A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

sábado, 31 de dezembro de 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

A oração do Pai Nosso: um paralelo entre budismo e cristianismo



Por Thich Nhat Hanh


A doutrina da Igreja Ortodoxa afirma claramente que todo ser humano tem a natureza divina de Deus e partilha da bondade divina de Deus. É o mesmo conceito budista sobre a nossa natureza de Buda. Ainda que pareçam diferentes, os ensinamentos cristãos e budistas têm muito em comum.

O canto budista "Teu discípulo se inclina com respeito".

Teu discípulo por várias existências, por muitos kalpas, ficou preso nos obstáculos do carma, ânsia, raiva, arrogância, ignorância, confusão e erros, e hoje, graças ao conhecimento que tem do Buda, reconhece seus erros e começa sinceramente outra vez.

Agora, vejamos a oração do Pai Nosso, uma oração bem conhecida na tradição cristã:

Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.


Se olharmos em maior profundidade, veremos que com esta oração estamos praticando também o estar em contato com a dimensão última. O que estamos procurando? Estamos procurando algo muito grande. Não estamos pedindo a Deus para que o sol brilhe no dia de nosso piquenique. Não estamos pedindo coisinhas, estamos pedindo o reinado de Deus. Nosso primeiro objetivo na oração é o reino de Deus. Vamos examinar cada um dos incisos desta oração.

Pai nosso que estais nos céus.

Nos céus significa "não no mundo histórico e fenomênico. Ainda que Deus esteja em todas as coisas, não podemos compará-lo com as criaturas que vivem sobre a terra, assim como não podemos comparar a água do mar com a onda, porque uma é a natureza última e a outra é o fenômeno. Podemos comparar uma onda com a outra, mas não podemos comparar a água com a onda. Ele é a natureza última, e não há palavras para nomeá-lo ou descrevê-lo. Podemos chamá-lo de Deus, de Alá, o criador, mas são apenas maneiras de chamá-la. Todas essas expressões e idéias são a nossa tentativa infrutífera de definir Deus. Por isso, quer digamos Deus, Dieu (francês), God (inglês), Thuong De (vietnamita), ou Alá, tudo não passa de nomes, e esses nomes não são fortes o suficiente para conter a realidade maravilhosa que é a dimensão última.

Deus não precisa ser famoso na sociedade humana, como um astro de cinema ou um presidente. Deus não é um saquinho de amendoim a ser disputado. E Deus não quer competir conosco para ser mais famoso do que nós. Para estar em contato com a realidade maravilhosa da dimensão última, temos de ir para além do nome, e só então poderemos encontrar sua verdadeira natureza sagrada. O sutra do Caminho da Virtude diz: "O caminho que ainda pode ser discutido não é ainda o verdadeiro caminho eterno. O nome que pode ser chamado não é ainda o verdadeiro nome eterno".

Santificado seja o vosso nome.

Isto se refere ao tipo de nome, ao nome que não pode ser dito, que não pode ser expresso, sobre o qual não se pode deliberar, não se pode falar, e este é o Deus de verdade.

Venha a nós o vosso reino

A palavra "reino", que empregamos na expressão "o reino de Deus", o reino que Deus Pai preside, é tradução da palavra grega basileia, que tem três significados diferentes. O primeiro é "domínio" ou os "domínios", ou seja, o território sobre o qual Deus governa ou exerce seu reinado. O primeiro sentido é do ponto de vista do sinal. O segundo sentido é "real". Significa a natureza do domínio, sua "reinidade". Este domínio tem a natureza da felicidade, da eternidade, da paz e da alegria. Real é a natureza, e domínio é o sinal. Reino é o sinal e "reinidade" é a natureza. A natureza é nirvana, o sinal é o sinal do não-nascimento da não-morte.

Nisto temos as duas coisas: o sinal e a natureza. O terceiro sentido é "reinado", o ato de reinar, que é a maneira como o domínio e a vida neste domínio podem ser descritos. O domínio pertence à ação. Por isso o domínio pertence à dimensão histórica, a realeza pertence à dimensão última e reinado pertence à dimensão da ação.

A dimensão última é o fundamento do ser. A dimensão histórica é o reino de Deus, ou o mundo fenomênico, o mundo do nascimento e da morte. No mundo do nascimento e da morte, há a presença do nirvana. E finalmente, há a dimensão da ação, a função do reino, que é reinar, governar. A terra que Deus Pai governa. Como pode o povo viver nesta terra de maneira a ter paz, alegria e felicidade? Isto é ação. Seja qual for nossa tradição religiosa, quando rezamos nossa prioridade é chegar à dimensão última, à natureza ainda não nascida ou imorredoura da vida - isto é o reino de Deus, isto é Deus.

