A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

EU MAIOR - entrevista com Leonardo Boff

Orvalho


Por Ivan Deus Ribas

Cada orvalho que cai
É uma centelha de luz
Um barquinho em forma de água
Que traz consigo o condão da vida
Quedada sobre a terra
Beneficia seres celestes (terrestres)...
Permitindo, a todos os seres
Plantas, insetos e o próprio homem
Igualmente, se tornarem barquinhos
Para nutrir e espalhar a vida...
Seja como for
Pelo colorido, pela beleza
Por alimentar
Inspirando...
Cumprindo amorosamente seu papel
Assim, uno minhas mãos
Agradeço.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

As chaves para o Reino de Deus

Por Thich Nhat Hanh

Boa tarde, querida Sangha. Nos ensinos do Cristianismo e do Judaísmo existe o “Reino de Deus”. No budismo, falamos sobre a Terra do Buda, o Campo do Buda. Talvez você preferisse chamá-lo de “Reino do Buda”. Em Plum Village nós dizemos que o Reino de Deus é agora ou nunca e esta é a nossa prática. Em Plum Village o reino de Deus, a Terra Pura do Buda, não é apenas uma idéia. É algo que você pode provar, tocar, algo que você pode viver na sua vida diária. É possível reconhecer o Reino de Deus, o Reino do Buda,  quando ele está ali. Na tradição budista a Terra do Buda ou a Terra Pura é um centro de prática onde o Buda e os grandes Bodhisattvas são professores e todos nós somos praticantes.

Praticar é trazer a tona mais entendimento e compaixão. A felicidade não seria possível sem entendimento e compaixão. Minha definição do Reino de Deus é de que ele é um lugar onde existe entendimento, onde existe compaixão, e onde todos nós podemos aprender a ser mais compreensivos e compassivos. Nisso todos concordamos. Mas há algo mais sobre o que nós deveríamos concordar – se há ou não sofrimento no Reino de Deus, na Terra Pura do Buda.

Se paramos para olhar a questão profundamente, veremos que o entendimento e a compaixão se originam do sofrimento. Entendimento é o entendimento do sofrimento, e compaixão é o tipo de energia que pode transformar o sofrimento. Se o sofrimento não está presente, nós não temos meios de cultivar o nosso entendimento e nossa compaixão. Isso é algo muito simples de ver.

Se você vem a Plum Village no verão, encontra muitas flores de lótus. Sem a lama, as flores de lótus não podem crescer. Você não pode separar as flores de lótus da lama. O mesmo ocorre com o entendimento e o amor. Estes são dois tipos de flores que crescem no terreno do sofrimento.

Eu não gostaria de enviar meus filhos a um lugar onde não houvesse sofrimento, porque eu sei que em tal lugar eles não teriam a chance de desenvolver sua compaixão e seu entendimento. Eu não sei se meus amigos que vêm do Cristianismo ou do Judaísmo podem aceitar isso – que há sofrimento no Reino de Deus – mas no ensino Budista está claro que o sofrimento e a felicidade “inter-são”. Onde não há sofrimento, também não há felicidade. Sabemos por nossas próprias experiências que é impossível cultivar mais entendimento e compaixão se o sofrimento não estiver presente. É com a lama que podemos criar flores. É com o sofrimento que podemos criar compaixão e entendimento.

Eu posso aceitar, e muitos amigos meus podem aceitar, que há sofrimento na Terra Pura, no Campo do Buda, porque nós precisamos de sofrimento para cultivar nosso entendimento e compaixão, os quais são essenciais para a Terra Pura, para o Reino de Deus. Nós aprendemos através do sofrimento. Se somos capazes de cultivar o entendimento das coisas, isso é devido ao sofrimento. Se você é capaz de cultivar a compaixão, é por conta da existência do sofrimento.

Eu penso que seja muito importante re-examinarmos nossa noção de “Reino de Deus”, da Terra Pura do Buda, e não mais pensar que este é um local onde não existe sofrimento de modo algum. Logicamente, isso é impossível. Muitos de nós pensam no Reino de Deus, no Reino do Buda, como algo que pertence ao futuro, para além desta vida. Em termos de tempo e espaço, o Reino de Deus estaria distante.

