"Nenhum homem pode pacificar o mundo inteiro, mas cada um pode pacificar a si mesmo." Enio Burgos
A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.
A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.
Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.
A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.
A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.
Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.
A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
EU MAIOR entrevista com Professor Hermógenes
Esse vídeo é postado em homenagem ao mestre Hermógenes.
Mãos unidas em prece.
Gassho.
Monja Coen responde sobre a morte
P - Há realmente a necessidade de uma preparação para a morte tendo como foco os doentes terminais e seus familiares?
MC - Sim e não.
De certa forma estamos todos preparados para morrer e para aceitar a morte. Faz parte de nosso processo natural. Entretanto, quanto estamos afastadas, afastados de nossa essência verdadeira?
Queremos o impossível. Nos apegamos ao que é transitório e passageiro. Criamos sofrimentos em cima de sofrimentos. Portanto se faz necessário trazer de volta a consciência de que podemos morrer bem. Por boa morte quero dizer uma morte consciente de estar morrendo e sem deixar remorsos.
É preciso lembrar aqueles que são muito apegados às formas e sons materiais, que tudo isto é passageiro, mas permanece em nós a vida dos que se vão, em nossas vidas.
De certa forma estamos todos preparados para morrer e para aceitar a morte. Faz parte de nosso processo natural. Entretanto, quanto estamos afastadas, afastados de nossa essência verdadeira?
Queremos o impossível. Nos apegamos ao que é transitório e passageiro. Criamos sofrimentos em cima de sofrimentos. Portanto se faz necessário trazer de volta a consciência de que podemos morrer bem. Por boa morte quero dizer uma morte consciente de estar morrendo e sem deixar remorsos.
É preciso lembrar aqueles que são muito apegados às formas e sons materiais, que tudo isto é passageiro, mas permanece em nós a vida dos que se vão, em nossas vidas.
P - Há uma seqüência ou uma lógica de fases do enfrentamento da morte/luto?
MC - Parece haver, dependendo evidentemente das
situações. Mortes súbitas, causadas por desastres, crimes, guerras podem
ter uma sequência de raiva e culpa pela incapacidade de evitá-la,
tristeza e finalmente aceitação.
Contam os sutras que certa feita uma senhora desesperada carregava seu bebê morto em seus braços e pediu a ele que devolvesse a vida a seu filhinho. Buda disse que o faria se ela trouxesse a ele três sementes de sesame de uma casa onde a morte não houvesse entrado. Cheia de esperança a mãe começou a percorrer o vilarejo. E logo percebeu, que a morte havia entrado em todas as casas. Assim foi capaz de aceitar a morte de seu filho.
Contam os sutras que certa feita uma senhora desesperada carregava seu bebê morto em seus braços e pediu a ele que devolvesse a vida a seu filhinho. Buda disse que o faria se ela trouxesse a ele três sementes de sesame de uma casa onde a morte não houvesse entrado. Cheia de esperança a mãe começou a percorrer o vilarejo. E logo percebeu, que a morte havia entrado em todas as casas. Assim foi capaz de aceitar a morte de seu filho.
P - Cada pessoa tem um jeito particular de encarar a morte e o luto ou há atitudes comuns a todos, independente de sexo, idade...
MC - Somos semelhantes e não iguais. Assim sendo
cada um de nós tem um relacionamento diferente com a morte e este
relacionamento também se modifica conforme a situação. Alguém que esteja
sofrendo muito diz que quer morrer. Assim que o sofrimento passe não se
apressa mais em morrer. Todos nós, homens e mulheres, crianças e
adultos, jovens e idosos, carregamos em nós o instinto da vida e o
instinto da morte. Isso é comum. Como que somos educados para a morte -
isso é particular, diferente, conforme culturas, etnias, e mesmo
famílias ou grupos sociais.
P - Qual o significado da morte para o Budismo? Acredita-se em uma outra vida após a morte? Há linhas diferentes dentro do Budismo?
MC - "A vida é um processo em si mesma. A morte é um
processo em si mesma. Assim como a cinza não volta a ser lenha, a morte
não volta a ser vida." Essas palavras foram escritas pelo Mestre Zen
Eihei Dogen Daiosho, fundador da tradição Soto Zen Budista no Japão do
século XIII.