Quando praticamos a meditação andando ou tomamos uma refeição com mente alerta, queremos que o nirvana esteja presente, queremos que o nirvana venha a nós no momento atual. Os cristãos rezam, cantam salmos e hinos, recebem os sacramentos - tudo isto são orações dirigidas ao desejo Venha a nós o vosso reino, o desejo de que o reino de Deus esteja presente neste exato momento. Se formos capazes de trazer para a dimensão histórica a dimensão última, podemos viver as duas dimensões ao mesmo tempo. Não há razão de não podermos contactar a dimensão última enquanto vivemos na dimensão histórica.

Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu

A natureza não nascida e imorredoura do céu, a felicidade, solidez e a liberdade do céu não estão apenas na dimensão última, mas também na dimensão histórica. Graças às chaves dos Três Selos do Darma, somos capazes de ver que a solidez, a liberdade, o ainda não-nascido e o imorredouro não precisam ser procurados no nirvana, mas podem ser encontrados aqui no mundo do nascimento e da morte; assim na terra como no céu. No Vietnã, um discípulo perguntou a um mestre zen: "Onde devo procurar o ainda não-nascido e o imorredouro?" O mestre respondeu com muita clareza: "Você deve procurar o ainda não-nascido e o imorredouro precisamente no meio do nascimento e da morte". Você deve procurar a água na onda. Está muito claro. Por isso dizemos: "Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu". Este é o maior desejo que temos ao rezar.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Outra maneira de traduzir é: "Dai-nos hoje nosso pão deste dia". Nosso pão deste dia não é o pão de todo dia, mas apenas o pão deste dia. A palavra hoje não é muito boa, mas as palavras deste dia são melhores. Esta frase é uma prática de confiança. Não precisamos pedir nossa comida para amanhã, para depois de amanhã, para o próximo mês e para os próximos anos. Precisamos apenas ter comida para o dia de hoje. Eu quero viver profundamente o momento atual. Isto se parece com o ensinamento de Buda no Coração do Prajnaparamita. "A forma é o vazio", diz Buda, mas isto não é o bastante em si, de modo que temos de acrescentar "... e o vazio é a forma", para então o ensinamento ser completo.

Em nossa vida diária temos muitas ansiedades. Temos nossos desejos e tendemos a querer acumular coisas. Não sabemos que o momento atual é o importante. A vida só pode existir no momento atual. Se nossa intenção é apenas investir no amanhã, então será fácil esquecer completamente as maravilhas da vida no momento atual. Temos de voltar ao momento atual para vivê-lo profunda e convenientemente. Temos de viver de tal forma que o reino de Deus esteja presente aqui e agora. Esta é uma oração que deve ser praticada vinte e quatro horas por dia, porque queremos viver o momento atual profundamente todos os segundos. As palavras da oração não devem ser ditas apenas antes de irmos dormir, devem ser recitadas ao longo de todo o dia.

Já temos condições suficientes para ser felizes hoje. Temos de rezar de tal forma que possamos estar em contato com as condições de felicidade que estão em nós e ao redor de nós. Elas estão todas ali, ao alcance. Não devemos ser gananciosos. Não devemos exigir que a vida continue por centenas e centenas de anos. Como pode a vida continuar por centenas de anos se neste momento atual não somos capazes de estar ativos?

(Do livro “A energia da oração” – Thich Nhat Hanh)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Confraternização e Recesso


Queridos amigos,

para encerramos nossas atividades deste ano, na próxima terça-feira, 06.12.11, iremos fazer um lanchinho de confraternização. Cada um traz uma coisinha gostosa e depois da meditação silenciosa iremos fazer a meditação gostosa!

Espero por vocês.

Beijos

Ligia Prieto

Local: Academia Ligia Prieto
Horário: 19 h
Informações: (65) 3052-6634

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Descobrindo a verdadeira natureza da raiva


Por Thich Nhat Hanh

No momento em que você sente raiva, você tem a tendência de acreditar que seu sentimento foi criado por outra pessoa. Você culpa esta pessoa por todo o seu sofrimento. Mas, ao fazer um exame profundo, você talvez perceba que a semente da raiva que existe em você é a principal causa do seu sofrimento. Muitas outras pessoas, quando confrontadas com a mesma situação, não ficariam com a raiva com que você fica. Elas ouvem as mesmas palavras, presenciam a mesma situação, mas são capazes de permanecer mais calmas, sem se deixarem afetar tanto pelas circunstâncias. Por que você se enraivece com tanta facilidade? Talvez isso aconteça porque a semente da raiva é muito forte, e como você não praticou os métodos destinados a cuidar bem da raiva, a semente dela pode ter sido rega da no passado com excessiva freqüência.