Eu lembro quando, mais ou menos há 40 anos, fui pela primeira vez aos Estados Unidos para falar sobre a guerra no Vietnam. Fui convidado por muitos grupos e me lembro de ter falado em uma igreja nos arredores da Filadélfia onde a maioria dos praticantes eram negros. Eu disse a eles que o Reino de Deus é o “agora”, está bem aqui, e que você não tem que morrer para entrar no Reino de Deus. De fato, você tem que estar bem vivo para ser capaz de entrar nele. Para mim, estar vivo é estar presente, estar concentrado e livre. É este o tipo de passaporte que você precisa para ser aceito no Reino de Deus: plena consciência, concentração, liberdade.

Se você pertence à população do Reino de Deus, você é um praticante porque você está produzindo entendimento e amor em sua vida diária. Isso faz com que o Reino de Deus continue a ser o Reino de Deus. Se a população do Reino não pratica entendimento e amor, ela perde o Reino em dois segundos porque a essência do Reino é entendimento e amor.

É muito fácil visualizar o Reino do Buda como um centro de prática onde há professores do dharma nos ensinando, nos ajudando a cultivar o entendimento e a compaixão. Todos gostam da prática, porque na medida em que produzem mais entendimento e compaixão, sofrem menos. São capazes de transformar o sofrimento em compaixão, em entendimento, em felicidade. A prática em Plum Village é a de experimentar o Reino de Deus, a Pura Terra do Buda, em sua vida diária.

Tudo bem, você pode dizer que o Reino é agora, é bem aqui, mas isso não é suficiente. Nós temos que ajudar o Reino a se manifestar. Sem plena consciência, concentração e um pouquinho de liberdade você não pode fazer isso.

O Reino de Deus está situado em seu córtex cerebral, em sua mente. Muitos de nós tem um computador, um PC ou um Macintosh, e muitos de nós usam seu computador apenas para fazer trabalhos como processamento de texto ou verificação da bolsa de valores. Mas um PC ou um Macintosh medianos podem fazer muito mais do que isso. Nós usamos apenas dez por centro da sua capacidade. Se soubermos como fazer uso das outras capacidades do computador, poderemos realizar muitas outras coisas.

O mesmo é verdadeiro em relação ao nosso córtex cerebral, em relação a nossa mente e espírito. Se você sabe como usar a poderosa energia do entendimento e da compaixão, pode resolver muitos problemas da sua vida diária. Há um poderoso computador dentro de nós e devemos aprender como usá-lo de modo apropriado para que sejamos capazes de lidar com as situações diárias que nos fazem sofrer.

O Buda propôs que praticássemos de acordo com o Nobre Caminho Óctuplo. Se seguirmos suas instruções de praticar a visão correta, o pensamento correto, a fala correta e a ação correta, seremos capazes de explorar um vasto território de nossa mente e permitir que aqueles poderes maravilhosos venham e nos resgatem. De fato, limitamos a nós mesmos a um pequeno círculo. Nosso pensar é muito estreito, e é por isso que sofremos muito mais do que um Buda ou um Bodhisattva.

Nós pensamos o tempo todo, e muitos de nossos pensamentos não são muito positivos; eles nos fazem vítimas do pensamento negativo. Quando você diz, “não sirvo para nada”, este é o tipo do pensamento que tem o poder de fazer você sofrer. “Eu nunca vou conseguir terminar tal coisa. Eu não consigo meditar. Eu não consigo perdoar. Eu estou desesperado. Eu nunca terei sucesso se fizer tal coisa”. Ou, “ele quer me destruir. Ninguém me ama”. Este tipo de pensamento é o oposto daquilo que o Buda chamou de pensamento correto.

Há em nós a capacidade de entender e de amar. Como não estamos acostumados a estar em contato com a região do entendimento e da compaixão, não conseguimos produzir pensamentos belos, na direção de um pensar correto.

Imagine que um amigo ou mesmo seu irmão ou irmã não entendem você. Imagine que você pensa que seu professor não gosta de você. Quando você cultiva este tipo de pensamento, você sofre. Aquele pensamento pode não ter nada a ver com o que acontece realmente. Você continua a ruminar este pensamento ou outros do mesmo tipo, e logo você cairá em um estado de depressão porque você não está praticando o pensamento correto.