Há várioas linhas budistas - desde as que crêem na reencarnação como as que negam alguma coisa eterna e permanente que pudesse reencarnar.
Nada é fixo ou permanente. A vida é transitória e a morte é transitória.
Há várioas linhas budistas - desde as que crêem na reencarnação como as que negam alguma coisa eterna e permanente que pudesse reencarnar.
Nada é fixo ou permanente. A vida é transitória e a morte é transitória.
P - Como a morte é encarada por seus seguidores?
MC - Eu não sei. Poderia falar de alguns alunos,
algumas alunas, algumas pessoas. Um idoso, com quase noventa anos,
durante o enterro de sua irmã, me confessou: "todos dizem que foi uma
boa morte, pois morreu dormindo. Eu quero ver a morte. Quero morrer
acordado, consciente. É a grande aventura de minha vida."
P - Para o Budismo morre é apenas um momento de transição ou é um ponto final?
MC - Não há ponto final. Não há ponto inicial. Há o Interser.
Se acreditamos na Lei da Causalidade, a morte não anula todas as causas e condições criadas durante a vida. Cada instante de vida é transição.
Como dizia nosso poeta paulistano, Cassiano Ricardo, "cada instante de vida não é mais, é sempre menos. Desde o instante em que se nasce, já se começa a morrr". Cada célula viva, cada molécula, cada partícula e sub partícula - tudo está em constante movimento e transformação. Onde começa a vida? Onde termina? Nem mesmo a Biologia moderna consegue definir. Somos vida e somos morte.
Se acreditamos na Lei da Causalidade, a morte não anula todas as causas e condições criadas durante a vida. Cada instante de vida é transição.
Como dizia nosso poeta paulistano, Cassiano Ricardo, "cada instante de vida não é mais, é sempre menos. Desde o instante em que se nasce, já se começa a morrr". Cada célula viva, cada molécula, cada partícula e sub partícula - tudo está em constante movimento e transformação. Onde começa a vida? Onde termina? Nem mesmo a Biologia moderna consegue definir. Somos vida e somos morte.
P - Como lidar com o sentimento de culpa e revolta com a
perda de um filho? E dos pais? Quais as diferenças e semelhanças sob o
ponto de vista do Budismo?
MC - Tudo que começa, termina. A vida é um processo
terminal. Morrem bebês, morrem idosos. Meu mestre, Yogo Suigan Roshi,
costumava dizer às pessoas "seja qual for a idade em que morrerem - já
era tempo. Geralmente as pessoas dizem isso quando alguém morre com mais
de noventa anos. Eu digo a qualquer idade."
Não podemos controlar nem a vida nem a morte. É preciso ter humildade e fazer sempre o que for mais adequado ás circunstâncias. Assim não há culpa. Assim não há revolta. Há tristeza, há saudade, há ternura. Não devemos cultivar vinganças, rancores, revoltas, culpas. Se formos éticos, éticas e cultivarmos as virtudes aceitamos a realidade e ao mesmo tempo nos tornamos transformadores, transformadoras da realidade através de nossos gestos, pensamentos e palavras.
Não podemos controlar nem a vida nem a morte. É preciso ter humildade e fazer sempre o que for mais adequado ás circunstâncias. Assim não há culpa. Assim não há revolta. Há tristeza, há saudade, há ternura. Não devemos cultivar vinganças, rancores, revoltas, culpas. Se formos éticos, éticas e cultivarmos as virtudes aceitamos a realidade e ao mesmo tempo nos tornamos transformadores, transformadoras da realidade através de nossos gestos, pensamentos e palavras.
P - Segue rituais antes e depois da morte ? Quais?
MC - Sim. No Zen Budismo da Soto Shu, ordem à qual
pertenço, oramos pelas pessoas doentes, oramos pelos moribundos, oramos
pelos mortos. Oramos no travesseiro onde morreram, oramos ao prepará-los
para o caixão, para o velório. Oramos no velório, oramos no crematório,
oramos no enterro, oramos depois do enterro, das cinzas. Oramos nos
sétimos dias. Sete vezes sete. Quarenta e nove dias. Tempo em que se
completa um ciclo de vida-morte. Então outro ciclo se inicia. Como ondas
no mar são nossas vidas. Mas tudo é água. Causas e condições formam as
ondas e cada onda é responsável e coadjuvante de outras ondas.