Todos temos uma semente da raiva nas profundezas da nossa consciência. No entanto, em alguns de nós, esta semente é maior do que nossas outras sementes como a do amor e a da compaixão. A semente da raiva pode ser maior por não ter sido cuidada através da nossa prática no passado. Por isso, como já disse, quando começamos a cultivar a energia da plena consciência, a primeira coisa que percebemos com clareza é que a principal causa do nosso sofrimento, da nossa aflição, não é a outra pessoa, e sim a semente da raiva que existe em nós. Nesse momento, paramos de considerar a outra pessoa culpada do nosso sofrimento. Compreendemos que ela é apenas uma causa secundária. Você sente um enorme alívio ao descobrir isso e começa a se sentir muito melhor. Mas a outra pessoa pode ainda estar sofrendo porque não aprendeu a cuidar da própria raiva. Quando isso acontece, está na hora de ajudar o outro.

Quando não sabemos lidar com o nosso sofrimento, deixamos que ele se derrame sobre as pessoas que estão em volta. Quando você sofre, faz com que as pessoas ao seu redor também sofram. Isso é bastante natural. É por esse motivo que temos que aprender a lidar com o nosso sofrimento, para não o espalharmos em torno de nós. Quando você é o chefe da família, por exemplo, você sabe que o bem-estar dos seus familiares é extremamente importante. Como você tem compaixão, não permite que seu sofrimento afete os que estão à sua volta. Você pratica e aprende a lidar com seu sofrimento porque sabe que nem ele nem sua felicidade são uma questão individual.

Quando você está com raiva e não quer lidar com ela, fica sem defesa, sofre, e também faz as pessoas à sua volta sofrerem. Sua primeira reação é achar que a pessoa que causou a raiva merece ser punida. Tem vontade de castigá-la porque ela fez você sofrer. Mas, depois de praticar durante dez ou quinze minutos a respiração, a meditação andando e o olhar consciente, você compreende que ela precisa de ajuda e não de punição. Esta é uma percepção justa. Essa pessoa pode ser alguém muito próximo a você sua esposa, seu marido, algum dos filhos. Se você não ajudá-la, quem o fará?

Depois então de acolher e abraçar a raiva, sentindo-se muito melhor, você nota que a outra pessoa continua a sofrer. Esta percepção gera em você um movimento em direção a ela, num grande desejo de ajudá-la. Trata-se de uma forma completamente diferente de pensar e de sentir, pois o desejo de punir simplesmente desapareceu. A raiva se transformou em compaixão.

A prática da plena consciência nos torna mais atentos e perspicazes. Esta capacidade de discernimento é fruto da prática que pode nos ajudar a perdoar e a amar. Num período de quinze minutos, ou de meia hora no máximo, a prática da plena consciência, da concentração e do discernimento é capaz de libertar você da raiva, enchendo seu ser de amor.

Quando você entende o sofrimento da outra pessoa, você é capaz de transformar seu desejo de punir, passando apenas a querer ajudá-la. Quando isso acontece, você sabe que sua prática teve êxito. Você é um bom jardineiro.

Dentro de cada um de nós existe um jardim, e cada praticante precisa voltar para dentro de si mesmo e cuidar dele. Talvez no passado você tenha se dado conta disso. Agora, então, precisa saber o que está acontecendo no seu jardim e procurar colocar tudo em ordem. Restaure a beleza e restabeleça a harmonia do seu jardim. Muitas pessoas se encantarão com seu jardim se ele for bem cuidado.

Quando éramos crianças, aprendemos a respirar, a andar, sentar, comer e falar. Fizemos tudo isso instintivamente sem pensar. O que eu proponho agora é que tomemos consciência dos nossos atos para renascermos espiritualmente. Para isso, temos que aprender a respirar de novo, de um modo consciente. Aprender a andar de novo, conscientemente. Aprender a ouvir de novo, com consciência e compaixão. Aprender a falar de novo, com a linguagem do amor, para honrar nosso compromisso original. Dizer a nossa verdade, com respeito e suavidade, e acolher a do outro: "Meu amor, estou sofrendo. Estou com raiva. Quero que você saiba disso".

Esta frase expressa a fidelidade ao nosso compromisso. Meu amor, estou fazendo o melhor que posso. Estou cuidando da minha raiva. Para o meu bem e para o seu. Não quero explodir, destruir a mim e a você. Estou fazendo o melhor que posso." Esta lealdade provocará respeito e confiança na outra pessoa. E finalmente diremos: "Meu amor, preciso da sua ajuda." Esta é uma declaração muito poderosa, porque, quando estamos com raiva, geralmente temos a tendência de dizer: "Não preciso de você, não quero te ver pela frente." Se você puder dizer as três frases anteriores com sinceridade, do fundo do coração, o outro passará por uma transformação. Não duvide dos efeitos dessa prática.

Com o seu comportamento, você consegue influenciar a outra pessoa e incentivá-la a começar a praticar. Ela pensará e sentirá: "Meu parceiro está sendo fiel falando a verdade. Ele está de fato tentando fazer o melhor possível. Preciso fazer a mesma coisa." Isso significa que, quando cuidamos bem de nós mesmos, estamos cuidando bem da pessoa que amamos. O amor por nós mesmos é a base da nossa capacidade de amar o outro. Se não cuidamos bem de nós mesmos, se não estamos felizes e tranqüilos, não podemos fazer a felicidade de mais ninguém. Não podemos ajudar nossos seres queridos, não podemos amá-los. Nossa capacidade de amar uma outra pessoa depende totalmente da nossa capacidade de amar e cuidar bem de nós mesmos.