“Meu irmão deve ter dito algo sobre mim para meu professor. É por isso que ele não olhou para mim esta manhã”. Seu pensamento pode estar totalmente errado, e você deve estar atento para o fato de que seu pensamento é só um pensamento. Não corresponde à realidade. Se você pensar “Meu professor não me entende, mas eu sou capaz de ajudá-lo a me entender”, este é um pensamento positivo. Você não é mais uma vítima.

O Buda propôs a prática do pensamento correto. Durante a meditação sentado ou durante os horários de trabalho, pensamentos como aqueles podem surgir, mas você não se permite ser uma vítima de pensamentos negativos. Você somente permite que eles venham e você os reconhece. Isto é um pensamento, e este pensamento é apenas um pensamento; não é a realidade. Mais tarde, você pode escrevê-lo em um pedaço de papel e olhar para ele. Quando você é capaz de reconhecer seu pensamento, não mais é vitima dele. Você é você mesmo, mesmo que estes pensamentos sejam negativos.

Um pensamento não vem do nada. Há um campo de onde ele surge. Em sua  mente há medo, raiva, preocupação, mal entendimentos. E um pensamento emerge destes territórios. Mas em sua mente há também o território vasto da compaixão e do entendimento. Você deve entrar em contato com o Reino do Buda, o Reino de Deus, em sua mente. Então estes territórios darão origem a muitos pensamentos belos, na direção do pensamento correto.

Quando você reconhece um pensamento, talvez você tenha vontade de sorrir para ele e fazer a pergunta, em qual campo da minha mente ele foi produzido? Você não precisa fazer muito esforço. Você apenas sorri para seu pensamento e agora você reconhece que o pensamento nasceu do território da percepção errada, do medo, da raiva ou do ciúme.  Quando você é capaz de produzir um pensamento que vai na direção do pensamento correto, este pensamento terá um efeito imediato em sua saúde física e mental. E ao mesmo tempo ele tem um efeito na saúde do mundo.

Quando você produz um pensamento negativo que se originou de seu medo, raiva ou pessimismo, tais como “eu não valho nada, eu não consigo fazer nada, minha vida é uma derrota”, este tipo de pensamento terá um efeito muito ruim em sua saúde mental e física. A prática oferecida pelo Buda não é a de suprimir o pensamento negativo, mas a de estar atento e consciente. “Este é um pensamento negativo. Eu permito que ele seja reconhecido”. Quando você é capaz de reconhecer tal pensamento, alcança um grau de liberdade pois não é mais uma vítima daquele pensamento.

Mas se você não é um praticante, continua ruminando a situação negativa e isso o fará cair em um estado de depressão. Reconhecer a presença de um pensamento ou sentimento é muito importante. Esta é a prática básica de um praticante de meditação. Você não tenta suprimir os sentimentos e os pensamentos. Você permite que seus pensamentos e sentimentos se manifestem. Mas você tem que “estar lá” para ser capaz de reconhecer sua presença. Fazendo isso, você está cultivando sua liberdade.

Em nossa vida diária nós permitimos que estes pensamentos e sentimentos apareçam e não somos capazes de reconhecer sua presença. Por causa disso, nos tornamos vítimas destes pensamentos, sentimentos e emoções. Nós nos perdemos no reino dos sentimentos, pensamentos e percepções porque não estamos realmente presentes. A prática é estar presente no aqui e no agora e testemunhar o que está acontecendo, examinar isso, estar atento. Esta é a prática da liberdade.

Estamos acostumados a permitir que nossa mente persiga o prazer e evite aquilo que é desagradável. Nossos pensamentos seguem o mesmo padrão: correr, seguir, procurar aquilo que é prazeroso; e tentar fugir, evitar o desagradável. Por causa disso, perdemos nossa liberdade. Não sabemos que estamos correndo atrás de algo e tentando evitar algo. Nós somos carregados pelos nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas percepções.

Imagine um avião no piloto automático. O avião pode alcançar seu destino, pode fazer as coisas para as quais foi requisitado, sem a necessidade da presença de qualquer ser humano dentro dele. Muito freqüentemente nós nos comportamos desta forma. Ficamos no piloto automático. Não estamos presentes para testemunhar o que está acontecendo.