Incessante e luminoso processo de vida,de morte, de vida, de morte,
devida...
P - Como ajudar uma criança a enfrentar a proximidade da morte? O que dizer? E um adolescente?
MC - Que a flor fenece, que tudo se transforma, que morrer é bom, que todos nossos ancestrais já morreram.
Que não é preciso ter medo, mas ir, ir, sempre ir com alegria para a luz infinita, sem se lastimar, pois viveu o que tinha a ser vivido - e o que é uma vida, em meio a tantas vidas?
É preciso tirar o estigma da morte - nossa amiga e companheira, que nos acolhe, sem distinção, sem discriminação. E´é secreta, misteriosa.
Que não é preciso ter medo, mas ir, ir, sempre ir com alegria para a luz infinita, sem se lastimar, pois viveu o que tinha a ser vivido - e o que é uma vida, em meio a tantas vidas?
É preciso tirar o estigma da morte - nossa amiga e companheira, que nos acolhe, sem distinção, sem discriminação. E´é secreta, misteriosa.
P - É mais fácil aceitar a morte de idosos? É verdade que o paciente sempre sabe que irá morrer?
MC - De certa forma todos sabemos o que está acontecendo com nosso corpo, pois somos este corpo.
A questão é que nos enganamos ou gostamos de ser enganados. Claro que é mais fácil aceitar a morte de idosos - como se houvessem, com o longo tempo de vida, "aproveitado a vida". Entretanto temos um sutra que diz valer mais viver um dia corretamente do que cem anos em ilusão.
Não é o tempo (conforme nós o compreendemos) que torna a morte melhor ou pior. É a qualidade da vida que vivemos e a qualidade da morte que morremos.
A questão é que nos enganamos ou gostamos de ser enganados. Claro que é mais fácil aceitar a morte de idosos - como se houvessem, com o longo tempo de vida, "aproveitado a vida". Entretanto temos um sutra que diz valer mais viver um dia corretamente do que cem anos em ilusão.
Não é o tempo (conforme nós o compreendemos) que torna a morte melhor ou pior. É a qualidade da vida que vivemos e a qualidade da morte que morremos.
P - Até que ponto vale investir na extensão da vida sem
qualidade em casos terminais? É preciso viver a doença e a morte com
dignidade? Como a religião e a fé contribuem para isso?
MC - Cada religião e cada grupo tem pareceres
diferentes sobre casos terminais. Tenho uma amiga, a Dra. Glória
Brunetti do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, com um projeto
maravilhoso de construir um centro para pacientes terminais. Pacientes
pobres, carentes. Porque pobres ou ricos, todos temos o direito de
morrer com dignidade. Ela ainda encontra muita dificuldade em conseguir
realizar seu projeto. As pessoas pensam apenas em encontrar remédios e
curas para doenças. Mas a vida é um processo terminal e precisamos
morrer bem, bem cuidados, bem amados, bem tratados.
Há várias pesquisas sobre a força da oração, da meditação nos processos de cura e de morte. Ajudam sim. Mas há também os ateus, as atéias, que morrem bem. Não é apenas a religião institucionalizada. É a espiritualidade e a confiança em si e na própria vida, na própria morte. Quem até hoje deixou de morrer?
Há várias pesquisas sobre a força da oração, da meditação nos processos de cura e de morte. Ajudam sim. Mas há também os ateus, as atéias, que morrem bem. Não é apenas a religião institucionalizada. É a espiritualidade e a confiança em si e na própria vida, na própria morte. Quem até hoje deixou de morrer?
P - No passado a morte envolvia maior
proximidade/envolvimento da família, acontecia geralmente em casa. Hoje
há um maior distanciamento, em geral acontece nos hospitais. É uma forma
mais fácil de enfrentá-la?
