A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Meditação Amorosa




Por Thich Nhat Hanh


Meditação adaptada pelo Ven. Nhat Hanh do texto Visuddhimagga, escrito por Buddhagosa em 430 d.C. - texto tradicional theravada.


Esta meditação deve ser praticada da seguinte maneira: primeiro, a recitação na primeira pessoa, referindo-se a si mesmo; segundo, a recitação em terceira pessoa, referindo-se à pessoas que lhe são indiferentes (se possível substituir o "ele/ela" pelo nome); terceiro, a recitação em terceira pessoa, referindo-se à pessoas amadas e bem quistas (se possível substituir o "ele/ela" pelo nome); quarto, a recitação em terceira pessoa, referindo-se à pessoas que lhe tenham causado sofrimento (se possível substituir o "ele/ela" pelo nome); quinto, recitar em segunda pessoa, referindo-se a todos.


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Meditação amorosa

Que eu possa estar em paz, feliz e leve de corpo e de espírito

Que possa viver em segurança e livre de males

Que eu possa estar livre da raiva, das aflições, medos e ansiedades

Que eu possa aprender a me olhar com olhos de compreensão e amor

Que eu possa reconhcer e tocar as sementes de alegria e felicidade que existem em mim

Que eu possa aprender a identificar as fontes de raiva, cobiça e ilusão que existem em mim

Que eu possa alimentar as sementes de alegria em mim todos os dias

Que eu possa ser sereno, firme e livre

Que eu possa estar livre do apego e da aversão sem me tornar indiferente

Que ele/ela possa estar em paz, feliz e leve de corpo e de espírito

Que ele/ela possa viver em segurança e livre de males

Que ele/ela possa estar livre da raiva, das aflições, medos e ansiedades

Que ele/ela possa aprender a se olhar com olhos de compreensão e amor

Que ele/ela possa reconhecer e tocar as sementes de alegria e felicidade que existem em si mesmo(a)

Que ele/ela possa aprender a identificar as fontes de raiva, cobiça e ilusão que existem em si mesmo(a)

Que ele/ela possa alimentar as sementes de alegria em si mesmo(a) todos os dias

Que ele/ela possa ser sereno, firme e livre

Que ele/ela possa estar livre do apego e da aversão sem se tornar indiferente

terça-feira, 19 de abril de 2011

Recesso de Páscoa - Agenda




Queridos amigos,

informamos a todos que estaremos de recesso neste feriado. Para tanto, não haverá estudo na quinta-feira (21.04) e no sábado (23.04). Retornaremos na próxima semana, com a programação normal.


Muita paz! Renovação! Enfim, Feliz Páscoa!!!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ouça, Reflita, Pratique e Realize sua Vida como Paz


Por Taizan Maezumi Roshi


"Este ensinamento de Maezumi Roshi sobre a prática do dharma foi dado originalmente em Los Angeles, 1994.Tradução ao português de Tam Huyen Van (Claudio Miklos)"
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Em nossa prática, há um padrão básico que consiste em três processos. Em japonês dizemos “mom”, “shi” e “shu”. O primeiro estágio é mon, “ouvir”. A audição não está restrita ao ato físico de ouvir com os ouvidos o que alguém fala, mas também ouvir com o olhos quando estivermos lendo um documento escrito. O que você está ouvindo? Ao dharma: ouvindo o dharma, percebendo o dharma. O processo seguinte é shi ou “refletir”. Não tome algo escrito ou falado cegamente como certo. Pense sobre o que está ouvindo ou lendo. Então, se você concorda, e se realmente pensa que aquilo é verdadeiro, passe ao próximo estágio, shu, que significa “praticar”. Estes três estágios são muito importantes.

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Qual é a parte mais importante da prática? Há muitas espécies de prática relacionadas ao dharma. Mesmo se você concordar em quê praticar, talvez o ponto de prática realmente importante não estará ainda muito claro. Sendo assim, nós temos outro processo que denominamos sho – “esclarecer, verificar ou confirmar através de nossa prática”. Dogen Zenji usa este sho muito frequentemente. Você está praticando adequadamente ou apropriadamente ou não? Certifique-se disso. Sho é muito frequentemente traduzido como “realização”, às vezes como “iluminação” ou “despertar”. Isso conduz a um forte senso de verificação ou confirmação – não de forma cerebral, mas de forma do ser total. Então, em primeiro lugar, audição; em segundo lugar, reflexão ou consideração sobre o dharma; em terceiro lugar, prática do dharma; e em quarto, verificação ou confirmação do dharma como [parte de] sua vida. Estas são as bases da prática.