A prática que é proposta pelo Buda é a de estar aqui, ficar presente, estar verdadeiramente vivo. É você saber o valor de cada pensamento, de cada sentimento, de todas as suas percepções. É saber que há territórios os quais você não descobriu dentro de você mesmo. É não se permitir ser arrebatado. Você quer ser você mesmo. Você não quer estar no piloto automático.

Toda vez que um pensamento, sentimento, ou emoção emerge, você quer estar ali para controlar a situação. Você não quer ser levado. Você sorri para seus pensamentos, para seus sentimentos, para suas emoções. Você não quer reagir imediatamente porque a energia de hábito em você o impulsiona a responder rapidamente aos sentimentos, às emoções, ao pensamento que acabou se surgir. Isso é extremamente importante.

Você diz a si mesmo: “Bom, isso é um pensamento, isso é um sentimento, isso é uma emoção. Eu sei que eles estão em mim, mas eu não sou apenas aquele pensamento, aquele sentimento, aquela emoção. Sou muito mais do que isso. Eu tenho um tesouro de entendimento, compaixão, amor, sabedoria em mim, e eu quero que estes elementos avancem para me ajudar a colocar a situação em ordem, para me ajudar a estar no caminho correto”.

Você dá a si mesmo o tempo para inspirar e expirar o ar. Você não se apressa em reagir ou tomar alguma atitude. E enquanto você está respirando você dá aos maravilhosos elementos positivos dentro de você a chance de intervir.

Há um computador dentro de nós, e este computador tem muito poder. Se você souber como usar este poder você pode transformar a situação. Você pode trazer muita luz, alegria e compaixão para a situação. Por não se permitir ser levado embora, você dá a si mesmo uma perspectiva alternativa através da qual você pode ver as coisas mais claramente. Você não está com pressa de reagir, de chegar logo a uma conclusão. Você apenas fica ciente da situação, o que está se manifestando em você e ao seu redor. A prática da respiração consciente e do caminhar consciente, te dá espaço, o que permite que os elementos positivos intervenham. Você permite que o Buda, o Reino de Deus em você tenham uma chance.

Dentro de nós há um território de depressão, um território de inferno, e nossos pensamentos negativos e emoções são tecidos nestes territórios.  Mas nós sabemos que em  nós há também o território do Reino de Deus, da Terra do Buda. Há a semente poderosa da compaixão e sabedoria dentro de nós. Se dermos chance a elas, elas poderão vir e nos resgatar.

(Palestra do Dharma da véspera de Ano Novo por Thich Nhat Hanh -31 de dezembro de 2005)
Traduzido por Letícia Rothen

Texto extraído do blog: http://sangavirtual.blogspot.com

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Agenda de Atividades


Queridos amigos, irmãos e irmãs,

destacamos abaixo os dias e horários da nossa prática. As atividades são gratuitas e abertas a todos os interessados. Sejam bem-vindos, bienvenidos, welcome, namastê, haribool, gasshô!

3ª feira - Meditação e leitura - 20:00

Sábado
- Meditação e leitura - 08:00

Recomendamos roupas leves.

Informações:
(65)3052-6634 - Ligia
(65)8143-4379 - Ivan

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Rio dos sentimentos

Por Thich Nhat Hanh

Nossos sentimentos desempenham um papel muito importante por dirigirem todos os nossos pensamentos e ações. Existe em nós um rio de sentimentos, no qual cada gota d'água é um sentimento diferente e cada um depende de todos os outros para sua existência. Para observar esse rio, sentamo-nos à sua margem e identificamos cada sentimento à medida que ele vem à tona, passa por nós e desaparece.

Há três tipos de sentimentos — agradáveis, desagradáveis e neutros. Quando temos um sentimento desagradável, podemos querer afastá-lo. O mais eficaz é voltar à nossa respiração consciente e apenas observá-lo, identificando-o em silêncio para nós mesmos. "Inspirando, sei que há um sentimento desagradável em mim. Expirando, sei que há um sentimento desagradável em mim." Chamar o sentimento pelo seu nome, "raiva", "tristeza", "alegria" ou "felicidade", nos ajuda a identificá-lo com clareza e reconhecê-lo em maior profundidade.