Nossos ferimentos podem ter sido causados pelo nosso pai ou nossa mãe. Eles repassaram o que sofreram quando crianças. Como não sabiam a forma de curar as feridas da infância, eles as transmitiram para nós. Se não soubermos como transformar e curar nossos próprios ferimentos, vamos transmiti-los para nossos filhos e netos. É por isso que temos que voltar à criança ferida que existe dentro de nós para ajudá-la a ficar curada.

Às vezes, essa criança precisa de toda a nossa atenção. Ela pode emergir das profundezas da nossa consciência pedindo atenção. Se você estiver consciente, ouvirá a voz dela pedindo ajuda. Quando isso acontece, é hora de desligar-se de tudo em torno e voltar-se para dentro, acolhendo e abraçando carinhosamente a criança ferida dentro de você. Respire conscientemente dizendo: "Ao inspirar o ar, volto-me para minha criança ferida; ao soltar o ar, cuido amorosamente da minha criança ferida." Você precisa praticar e se voltar para a sua criança ferida todos os dias, abraçando-a com carinho, falando com ela. E você também pode escrever uma carta para ela dizendo que reconhece sua presença e fará tudo que estiver ao seu alcance para curar seus ferimentos.

Quando eu falo que é preciso ouvir com compaixão, talvez vocês pensem que se trata apenas de escutar uma outra pessoa. Mas também precisamos escutar a criança ferida dentro de nós, pois ela está continuamente conosco. E nós podemos curá-la a cada instante, neste exato instante. "Minha querida criança ferida, estou aqui do seu lado e desejo intensamente ouvir você. Por favor, conte-me tudo sobre seu sofrimento, descreva toda a sua dor. Estou aqui, estou realmente escutando." Se você conseguir fazer isso e ouvi-la dessa maneira durante cinco ou dez minutos todos os dias, a cura certamente acontecerá. Quando subir uma bela montanha, convide sua criança interior para acompanhar você. Quando contemplar a beleza de um pôr-do-sol, convide-a para compartilhá-lo com você. Se fizer isso durante algumas semanas ou meses, sua criança ferida ficará curada. A plena consciência é a energia que pode nos ajudar a realizar essa cura.

Um minuto de prática é um minuto em que geramos a energia da plena consciência. Ela não vem de fora e sim de dentro de nós. A energia da plena consciência é a energia que nos ajuda a estar totalmente presentes no aqui e agora. Quando você toma chá com plena consciência, seu corpo e sua mente desfrutam uma perfeita união. Você é real e o chá que bebe também se torna real. Quando sua cabeça está cheia de projetos e preocupações, você não está realmente tomando seu café ou seu chá. Você está bebendo seus projetos e suas preocupações. Você não é real, nem o café ou o chá são verdadeiros. Seu chá ou seu café só podem se revelar como uma realidade total quando você se voltar para o seu eu e estiver plenamente presente, libertando-se do passado, do futuro e das preocupações. Quando você tem consciência de si e do seu momento presente, o chá também se torna real e o encontro entre você e o chá é real.

Existe a meditação do chá que oferece a você e seus amigos a oportunidade de se exercitarem na prática de estar realmente presentes, concentrando-se na xícara de chá e gozando plenamente tudo o que ela tem a oferecer sabor, perfume, calor. Concentrando-se e usufruindo a companhia uns dos outros. A meditação do chá é uma prática destinada a nos libertar. Se você ainda sofre as limitações e perseguições do passado, se ainda tem medo do futuro, se se deixa levar pela ansiedade e pela raiva, você não é uma pessoa livre. Não está totalmente presente no aqui e agora, de modo que a vida não está disponível para você. O chá, a outra pessoa, o céu azul, a flor não estão à sua disposição. Para que você possa realmente viver, para que consiga tocar profundamente a vida, você precisa ser livre. Cultivar a plena consciência ajuda você a se libertar.

A energia da plena consciência é a energia de estar presente. Corpo e mente unidos. Quando pratica a respiração consciente ou o andar consciente, você se liberta do passado, do futuro, dos seus projetos, das suas preocupações, e passa a estar presente e a viver totalmente. A liberdade é a condição fundamental para você tocar a vida, tocar o azul do céu, as árvores, os pássaros, o chá e a outra pessoa. É por isso que a prática da plena consciência é tão importante. E não pense que você precisa treinar durante muitos meses para conseguir fazer. Uma hora de prática por dia ajuda a ser mais consciente.