MC - É uma forma asséptica e distante. Não queremos
lidar com a dor. Nos hospitais o local para onde são levados os mortos é
pequeno e escondido, nos fundos. Ninguém quer falar muito sobre os que
morreram, como se fosse feio, como se fosse uma perda. Por que não temos
locais lindos e públicos para acolher os mortos, para lamentar sim essa
despedida, mas para reafirmar a vida em nossas vidas.
Antigamente e ainda nos locais carentes e simples, as pessoas morrem em casa, cercados de seus parentes, amigos. Pode ser mais agradável. Ou não? Será que no momento da morte isso importa muito? Talvez não. Mas, importa antes. E talvez importe muito para os que ficam - saber que cuidaram, que acompanharam, que compreenderam seus últimos desejos, que perceberam os sinais da morte e que fecharam seus olhos, amarraram seu maxilar e cobriram seu corpo de flores, amores.
Rituais são importantes para nós humanos. Rituais de passagem. Nós gostamos de fazê-los. Por que evitá-los? Talvez as doenças contagiosas tenham dado origem ao que temos hoje em dia. Também as dificuldades de alguém morrer em casa e a necessidade legal da verificação da morte do Instituto Médico Legal. O que é interessante é procurar manter a ternura, mesmo nas instituições hospitalares.
Muitos já fazem isso. Muitos ainda carecem disso.
Antigamente e ainda nos locais carentes e simples, as pessoas morrem em casa, cercados de seus parentes, amigos. Pode ser mais agradável. Ou não? Será que no momento da morte isso importa muito? Talvez não. Mas, importa antes. E talvez importe muito para os que ficam - saber que cuidaram, que acompanharam, que compreenderam seus últimos desejos, que perceberam os sinais da morte e que fecharam seus olhos, amarraram seu maxilar e cobriram seu corpo de flores, amores.
Rituais são importantes para nós humanos. Rituais de passagem. Nós gostamos de fazê-los. Por que evitá-los? Talvez as doenças contagiosas tenham dado origem ao que temos hoje em dia. Também as dificuldades de alguém morrer em casa e a necessidade legal da verificação da morte do Instituto Médico Legal. O que é interessante é procurar manter a ternura, mesmo nas instituições hospitalares.
Muitos já fazem isso. Muitos ainda carecem disso.
P - A nossa dificuldade de aceitar a morte hoje dificulta seu enfrentamento?
MC - Independentemente de aceitarmos ou não, a morte é.
Não precisa ser enfrentada, precisa ser experimentada. E apenas a experiência da morte pode nos dizer o que é morrer.
Não precisa ser enfrentada, precisa ser experimentada. E apenas a experiência da morte pode nos dizer o que é morrer.
P - Há uma tendência para os próximos anos diminuir a negação da morte? Por quê?
MC - Porque percebemos que a morte é necessária, é
importante e não é má. Todos morreremos. Há um obstetra, que também é
pastor, que costuma dizer ao fazer um parto "sei que nasceu e sei que
morrerá, posso apenas orar por aquilo que fará durante sua vida"
P - É possível ensinar sobre como encarar a morte? Fale da sua experiência com pacientes oncológicos e terminais.
MC - É preciso falar da morte. Algumas pacientes e
alguns pacientes não querem falar sobre a morte. Querem se auto-enganar,
que vão se recuperar. Mas, sabem que não.
É uma oportunidade preciosa poder rever sua própria vida e saber se compreender, se amar e se perdoar. A si mesma e aos outros. Todas as experiências de nossa vida e de nossa morte são a tapeçaria do universo - hoje até chamado de multiverso. Múltiplos universos convergentes e divergentes.
É preciso fazer o arrependimento. Temos um verso:
"Todo o carma prejudicial alguma vez cometido por mim
Devido á minha ganância, raiva e ignorância
Nascido de meu corpo, boca e mente
Agora, de tudo, eu me arrependo"
Este arrependimento, quase como um "mea culpa" cristão, purifica, liberta, transforma.
Arrepender-se é esforçar-se por se transformar. Nesta vida e em vidas subseqüentes a esta. Que possamos sempre nos refugiar nas Três Jóias: Buda, Darma e Sanga.