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Estas coisas parecem muito simples, mas considere apenas o primeiro ponto – “ouvir”. Como nós ouvimos? A maior parte do tempo as coisas entram e saem de minha cabeça em menos de um segundo. Talvez em devesse pensar mais, mas este pensar é algo muito ardiloso. Muito embora nós pensemos sobre o dharma, estaremos realmente praticando ou não? Assim mesmo este aparentemente simples processo de prática – ouvir o dharma, refletir sobre ele, colocá-lo em prática – não é fácil. Talvez seja por isso que esta prática esteja se estendendo por mais de 2.500 anos.

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Este processo básico não se limita necessariamente à tradição Budista; ele é aplicável também ao Cristianismo e ao Judaísmo. Por exemplo, no Cristianismo, ouvimos a bíblia; no Judaísmo, ouvimos a Torah. Se você é cristão ou judeu, como está ouvindo, confirmando e praticando os ensinamentos da Bíblia ou da Torah? O quanto você tem conseguido entender? O que há ali para ser realmente ouvido e praticado? E afinal o quanto disso você está praticando?Eu me recordo quando certa vez visitei Tetsugen Sensei e Yuho Glassman em Nova York. Era uma noite de sexta e eles estavam celebrando o Shabbat. Em algum momento da visita, Tetsugen Sensei me disse, “Roshi, em certo sentido, o que estava me escapando em relação à tradição judaica na qual fui criado era a verdadeira prática”. Quando ouvi aquilo – muito embora eu não conhecesse a prática judaica – eu me perguntei, “O quê é realmente uma prática apropriada?”Percebo que uma das razões para que muitos de voces sejam atraídos para a tradição Zen é a prática – o tipo de prática, a quantidade e qualidade de prática que nós enfatizamos. No Zen, prática é o aspecto mais enfatizado. Mas se o dharma não é praticado corretamente, então a prática não significa muito.

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Em nossa tradição Zen, enfatizamos o discernimento conscientizador pelo qual nós vemos o plano interno e externo como um só. E afortunadamente, nós temos todos os tipos de upaya, ou meios adequados, através dos quais podemos praticar e realmente ver o que o dharma é. Como a prática pode ser apreciada? Eu desejo que vocês prestem muita atenção ao que verdadeiramente é o dharma. Vocês estão realmente praticando bem, em relação ao que vocês pensavam sobre isso e sobre o que ouviram ou leram? De acordo com o que vocês percebem, examinem o dharma, renovando e encorajando a si mesmos, desta forma fazendo sua prática melhor.

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O que podemos esperar ao praticar o dharma? No Zen, temos um dito: “Não espere nada”. O que isso significa? Dizemos, “Nenhum ganho e nenhuma expectativa sobre a iluminação intrinsecamente falando. Sente-se em uma posição de corpo ereta e firme – apenas sente! Este é o caminho dos ancestrais.” Quando dizemos ancestrais, não estamos restringindo a prática a certos tipos de pessoas. Qualquer um – homem ou mulher, de qualquer classe ou raça e assim por diante – que realizou corretamente o Caminho é chamado de ancestral. Portanto a qualidade de nossa prática é muito importante. Que tipo de prática fazemos e qual espécie de despertar temos? Qual espécie de consciência? Samadhi? Quais são os efeitos que experimentamos? Mesmo não esperando nada, a prática tem certos efeitos.

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Um dos mais importantes ensinamentos de dharma é o de causa e efeito. Podemos afirmar que o ensinamento de Buddha versa sobre [o fenômeno d]a Causação. Não é a questão de [existir] apenas uma causa ou algumas causas – todas as coisas são a causa de alguma outra coisa. Tudo está conectado de um modo ou de outro. Existem causas diretas e indiretas, todas trabalhando juntas. Dizemos, “Causa e efeito não são coisas separadas; causa e efeito são uma só”. Normalmente não temos este tipo de entendimento sobre a prática ou os ensinamentos. Como você entende causação? Algumas pessoas pensam que, quando fazem uma coisa ruim, esta ação não é realmente uma coisa ruim até o momento em que elas são flagradas – talvez amanhã ou um ano depois ou quando forem presas pela polícia. Em relação a isso, Yasutani Roshi dizia repetidamente, “quando você rouba algo, naquele mesmo momento você se torna um ladrão”. Isso é verdade?

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Como viver é uma questão primária para todos nós. Não é uma questão apenas [de existirem] regras ou regulamentos feitos pelo Homem que são sustentadas sob certas circunstâncias ou ambientes, ou por sociedades, grupos e países. Evidentemente, estas regras são importantes. Mas há muito mais do que isso. Mesmo para decidir o quê é bom e o quê é mau, o que é correto ou errado, o que é verdadeiro ou o que é falso – como iremos julgar? Por sorte, esta questão é enfocada nos mais fundamentais ensinamentos dos Buddhas.