Exercite-se tomando conscientemente seu chá, seu café, saboreando o gosto, aspirando o perfume, sentindo na mão o calor da xícara, e, durante esse processo, transforme-se numa pessoa livre. Exercite-se para se tornar uma pessoa livre enquanto prepara o café da manhã, ao tomar banho, ao vestir-se. Quando andar pela rua, quando arrumar a casa. Ao acordar, em vez de deixar-se assaltar pelas preocupações, sinta e usufrua a maciez dos lençóis, perceba a claridade que entra pela janela. Qualquer momento do dia é uma oportunidade para você exercitar a plena consciência e gerar essa energia.

"Meu amor, sei que você está aqui e me sinto muito feliz". Através da plena consciência, você é capaz de tomar profundo contato com o que existe no momento presente, inclusive com a pessoa que você ama. O fato de conseguir dizer ao seu ente querido "Meu amor, sei que você está aqui e me sinto muito feliz" demonstra que você é uma pessoa livre. Prova que você tem a mente atenta, que possui a capacidade de valorizar e apreciar o que está acontecendo no momento presente. O que acontece no agora é a vida que pulsa em seu ser e na pessoa que você ama, e que está viva, diante de você.

Quando você abraça a outra pessoa com a energia da plena consciência, olhando para ela e dizendo "Meu amor, acho maravilhoso você estar aqui ao meu lado. Isso me deixa muito feliz", isso causa a sua felicidade e a felicidade do outro, porque ele sente como é real o sentimento que você expressa. É diferente de abraçar automaticamente, dizendo palavras convencionais que não vêm da plena consciência da presença do outro e do valor dessa presença. Quando conseguimos estar plenamente com o outro, a possibilidade de ficarmos com raiva é muito menor. Quando se zangar ou sentir raiva, respire ou ande conscientemente durante dois minutos para se restabelecer no aqui e agora, para viver de novo. A outra pessoa pode estar dominada por preocupações, raiva e ansiedade, mas você pode salvá-la, e salvar-se, através da plena consciência.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Como Meditar


Por Thich Nhat Hanh

É possível obter total descanso numa posição sentada e, por conseguinte atingir maior profundidade na meditação assim dissolver preocupações e problemas que bloqueiam sua mente.

Eu sei que (...) há muitos que podem sentar na posição de lótus completo, o pé esquerdo apoiado sobre a coxa direita e o pé direito apoiado sobre a coxa esquerda. Outros podem sentar em meio lótus, o pé esquerdo apoiado sobre a coxa direita ou o pé direito sobre a coxa esquerda. Na nossa aula de meditação, em Paris há pessoas que não conseguem sentar em nenhuma dessas posições e por isso ensino-lhes a maneira japonesa, ou seja, com os joelhos dobrados e o tronco apoiado sobre ambas as pernas. Pondo alguma espécie de acolchoado sob os pés, a pessoa pode facilmente permanecer nessa posição por hora ou hora e meia.

Mas na verdade qualquer pessoa pode aprender a sentar em meio lótus, ainda que no início possa causar alguma dor. Gradualmente, após algumas semanas de treino, a posição se tornará confortável. No início, enquanto a dor ainda causar muito desconforto, a pessoa, deve alterar a posição das pernas ou a posição de sentar. Para as posturas de lótus completo e meio lótus convém sentar-se sobre uma almofada, de forma a que os dois joelhos se apóiem contra o chão. Os três pontos de apoio dessa posição proporcionam uma grande estabilidade.

Mantenha as costas eretas. Isso é muito importante. O pescoço e a cabeça devem ficar em alinhamento com a coluna. A postura deve ser reta mas não rígida. Mantenha os olhos semi-abertos, focalizados a uns dois metros à sua frente. Mantenha leve sorriso. Agora comece a seguir sua respiração e a relaxar todos os músculos. Concentre-se em manter sua coluna ereta e em seguir sua respiração. Solte-se quanto a tudo mais. Abandone-se inteiramente. Se quiser relaxar os músculos de seu rosto, contraídos pelas preocupações, medo e tristeza, deixe um leve sorriso aflorar em sua face. Quando o leve sorriso surge, todos os músculos faciais começam a relaxar. Quanto mais tempo o leve sorriso for mantido, melhor. É o mesmo sorriso que você vê na face de Buda.

À altura do ventre, pose sua mão esquerda com a palma voltada para cima sobre a palma da mão direita. Solte todos os músculos dos dedos, braços e pernas. Solte-se todo como as plantas aquáticas que flutuam na corrente, enquanto sob a superfície das águas o leito do rio permanece imóvel. Não se prenda a nada a não ser à respiração e ao leve sorriso.

Para os principiantes, convém não ficar sentado além de vinte ou trinta minutos. Durante esse tempo você tem que ser capaz de obter descanso total. A técnica para tal obtenção reside em duas coisas: observar e soltar, observar a respiração e soltar tudo mais. Solte cada músculo de seu corpo. Após uns quinze minutos, uma serenidade profunda poderá ser alcançada, enchendo-o interiormente de paz e contentamento. Mantenha-se nessa quietude.