Buda - a pessoa iluminada, sábia, que tudo compreende e atua adequadamente a cada circunstância para minimizar a dor e o sofrimento do mundo - para libertar todos os seres dos medos e sofrimentos
Darma - a lei verdadeira, os ensinamentos superiores que nos levam à libertação
Sanga - a comunidade de praticantes, de seres que se propõem a viver com sabedoria e compaixão, uma vida ética e poder viver e morrer com tranquilidade.
É uma oportunidade preciosa poder rever sua própria vida e saber se compreender, se amar e se perdoar. A si mesma e aos outros. Todas as experiências de nossa vida e de nossa morte são a tapeçaria do universo - hoje até chamado de multiverso. Múltiplos universos convergentes e divergentes.
É preciso fazer o arrependimento. Temos um verso:
"Todo o carma prejudicial alguma vez cometido por mim
Devido á minha ganância, raiva e ignorância
Nascido de meu corpo, boca e mente
Agora, de tudo, eu me arrependo"
Este arrependimento, quase como um "mea culpa" cristão, purifica, liberta, transforma.
Arrepender-se é esforçar-se por se transformar. Nesta vida e em vidas subseqüentes a esta. Que possamos sempre nos refugiar nas Três Jóias: Buda, Darma e Sanga.
Buda - a pessoa iluminada, sábia, que tudo compreende e atua adequadamente a cada circunstância para minimizar a dor e o sofrimento do mundo - para libertar todos os seres dos medos e sofrimentos
Darma - a lei verdadeira, os ensinamentos superiores que nos levam à libertação
Sanga - a comunidade de praticantes, de seres que se propõem a viver com sabedoria e compaixão, uma vida ética e poder viver e morrer com tranquilidade.
Uma de minhas alunas, paciente oncológica terminal, só morreu depois
que eu a visitei e murmurei em seus ouvidos o poema do arrependimento e o
refúgio nos Três Tesouros, acima mencionados.
Parece que precisamos desse ritual, desse conforto, desse carinho.
Alguém que nos acompanhe até o final, acompanhe com respeito, não apenas com lástimas, não com o egocentrismo de "eu estou perdendo alguém", mas sem esse "eu", apenas acompanhar e se despedir.
Quando Xaquiamuni Buda estava morrendo, aos oitenta anos de idade, doente, disse a seus alunos e suas alunas:
"Não se lamentem. Tudo que começa termina. Não é meu corpo que vocês amam, mas o Darma, a Lei Verdadeira - esta sim, que liberta e salva.
Assim sendo, façam do Darma o seu Mestre e eu viverei para sempre."
(Parinirvana Sutra)
Parece que precisamos desse ritual, desse conforto, desse carinho.
Alguém que nos acompanhe até o final, acompanhe com respeito, não apenas com lástimas, não com o egocentrismo de "eu estou perdendo alguém", mas sem esse "eu", apenas acompanhar e se despedir.
Quando Xaquiamuni Buda estava morrendo, aos oitenta anos de idade, doente, disse a seus alunos e suas alunas:
"Não se lamentem. Tudo que começa termina. Não é meu corpo que vocês amam, mas o Darma, a Lei Verdadeira - esta sim, que liberta e salva.
Assim sendo, façam do Darma o seu Mestre e eu viverei para sempre."
(Parinirvana Sutra)
Mãos em prece,
Monja Coen.
Impermanência
Impermanência
A prática e entendimento da
impermanência não é apenas outra descrição de realidade. É uma ferramenta que
ajuda-nos em nossa transformação, cura e emancipação. Impermanência significa
que tudo muda e que nada permanece o mesmo em dois momentos sucessivos. E
embora as coisas mudem a todo momento, elas ainda não podem ser descritas com
precisão como as mesmas ou como diferente do que eles eram a um momento atrás.
Quando hoje nós tomamos banho em um
rio que nos banhamos ontem, é o mesmo rio? Heráclito disse que nós não podemos
entrar duas vezes no mesmo rio. Ele tinha razão. A água no rio hoje é
completamente diferente da água que nós tomamos banho ontem. Ainda é o mesmo
rio. Quando Confúcio estava na margem de um rio assistindo seu fluxo, ele
disse: "Oh, flui assim dia e noite, sem fim".