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O ensinamento fundamental de Buddha é o dos quatro Selos do Dharma: Impermanência, Não-eu, Sofrimento e Nirvana, ou Paz. Vocês compreendem o fato simples da vida que é a impermanência, e o que afirma não haver [qualquer] coisa imutável [cristalizada], não-eu? Especialmente esta questão do não-eu ou não imutabilidade: porque isto é um tesouro do dharma? Por que isto é chamado de Prajna, sabedoria? Se você tem algumas idéias na cabeça, não poderá compreender muito o significado de “tudo é impermanente”. Constante mudança. O Abhidharma (o sistema budista de psicologia) descreve quantas mudanças ocorrem em apenas 24 houras, em um dia e uma noite. Eu adoro falar sobre este importante tópico, e eu mais e mais fico convencido do quão verdadeiro ele é. Em apenas um segundo nossa vida muda mais de 5.000 vezes. Em um segundo! Uma vez que a mudança é tão rápida, nossa atenção consciente simplesmente é incapaz de segui-la. E todavia nosso corpo e mente estão mudando nesta velocidade. Vivemos uma vida e tanto, percebem? E vivendo tão rápidas mudanças, o que podemos esperar? Que espécie de pensamentos temos? Com que tipo de coisas gastamos nosso tempo pensando?

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Falamos sobre o agora, mas o que é isto? O passado já se foi; mas nos prendemos a ele. Tudo o que falamos tem a ver com o passado ou o futuro. Embora falemos sobre o “agora”, não existe tal coisa. O fato é, “agora” já se foi. Nós confundimos isso. Esteja eu atentamente consciente desta vida de rápidas mudanças ou não, ela está se manifestando. Mas o que fazemos com esta vida? Fazemos isso e aquilo – é tudo sobre algo já acontecido ou ainda por ocorrer. O pensamento, a idéia [de vida] com a qual brincamos em nossa cabeça, não é a existência real que lidamos aqui, exatamente agora. Não deveríamos confundir estas coisas. Este é um ponto muito, muito importante.

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Não estou desvalorizando o pensamento. Apenas estou mencionando que nós não deveríamos confundir o fato de nossa vida com as idéias sobre nossa vida. O que pensamos e o que realmente existe – isto é o que Buddha fala sobre mudança constante. Tudo e qualquer coisa, mudando constantemente. Esta é a vida real a qual é, em certo sentido, incognoscível. E este não-eu incognoscível, impessoal – desprendido de qualquer tipo de valor, apegos, desapegos – funciona perfeitamente. Nada sabendo, ele funciona plenamente. É isso que esta vida é. É isso que se expressa como não-eu. Quando você não vê isto, sofrimento está esperando por você. Quando você percebe isso, há o nirvana, ou paz.

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Ouça o dharma, reflita sobre ele, pratique e realize-o. Realize sua vida como a paz em si mesma. Realize sua vida como você é, como ela é agora, e não como você pensa ou analisa. Nós não necessitamos esperar nada; nós não precisamos tentar fazer algo. A razão é simples: ele [o dharma] já está aqui como sua vida. Não é fascinante? Realmente ouça, reflita, pratique, verifique. Juntas, estas [ações] são parte da prática também. Juntas, isto é o que estamos fazendo. A coisa importante é estar em paz ou em nirvana. Isto é o que o Buddha afirma. Então estando em nirvana, o que você estará fazendo? O que você estará fazendo?!


Taizan Maezumi Roshi foi uma figura fundamental na transmissão do Zen Buddhismo ao ocidente. Ordenado como monge zen aos 11 anos, ele se mudou para os Estados Unidos do Japão em 1956. Maezumi Roshi foi o fundador e abade do Zen Center de Los Angeles, e fundou cinco outros templos Soto Zen nos Estados Unidos e Europa. Ele transmitiu o dharma para doze sucessores e estabeleceu o White Plum Asanga, para levar adiante sua linhagem.


Listen, Think, Practice and Realize Your Life As Peace, Taizan Maezumi Roshi, Shambhala Sun, March 2004.

domingo, 10 de abril de 2011

Poema Sina


Por Paulo Wagner Moura


A senda do peregrino

é buscar o segredo do sol

subir a montanha do coração

encontrar no simples o sagrado

destino do homem, do velho e do menino

ver o passado caindo

indo embora

sentir os passos do caminho

aqui e agora

terça-feira, 5 de abril de 2011

"Meditação no Parque: paz a cada passo - Sábado (09.04)



Queridos amigos,

informamos que no próximo sábado, 09.04.2011, haverá prática de meditação andando no parque Mãe Bonifácia. Início da caminhada às 08 h (pontualmente).

Local: Parque Mãe Bonifácia

Horário: 08:00

Ponto de encontro: entrada principal (estacionamento de pedrinhas)

Percurso: trilha interativa - 40 min.

Atenção: Se chover, haverá prática normalmente. Então, recomendamos, levem guarda-chuva!