Algumas pessoas encaram a meditação como uma labuta, desejando que o tempo passe rápido a fim de descansarem depois. Essas pessoas não aprenderam ainda o que é meditar. Se você sentar de forma correta, é possível encontrar total relaxamento e paz, exatamente nessa posição. Geralmente sugiro a essas pessoas que meditem tendo em mente a imagem de um seixo atirado ao rio.

Como usar a imagem do seixo? Sente-se na posição em que melhor se sentir, lótus completo ou meio lótus, com a coluna reta e leve sorriso nos lábios. Respire devagar e profundamente, acompanhando cada respiração, unificando-se com ela. Desligue-se de tudo. Imagine que você é um seixo atirado no rio. O seixo afunda na água, sem nenhum esforço. Desapegado de qualquer coisa, ele lentamente afunda pela mais curta distância, para atingir finalmente o fundo do rio, o ponto de descanso perfeito. Você, praticamente, é como o seixo que, desligando-se de tudo, deixou-se cair no rio. No centro de seu ser está sua respiração. Você não precisa saber quanto tempo leva até que possa alcançar o ponto do perfeito repouso, o leito de areia no fundo das águas.

Quando você se sentir como o seixo que atingiu o fundo do rio, você terá alcançado o ponto em que encontrará seu perfeito repouso. Você não estará mais sendo empurrado ou puxado por nada. Se você não conseguir encontrar paz e contentamento nesses momentos em que está sentado, então o futuro lhe escapará como um rio que passa, você não poderá fazê-lo voltar atrás, e será incapaz de viver o futuro quando ele tiver se transformado em presente. Toda a paz e contentamento possíveis são esses que surgem ao sentar-se. Se você não consegue encontrá-los aí, não os encontrará em nenhum outro lugar. Não persiga seus pensamentos como a sombra que segue seu objeto. Não corra atrás de seus pensamentos. Não adie, seja capaz de encontrar paz e contentamento nesse exato momento em que está sentado.

Esse é o seu tempo, esse lugar em que está senta é o seu lugar. É nesse exato lugar, nesse exato momento, que você pode se tomar um Buda e não sob uma árvore especial em algum longínquo país.

O conforto que lhe proporciona o sentar-se depende de sua assiduidade na prática de manter a mente alerta na sua vida diária. Depende também se você senta ou não de acordo com as instruções. Uma hora de meditação por noite deveria ser organizada em cada comunidade. E às pessoas de fora, que quisessem participar, deveria ser dado o direito de sentarem também.

Alguém poderá perguntar: é então o relaxamento o único objetivo da meditação? Na verdade a meditação vai muito mais além. O relaxamento, entretanto, é necessário como ponto de partida, já que só após obtê-lo é que a pessoa consegue tranqüilizar o coração e clarear a mente. Ter o coração tranqüilo e a mente clara já é avançar bastante no caminho da meditação. Não devemos nos esquecer de que alertar a mente para a respiração é um método maravilhoso que pode ser usado sempre e não apenas no início da prática.

Feliz continuação


Por Thich Nhat Hanh

Ouça Shariputra, todos os dharmas são marcados com a vacuidade. Eles não podem ser produzidos nem destruídos. (Sutra do Coração)

Dharmas aqui, significam coisas. Um ser humano é um dharma. Uma árvore é um dharma. Uma nuvem é um dharma. O brilho do sol é um dharma. Tudo que pode ser concebido é um dharma. Portanto, quando dizemos, Todos os dharmas são marcados com a vacuidade, estamos dizendo, tudo tem a vacuidade como sua natureza. E é por isso que tudo pode existir. Há muita alegria nessa declaração. Significa que nada pode nascer, nada pode morrer. Avalokita disse algo extremamente importante.

Em cada dia na nossa vida vemos nascimento e morte. Quando uma pessoa nasce, uma certidão de nascimento é impressa para ele. Depois que morre, de forma a enterrá-lo, um certificado de óbito é feito. Essas certidões confirmam a existência do nascimento e da morte. Mas Avalokita disse, Não, não há nascimento e morte. Temos que olhar, mais profundamente de forma a ver se essa declaração é verdadeira.

Qual é a data na qual você nasceu, sua data de nascimento? Antes dessa data, você já existia? Você já estava presente antes de nascer? Deixe-me ajudá-lo. Nascer significa que de nada você se tornou algo. Minha pergunta é, antes de nascer, você já estava presente?

Suponha que uma galinha está prestes a colocar um ovo. Antes de ela colocá-lo, você acha que o ovo já estava presente? Sim, é claro. Está dentro dela. Você também estava dentro antes que saísse. Isto significa que antes de nascer, você já existia dentro de sua mãe. O fato é que se algo já está presente, não necessita nascer. Nascer significa que do nada, você se tornou algo. Se você já é algo, qual o sentido de nascer?