O insight da impermanência ajuda-nos
a ir além de todos os conceitos. Ajuda-nos a ir além de mesmo e diferente,
vindo e indo. Ajuda-nos a ver que o rio não é o mesmo rio mas também não é
diferente. Nos mostra que a chama que acendemos na vela antes de dormir não é
a mesma chama queimando na manhã seguinte. A chama não é duas chamas diferentes,
mas também não é a mesma chama.
Nós estamos freqüentemente tristes e
sofremos muito quando as coisas mudam, mas a mudança e a impermanência têm um
lado positivo. Graças à impermanência, tudo é possível. A própria vida é
possível. Se um grão de milho não for impermanente, nunca pode ser transformado
em um talo de milho. Se o talo não fosse impermanente, nunca poderia nos
proporcionar a espiga de milho que nós comemos. Se sua filha não for
impermanente, ela não pode crescer se tornando uma mulher. Então seus netos
nunca vão se manifestar. Portanto em vez de se queixar da impermanência, nós
deveríamos dizer, "Acolhida calorosa e vida longa a impermanência."
Nós deveríamos estar contentes. Quando nós pudermos ver o milagre da
impermanência, nossa tristeza e sofrimento passarão.
A impermanência também deveria ser
entendida a luz do inter-ser. Porque todas as coisas inter-são, elas
constantemente estão influenciando umas as outras. É dito que as asas de uma
borboleta que agitam em um lado do planeta podem afetar o tempo no outro lado.
As coisas não podem ficar do mesmo modo porque elas são influenciadas por tudo
mais.
Todos
nós podemos entender a impermanência
com nosso intelecto, mas isto não é, contudo a verdadeira compreensão.
Apenas nosso
intelecto não nos conduzirá a liberdade. Não nos conduzirá ao
esclarecimento.
Quando somos sólidos e concentramos, nós podemos praticar o olhar em
profundidade. E quando nós olhamos profundamente e vemos a natureza da
impermanência, nós
podemos ficar concentrados neste insight profundo. Isto é como o insight
da
impermanência se torna parte de nosso ser. Se torna nossa experiência
diária.
Nós temos que manter o insight da impermanência para poder ver e viver a
impermanência todo o tempo. Se nós pudermos usar impermanência como um
objeto
de nossa meditação, nós nutriremos a compreensão da impermanência de tal
modo
que ela viverá diariamente em nós. Com esta prática, a impermanência se
torna uma chave que abre a porta de realidade.
Nós também não podemos descobrir o
insight da impermanência por só um momento e depois encobri-lo e ver tudo
novamente como permanente. A maior parte do tempo nós nos comportamos como se
nossos filhos sempre fossem estar em casa conosco. Nós nunca pensamos que em
três ou quatro anos eles nos deixarão para se casar e ter as próprias famílias.
Assim nós não valorizamos os momentos que nossos filhos estão conosco.
Eu conheço muitos pais cujos filhos aos
dezoito ou dezenove anos deixam a casa e vão morar sozinhos. Os pais perdem os
seus filhos e se sentem muito arrependidos. Os pais não valorizaram os momentos
que eles tiveram com os seus filhos. O mesmo é verdade para maridos e esposas.
Você pensa que seu cônjuge estará lá por toda sua vida, mas como você pode
estar tão seguro? Nós realmente não temos nenhuma idéia de onde nossos
parceiros estarão em vinte ou trinta anos ou mesmo amanhã. É muito importante
se lembrar da prática da impermanência diariamente.
Quando alguém diz algo que te dá
raiva e você deseja que ele fosse embora, por favor olhe profundamente com os
olhos da impermanência. Se ele ou ela tivesse ido, o que você sentiria realmente?
Você estaria contente ou se lamentaria? Praticando este insight pode ser muito
útil. Há um gatha, ou poema que nós podemos usar para nos ajudar:
Com raiva na última dimensão
Eu fecho meus olhos e
olho profundamente.
Trezentos anos no futuro
Onde você estará e onde
eu estarei?