Podemos usar nossa respiração para entrar em contato com nossos sentimentos e aceitá-los. Se nossa respiração for leve e tranqüila — resultado natural da respiração consciente — nossa mente e nosso corpo irão lentamente se tornando leves, tranqüilos e claros. E da mesma forma nossos sentimentos. A observação plenamente consciente se baseia no princípio da "não-dualidade": nosso sentimento não está separado de nós nem foi causado apenas por algo externo a nós. Nosso sentimento é nosso eu, e temporariamente nós somos esse sentimento. Não submergimos nesse sentimento, nem nos aterrorizamos com ele, tampouco o rejeitamos. Nossa atitude de não nos agarrarmos aos nossos sentimentos e de tampouco rejeitá-los é a atitude de desapego, uma parte vital da prática da meditação.

Se encararmos nossos sentimentos desagradáveis com cuidado, afeição e não-violência, podemos transformá-los naquele tipo de energia que é saudável e que tem a capacidade de nos nutrir. Através da observação consciente, nossos sentimentos desagradáveis podem ser muito esclarecedores para nós, proporcionando-nos revelações e compreensão a respeito de nós mesmos e da nossa sociedade.

A não-cirurgia

A medicina ocidental dá ênfase demais à cirurgia. Os médicos querem eliminar o que não for desejável. Quando temos algum distúrbio no corpo, eles muitas vezes nos aconselham uma operação. O mesmo parece se aplicar à psicoterapia. Os terapeutas pretendem nos ajudar a descartar o que é indesejável e manter somente o que é desejável. Mas o que sobra pode não ser muito. Se tentarmos nos livrar do que não queremos, podemos nos livrar da maior parte de nós mesmos.

Em vez de agir como se pudéssemos nos desfazer de partes de nós mesmos, deveríamos aprender a arte da transformação. Podemos transformar nossa raiva, por exemplo, em algo mais salutar, como a compreensão. Não precisamos de cirurgia para eliminar nossa raiva. Se nos enfurecermos com nossa raiva, teremos duas raivas ao mesmo tempo. Devemos apenas observá-la com amor e atenção. Se cuidarmos da nossa raiva dessa forma, sem tentar fugir dela, ela se transformará. E uma pacificação. Se estivermos em paz em nosso íntimo, poderemos aceitar nossa raiva. E possível tratar a depressão, a ansiedade, o medo ou qualquer sentimento desagradável dessa mesma forma.

Transformando os sentimentos

O primeiro passo ao lidar com os sentimentos é reconhecer cada sentimento no instante em que surge. O meio para isso é a plena consciência. No caso do medo, por exemplo, você recorre à plena consciência, olha para o medo e o reconhece como medo. Você sabe que o medo brotou de você mesmo e que a plena consciência também brotou de você mesmo. Os dois estão em você, não em luta, mas um cuidando do outro.

O segundo passo consiste em se tornar uno como sentimento. Melhor não dizer, "Vá embora, Medo. Não gosto de você. Você não é eu." Muito mais eficaz é dizer, "Oi, Medo. Como é que você está hoje?" Em seguida, você pode estimular esses seus dois aspectos, a plena consciência e o medo, a se cumprimentarem como amigos e a se unirem. Isso pode parecer assustador, mas, como você já sabe que você é mais do que seu medo, não é preciso se amedrontar. Desde que sua mente esteja alerta, ela fará companhia ao seu medo. A prática fundamental é nutrir a plena consciência com a respiração consciente, para mantê-la alerta, cheia de vida e força. Embora no inicio sua plena consciência possa não ser muito potente, se você a alimentar, ela se tornará mais forte. Contanto que a sua consciência esteja plena e presente, você não será submerso pelo medo. Na realidade, você começará a transformá-lo no exato instante em que dentro de si der à luz a percepção.

O terceiro passo é o de acalmar o sentimento. Como a consciência plena está cuidando bem do seu medo, ele começa a acalmar-se. "Inspirando, acalmo as atividades do corpo e da mente." Você acalma seu sentimento só por estar com ele, como uma mãe segurando ternamente o filhinho que chora. Ao sentir a ternura da mãe, o neném se acalma e pára de chorar. A mãe é sua mente alerta, nascida das profundezas da sua consciência, e ela tratará do sentimento da dor. A mãe que segura o bebê forma uma unidade com ele. Se a mãe estiver pensando em outras coisas, a criancinha não se acalmará. A mãe tem de abandonar as outras coisas e apenas segurar seu filhinho. Por isso, não evite seu sentimento. Não diga, "Você não é importante. Você é só um sentimento." Passe a formar uma unidade com ele. Você pode dizer, "Expirando, acalmo meu medo."