Portanto, o chamado, dia do aniversário é na realidade seu dia de Continuação. Na próxima vez que celebrar, pode dizer, Feliz dia de Continuação. Acho que podemos ter uma idéia melhor de quando nascemos. Se voltarmos nove meses antes, para o momento da concepção, teremos uma data melhor para colocar em nossa certidão de nascimento. Na China e também no Vietnã, quando nasce, já se considera que você tenha um ano de idade. Portanto dizemos que nosso início se dá no momento da concepção no útero de nossa mãe, e escrevemos essa data na nossa certidão de nascimento.

Mas a questão permanece: Antes mesmo desta data você existia ou não? Se você disser, Sim, acho que está correto. Antes da sua concepção, você já estava presente, talvez metade na sua mãe, metade no seu pai. Porque do nada, não podemos nos tornar algo. Você pode citar uma coisa que uma vez tenha sido nada? Uma nuvem? Você acha que uma nuvem pode nascer do nada? Antes de ser uma nuvem, era água, talvez flutuando em um rio. Ela não era um nada. Você concorda?

Não podemos conceber o nascimento do nada. Há apenas continuação. Por favor, olhar ainda mais para trás e você verá que você não apenas existia no seu pai e mãe, mas também nos seus avôs e avós. Ao olhar mais profundamente, posso ver que numa vida anterior eu era uma nuvem. Isto não é poesia, é ciência.

Porque eu digo que numa vida anterior eu era uma nuvem? Porque eu ainda sou uma nuvem. Sem a nuvem, eu não poderia estar aqui. Eu sou a nuvem, eu sou o rio, e o ar neste exato momento, portanto eu sei que no passado eu fui uma nuvem, um rio e o ar. E eu era uma pedra. Eu era os minerais na água. Isto não é uma questão de crença em reencarnação. Esta é a história da vida na Terra. Fomos gás, brilho do sol, água, fungos e plantas. Fomos seres unicelulares. O Buda disse que em suas vidas passadas ele era uma árvore. Ele foi um peixe, Ele foi um cervo. Estas não são coisas supersticiosas. Todos fomos uma nuvem, um cervo, um pássaro, um peixe e continuamos a ser essas coisas, não apenas em vidas passadas.

E não é apenas assim com o nascimento. Nada pode nascer e também nada pode morrer. Isto foi o que Avalokita disse. Você acha que uma nuvem pode morrer? Morrer significa que de algo você se tornou nada. Você acha que podemos transformar alguma coisa em nada? Vamos voltar à nossa folha de papel. Podemos ter a ilusão que para destruir toda a folha tudo o que temos que fazer é acender um fósforo e queimá-la. Mas se queimarmos uma folha de papel, parte dela se tornará fumaça e a fumaça subirá e continuará a existir.

O calor resultante da queima do papel entrará no cosmos e penetrará nas outras coisas, porque o calor é a vida seguinte do papel. A cinza que é formada se tornará parte do solo e a folha de papel, na sua vida seguinte, poderá ser uma nuvem e uma rosa ao mesmo tempo. Temos que ser muito cuidadosos e atentos de forma a perceber que esta folha de papel nunca nasceu e nunca morrerá. Ela pode passar a ser outras formas de vida, mas não somos capazes de transformar uma folha de papel em nada.

Tudo é assim, mesmo você e eu. Não somos sujeitos ao nascimento e morte. Um mestre Zen poderia dar a seu aluno um tema de meditação como esse, Como era seu rosto antes que seus pais nascessem? Este é um convite para ir em uma viagem de forma a se reconhecer. Se você fizer bem feito, poderá ver suas vidas passadas assim como as vidas futuras.

Lembre-se, por favor, que não estamos falando sobre filosofia, estamos falando da realidade. Olhe para a sua mão e se pergunte, Desde quando minha mão tem estado por aí? Se eu olhar profundamente para minha mão, poderei ver que ela tem estado por aí há um longo tempo, mais de 300.000 anos. Vejo muitas gerações de ancestrais nela, não apenas no passado mas no momento presente, ainda vivas. Eu sou apenas uma continuação. Eu nunca morri nenhuma vez. Se eu tivesse morrido uma vez ao menos, como minha mão ainda estaria aqui?

O cientista francês Lavoisier disse, Nada é criado e nada é destruído. Isto é o mesmo que está no Sutra do Coração. Mesmo os melhores cientistas contemporâneos não podem reduzir algo como uma partícula de poeira ou um elétron a nada. Uma forma de energia pode apenas se tornar outra forma de energia. Uma coisa nunca pode se tornar nada e isso inclui uma partícula de poeira.

Usualmente dizemos que humanos vêm do pó e voltaremos ao pó e isto não soa muito alegre. Não queremos retornar ao pó. Há uma discriminação aqui achando que humanos valem mais e que a poeira não tem valor nenhum. Mas cientistas não sabem ao menos o que é um grão de poeira! Ainda é um mistério. Imagine um átomo desse grão de poeira, com elétrons viajando em torno do núcleo a 180.000 milhas por segundo. É muito excitante. Voltar a ser um grão de poeira será uma aventura muito excitante!