Quando nós estamos bravos, o que
fazemos normalmente? Nós gritamos, e tentamos culpar a outra pessoa por nossos
problemas. Mas olhando para raiva com os olhos da impermanência, nós podemos
parar e podemos respirar. Com raiva do outro na dimensão última, nós fechamos
nossos olhos e olhamos profundamente. Nós tentamos ver trezentos anos no
futuro. Como estará você? Como estarei eu? Onde você estará? Onde eu estarei?
Nós só precisamos inspirar e expirar, olhar para nosso futuro e o da outra
pessoa. Nós não precisamos olhar para trezentos anos a frente. Poderia ser
agora, cinqüenta ou sessenta anos no futuro quando nós estaremos falecidos.
Olhando para o futuro, nós vemos que
a outra pessoa é muito preciosa para nós. Quando nós sabemos que nós podemos a
perder a qualquer momento, nós não ficamos mais bravos. Nós queremos abraçar o
outro e dizer: "Como é maravilhoso você ainda estar vivo. Eu estou tão
contente. Como eu poderia estar bravo com você? Nós dois vamos morrer em algum
dia, e enquanto nós ainda estamos vivos e juntos é bobagem ficar bravo um com o
outro.”
A razão pela qual nós somos tolos o bastante
para nos fazer sofrer e fazermos a outra pessoa sofrer é que nós esquecemos que
nós e a outra pessoa somos impermanentes. Em algum dia quando nós morrermos,
perderemos todas nossas posses, nosso poder, nossa família, tudo. Nossa
liberdade, paz e alegria no momento presente são as coisas mais importantes que
nós temos. Mas sem um entendimento desperto da impermanência, não é possível
estar contente.
Algumas pessoas nem mesmo querem
olhar para uma outra pessoa quando a pessoa está viva, mas quando a pessoa
morre, eles escrevem obituários eloqüentes e fazem oferecimentos de flores.
Naquele momento a pessoa morreu e não pode mais desfrutar da fragrância das
flores. Se nós realmente entendemos e nos lembramos que aquela vida era
impermanente, nós faríamos tudo o que podíamos para fazer a outra pessoa feliz
aqui mesmo e agora mesmo. Se nós passamos vinte e quatro horas com raiva de
nosso amado, é porque nós somos ignorantes sobre a impermanência.
"Com raiva na dimensão
última/ Eu fecho meus olhos." Eu fecho meus olhos para praticar
visualização do meu amado cem ou trezentos anos no futuro. Quando você se
visualiza e ao seu amado trezentos anos no futuro, se sente muito feliz de vocês
estarem vivos hoje. Você abre seus olhos e toda sua raiva se foi. Você abre
seus braços para abraçar a outra pessoa e você pratica: "Inspirando você
está vivo, expirando eu estou tão contente." Quando você fechar seus olhos
para visualizar a outra pessoa trezentos anos no futuro, você está praticando a
meditação na impermanência. Na dimensão última, não existe raiva.
Ódio também é impermanente. Embora
nós possamos ser consumidos pelo ódio neste momento, se nós soubermos que o
ódio é impermanente, nós podemos fazer algo para mudar essa situação. Da mesma
forma que com a raiva, nós fechamos nossos olhos e pensamos, onde nós estaremos
em trezentos anos? Com a compreensão do ódio na dimensão última, ele pode
evaporar em um momento.
Porque somos ignorantes e nos
esquecemos de impermanência, nós não nutrimos nosso amor corretamente. Quando
nos casamos, nosso amor era grande. Nós pensávamos que se nós não tivéssemos um
ao outro não poderíamos viver nem mais um dia. Porque não soubemos praticar a
impermanência, depois de um ou dois anos nosso amor se tornou frustração e
raiva. Agora desejamos saber como poderemos sobreviver mais um dia tendo que
conviver com a pessoa que amamos tanto no passado. Nós decidimos que não há
nenhuma alternativa: queremos o divórcio. Se nós vivermos com a compreensão da
impermanência, cultivaremos e nutriremos nosso amor. Só assim ele durará. Você
tem que nutrir e cuidar seu amor para ele crescer.
(Do livro “No death, no fear” – Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
Extraído em http://sangavirtual.blogspot.com
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