O quarto passo é largar o sentimento, soltá-lo. Graças à sua calma, você está à vontade, mesmo em meio ao medo; e sabe que esse medo não vai crescer e se transformar em algo esmagador. Quando você se descobre capaz de tomar conta do seu medo, ele já está reduzido a um mínimo, tornando-se mais brando e menos desagradável. Agora você pode sorrir para ele e deixá-lo partir, mas por favor não pare por aqui. Acalmar e largar um sentimento são apenas curas para os sintomas. Você agora tem a oportunidade de se aprofundar e trabalhar na transformação da raiz do seu medo.

O quinto passo é olhar profundamente. Você examina em profundidade o seu bebê — seu sentimento de medo — para ver o que está errado, mesmo depois que o bebê parou de chorar, mesmo depois que o medo se foi. E impossível segurar uma criança no colo o tempo todo. Por isso, você deve examiná-la para ver a causa do que está errado. Com esse exame, você verá o que o ajudará a começar a transformar o sentimento. Você perceberá, por exemplo, que seu sofrimento tem muitas causas, internas e externas ao seu corpo. Se há algo de errado em volta dele, se você conserta a situação, com carinho e cuidado, ele se sentirá melhor. Ao examinar seu bebê, você verá os elementos que o estão fazendo chorar. Ao vê-los, você saberá o que fazer e o que não fazer para transformar o sentimento e se sentir livre.

Esse processo é semelhante ao da psicoterapia. Em companhia do paciente, o terapeuta observa a natureza da dor. Muitas vezes, o terapeuta pode revelar causas de sofrimento que se originam da forma pela qual o paciente encara a vida, das opiniões que ele tem sobre si mesmo, sobre a sua cultura e o mundo em geral. O terapeuta examina esses pontos de vista e essas opiniões com o paciente, e juntos eles colaboram para libertá-lo daquele tipo de prisão em que estava. No entanto, o esforço do paciente é crucial. O professor deve trazer à luz o professor que existe dentro do aluno; e o psicoterapeuta deve trazer à luz o psicoterapeuta que está no íntimo do seu paciente. O "psicoterapeuta interno" do paciente poderá então trabalhar em tempo integral de uma forma muito eficaz.

O terapeuta não trata do paciente simplesmente lhe repassando um outro conjunto de opiniões. Ele tenta ajudar o paciente a perceber que tipos de idéias e de crenças levaram ao seu sofrimento. Muitos pacientes querem se ver livres dos sentimentos dolorosos, mas não querem se livrar das opiniões, dos pontos de vista que são as verdadeiras raízes dos seus sentimentos. Portanto, o terapeuta e o paciente têm que trabalhar juntos para ajudar o paciente a ver as coisas como elas são. O mesmo vale para quando recorremos à plena consciência para transformar nossos sentimentos. Depois de reconhecermos o sentimento, de nos tornarmos unos com ele, de o acalmarmos e de o largarmos, podemos examinar suas causas em profundidade. Elas muitas vezes se baseiam em percepções incorretas. Assim que compreendemos as causas e a natureza dos nossos sentimentos, eles começam a se transformar.

(Thich Nhat Hanh. Paz a cada passo: como manter a mente desperta em seu dia-a-dia. Tradução de Waldéa Barcellos)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Thich Nhat Hanh, o suave monge do Vietnã

Por Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF

Há uma tendência das pessoas no Ocidente identificarem o budismo como uma religião monástica desligada do mundo, voltada exclusivamente para a prática da meditação. Trata-se de uma visão distorcida e inadequada, sobretudo quando se busca captar o budismo do século XX e o contemporâneo.

Em precioso artigo de Sallie King sobre a espiritualidade budista contemporânea e ativismo social (A espiritualidade budista II. São Paulo: Perspectiva, 2007), a autora busca focalizar "as bases espirituais desse novo budismo e algumas das principais formas de seu ativismo social". A espiritualidade e o ativismo social estão intimamente relacionados no budismo contemporâneo.

