em contato com o Buda, portanto esta é sua prática.
Eis porque você não reclama que deve
se levantar muito cedo e que o professor está caminhando muito lentamente. O
professor vive a prática dele e você a sua, todo o mundo está usufruindo disto,
e você saberá se sua prática está correta ou não. Você sabe por si se a prática
o está fazendo feliz, calmo, sólido. Você sabe que o professor cuida da prática
dele e você da sua, e nós não deveríamos olhar isto como uma regra ou um
ritual, caso contrário, estaremos presos a formas de rituais e regras, e o Buda
é contra rituais, meros rituais e regras.
Quando você segura um copo de água e
a bebe conscientemente, o ato é tão bonito e se parece com um ritual, certo?
Mas aquele que está segurando o copo e está bebendo não tem qualquer intenção
de fazer disto um ritual, uma performance. Ele simplesmente gosta de segurar o
copo e beber. Mas porque a plena consciência está lá, muito profunda, muito
forte, assim o ato se parece um ritual, mas não é ritual, é a prática.
Quando você se curva assim e sente
que sua mente e seu corpo estão unidos em concentração, em plena consciência, e
sente que está totalmente presente orientado para algo bom, verdadeiro e
bonito, a natureza da iluminação, a natureza do despertar em si, você recebe
algo, usufrui disto e não pensa nisto como um ritual. Mas se você faz isto como
uma máquina e quando vê pessoas simplesmente as imita sem entender, isso é um
ritual, é uma coisa ridícula de fazer, completamente vazia. Este tipo de ritual
está completamente vazio e nós não deveríamos fazer assim.
Assim em grandes retiros na América
Norte temos sempre pessoas novas, às vezes 50 ou 60% das pessoas que se juntam
ao retiro são pessoas novas e elas ficam envergonhadas, elas pensam nisto como
um ritual, elas não estão confortáveis. Eis porque eu sempre começo dizendo, se
curvar ou não se curvar, esta não é a questão! Curvar-se é um ritual, assim não
fique preso pelo ritual. Prática. Se você pensar que fazer isto lhe trará
concentração, insight e reverência, isso então irá lhe fazer bem, isso o fará
feliz e então você fará isto e estará livre de rituais, livre de regras.
Assim os dez preceitos do noviciado
são práticas que se direcionam para ajudar o noviço a ser livre, estar
contente, ser sólido e se você considerar os preceitos como algo que limita sua
liberdade, está errado, estará preso a rituais, será preso a regras e isso é
contra o espírito budista.
(Discussão de Dharma ministrada por
Thich Nhat Hanh em Plum Village em 5 de dezembro de 1999)
(Transcrito e editado por Carol
Fegan, Chan An Cu, Traduzido ao Português por Claudio Miklos)
Texto extraído em: http://sangavirtual.blogspot.com
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