** A atividade é gratuita e aberta a todos os interessados!

Muita paz.

Informações:

Ligia - (65) 3052-6634

Ivan - (65) 9202-9925

domingo, 3 de abril de 2011

Mensagem da Monja Coen sobre o Japão de agora


Japão, por Monja Coen

Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro. Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência. Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada? Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las. Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras. A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima. A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas. Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros. Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado. Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos- mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água. Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte. Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam. Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão. Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo. Sumimasem. Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas. O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei. Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto. Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais. Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”. Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo. Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente. Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto. Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução. Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março. Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar. Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas. Todas eram e são pessoas de meu conhecimento. Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência. Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.

Mãos em prece (gassho)

Monja Coen

sábado, 2 de abril de 2011

Canção pra Quando Você Voltar e mantra Om mani padme hum



Faixa do disco Áudio-retrato (2003) de Leoni: No final da faixa, o mantra Om mani padme hum entoado por Herbert e Leoni e dois lamas do mosteiro tibetano de Vargem Grande também recitam, ajudando a reforçar o clima de amizade, tolerância e paz. Ao fim da música Herbert dá uma declaração surpreendente.

A História do Monge Asanga


Asanga, um grande praticante buddhista indiano, retirou-se em uma caverna para meditar dia e noite no Buddha Maitreya. Depois de seis anos, não tinha tido um único sonho auspicioso, uma única visão — nenhum sinal de realização. Então, concluiu que sua meditação era inútil. Deixou a caverna e, ao seguir pela estrada, passou por um homem que esfregava um lenço de seda numa coluna de ferro. Asanga perguntou ao homem, "O que o senhor está fazendo?"

"Estou fazendo uma agulha", respondeu o homem.

Asanga pensou, "Mas que perseverança! Ele está esfregando uma coluna de ferro com um lenço de seda para fazer uma agulha, e eu sequer tenho paciência suficiente para permanecer em retiro." Caminhou de volta para sua caverna e começou a meditar, dia e noite, sobre o Buddha Maitreya.

Depois de mais três anos de meditação, ela ainda não havia recebido sinal algum de realização. Nenhum sonho, nenhuma visão, nada. Novamente, muito desanimado, deixou o retiro. Ao seguir pela estrada, viu um homem que mergulhava uma pena num balde d'água e a passava sobre a superfície de um enorme rochedo. Asanga perguntou ao homem o que fazia.

"Este rochedo está fazendo sombra sobre a minha casa," respondeu, "então eu o estou removendo."

Asanga pensou, "Eis aqui alguém que, para ter apenas um pouco de Sol sobre seu telhado, se dispõe a ficar em pé interminavelmente, removendo um rochedo com uma pena. E eu não consigo sequer meditar até que obtenha um sinal." Então, voltou para a caverna e sentou-se em meditação.

Após um total de doze anos em retiro, ele ainda não havia recebido sinal algum. De novo, desencorajado e decepcionado, partiu. Ao seguir pela estrada, desta vez encontrou um cachorro muito doente. A parte inferior de seu corpo estava apodrecida por gangrena e cheia de larvas de moscas varejeiras. Sem as duas pernas de trás, ele conseguia apenas se arrastar pela estrada. Ainda assim, voltava-se para todos os lados, tentando morder quem estivesse em volta. O coração de Asanga se comoveu. "Este pobre cachorro", pensou, "O que posso fazer para ajudá-lo? Tenho que limpar a ferida, mas com isso posso matar as larvas. Não posso tirar a vida de um para preservar a de outro; toda vida tem valor."

Por fim, decidiu que, se usasse sua língua com cuidado para retirar as larvas da ferida, poderia salvar tanto os insetos quanto o cachorro. A idéia era repugnante, mas fechou os olhos e se abaixou. Quando abriu sua boca, sua língua tocou não o animal, mas o chão. Abriu os olhos. O cão havia sumido e ali estava o Buddha Maitreya.

"Faz anos e anos que estou rezando a você", exclamou Asanga, "e esta é a primeira vez que você aparece!"

O Buddha respondeu muito suave, "Desde o primeiro em dia que você começou sua meditação, tenho estado a seu lado. Mas, por causa do dos venenos da sua mente e dos enganos e ilusões criados por sua não-virtude, você não conseguia me ver. Era eu o homem que esfregava a coluna, era eu o homem que passava a pena no rochedo. Somente quando apareci como esse cachorro apodrecido é que você teve compaixão e altruísmo suficientes para purificar o karma que o impedia de me ver".

(Chagdud Tulku Rinpoche. Portões da Prática Budista.Traduzido por Manoel Vidal, revisado por Cinthia Sabbado, Marta Rocha e Maurício Sabaddo.Três Coroas: Rigdzin, 2000. Pág. 85-87. )