Às vezes temos a impressão que entendemos o que é um grão de poeira. Até mesmo fingimos que entendemos um ser humano um ser humano que dizemos que voltará a ser um grão de poeira. Como vivemos com uma pessoa por 20 ou 30 anos, temos a impressão que sabemos tudo sobre ela. Portanto, ao dirigir o carro com a pessoa ao nosso lado, pensamos em outras coisas. Não estamos mais interessados nela. Que arrogância! A pessoa sentada ali ao nosso lado é realmente um mistério! Apenas temos a impressão que a conhecemos, mas não sabemos nada ainda.

Se olharmos com os olhos de Avalokita, veremos que mesmo um fio de cabelo da pessoa é o cosmos inteiro. Um fio de cabelo na sua cabeça pode ser uma porta se abrindo para a realidade última. Um grão de poeira pode ser o Reino dos Céus, a Terra Pura. Quando você vir que você, o grão de poeira e todas as coisas intersão, você entenderá que as coisas são dessa forma. Precisamos ser humildes. Dizer que não sabe é o começo do conhecimento, é um provérbio chinês.

Um outono, eu estava em um parque, absorvido na contemplação de uma bonita folha muito pequena, na forma de coração. Sua cor era quase vermelha, e estava por pouco pendurada no galho, quase pronta para cair. Eu fiquei um bom tempo com ela e perguntei à folha muitas questões. Eu descobri que a folha tinha sido uma mãe para a árvore. Usualmente pensamos que a árvore é a mãe da folha. A seiva que as raízes captam é apenas água e minerais, e não é boa o suficiente para nutrir a árvore, portanto a árvore distribui a seiva para as folhas. E as folhas assumem a responsabilidade de transformar a seiva bruta na seiva elaborada e com a ajuda do sol e gás, a devolvem de forma a nutrir a árvore. Portanto as folhas são também a mãe da árvore. E como a folha é ligada à árvore por um talo, a comunicação entre elas é fácil de ver.

Não temos mais um talo nos ligando à nossa mãe, mas quando estávamos no seu útero tínhamos um longo talo, um cordão umbilical. O oxigênio e os nutrientes que precisávamos vinham para nós através desse talo. Infelizmente, no dia que chamamos de dia do aniversário, ele foi cortado e recebemos a ilusão que éramos independentes. Isto é um erro. Continuamos a depender de nossa mãe por um longo tempo, e temos muitas outras mães também. A Terra é nossa mãe. Temos muitos grandes talos nos ligando à nossa mãe Terra.

Há um talo nos ligando com a nuvem. Se não houvesse nuvem, não haveria água para bebermos. Somos feitos de pelo menos setenta porcento de água e o talo entre a nuvem e nós está realmente presente. Há também a mesma situação com o rio, a floresta, o lenhador e o fazendeiro. Há centenas de milhares de talos nos ligando a tudo no cosmos de forma que possamos existir. Você vê a ligação entre você e eu? Se você não estiver aí, eu não estaria aqui. Isto é certo. Se você não vê isso ainda, olhe mais profundamente e tenho certeza que verá. Como disse, não é filosofia. Você realmente tem que ver.

Eu perguntei para a folha se ela tinha medo porque era outono e as outras folhas estavamm caindo. A folha me disse, Não. Durante toda a primavera e verão eu estava viva. Trabalhei duro e ajudei a nutrir a árvore, e muito de mim está na árvore. Por favor, não diga que eu sou apenas esta forma, porque a forma da folha é apenas uma pequena parte de mim. Eu sou a árvore inteira. Sei que já estou dentro da árvore e quando eu for de volta ao solo, continuarei a nutrir a árvore. É por isso que não me preocupo. Assim que eu deixar o galho e flutuar ao solo, acenarei para a árvore e direi a ela, `Te verei novamente em muito em breve` .

Logo eu vi um tipo de sabedoria muito parecido com a contida no Sutra do Coração. Você tem que ver a vida. Não deveria dizer a vida da folha, deveria apenas falar na vida na folha, na vida na árvore. Minha vida é apenas Vida, e você pode vê-la em mim e na árvore. Naquele dia havia um vento soprando e depois de um tempo via a folha deixar o galho e flutuar para o solo, dançando alegremente, porque enquanto flutuava olhava para si mesmo já na árvore. Ela estava muito feliz. Curvei minha cabeça e sabia que havia muito a aprender da folha porque ela não tinha medo ela sabia que nada pode nascer e nada pode morrer.

(...) Amanhã eu continuarei a ser. Mas você terá que ser muito atencioso para me ver. Eu serei uma flor ou uma folha. Eu estarei nessas formas e direi alô para você. Se você tiver atenção suficiente me reconhecerá e poderá me cumprimentar. Eu ficarei muito feliz.

(Do livro The heart of undestanding Thich Nhat Hanh)