Dentre as iniciativas pioneiras podem ser destacadas as impulsionadas pelo monge Thich Nhat Hanh no Vietnã, em particular o seu trabalho junto à Escola de Jovens para o Serviço Social, criado em 1964. Há no Brasil vários livros publicados sobre esse monge, entre os quais: Para viver em paz (Vozes); Vivendo Buda, vivendo Cristo (Rocco); Paz a cada passo (Rocco) e Os cinco treinamentos para a mente alerta (Vozes). Thâi, como ficou conhecido esse "suave monge", nasceu em 1926, em região central do Vietnã, tendo-se ordenado monge em 1942. Depois de atuar no Instituto Budista An Quang, que ajudou a criar, foi para os Estados Unidos em 1961 para estudar e lecionar religião comparada nas Universidades de Princeton e Columbia. Sob os apelos de seus companheiros monges no Vietnã, retorna ao seu país natal em 1963, para atuar no movimento de resistência não violenta aos desmandos do regime de Ngo Dinh Diem, no Vietnã do Sul. É no contexto dessa resistência que ele funda, em 1964, junto com um grupo de professores e estudantes universitários, a Escola da Juventude para o Serviço Social, que mobilizou centenas de jovens para atuar no campo em trabalhos de educação e saúde, e mais tarde na reconstrução das aldeias bombardeadas. Era um "pequeno corpo de paz", como o trabalho veio nomeado pela imprensa americana.

Mesmo evitando um posicionamento partidário durante a guerra do Vietnã, muitos jovens das equipes de assistentes sociais sofreram a violência da perseguição. Muitos deles foram raptados ou mortos pelos dois lados em litígio. Como relata Thâi, "alguns de nossos assistentes foram assassinados por católicos fanáticos que suspeitavam que trabalhávamos para os comunistas, e alguns de nossos assistentes foram presos pelos comunistas". Esses jovens eram figuras populares no campo, e incluíam monjas e monges, que sem receber nenhum salário dedicavam-se à "generosidade amorosa", entendida como serviço e prática do budismo. Um dos rapazes do grupo, chamado An, questionado numa ocasião por um granjeiro que se mostrou admirado pelo serviço gratuito realizado por eles, responde que esse serviço era uma forma de conquistar "merecimentos". Surpreso com a resposta, o granjeiro insistiu: "Eu aprendi que para conquistar merecimentos as pessoas devem ir ao templo. Por que você está conquistando merecimentos aqui?" A resposta veio espontânea: "Sabe, tio, nesses tempos as pessoas sofrem tanto que até mesmo Buda tem de sair para ajudar. Nós, estudantes do Buda, estamos conquistando merecimentos aqui mesmo, onde vocês estão sofrendo". Essa declaração do jovem vietnamita tornou-se, como lembra Thâi, a base essencial da filosofia de serviço social do budismo engajado. O trabalho se irradiava, apesar dos poucos recursos, e os jovens eram amados pelas pessoas. O trabalho, porém, suscitou muita reação e ódio tanto do governo, apoiado pelos Estados Unidos, como da oposição comunista. Muitos assistentes sociais budistas morreram nesse trabalho, e mesmo Thâi escapou por pouco.

Como forma de ampliar o apoio à resistência não violenta, Tich Nhat Hanh aceita o convite da Universidade de Cornell e da Fraternidade da Reconciliação (Fellowship of Reconciliation), chegando aos Estados Unidos em 1966. Seus relatos sobre a dolorosa situação no país e suas propostas pacíficas, em favor da reconciliação, ganham alcance inusitado. Comovido com sua atuação, Martin Luther King chega a indicá-lo ao Nobel da Paz de 1967, e assinala: "Não sei de ninguém que mereça o Prêmio Nobel da Paz mais do que esse suave monge do Vietnã". O monge vietnamita também vem acolhido com carinho por Thomas Merton, em sua abadia de Gethsêmani. A força e a presença do "suave monge" vem percebida por Merton já na forma como ele abriu a porta e entrou em seu aposento. Seu gesto e presença falam mais forte que suas palavras. É um "verdadeiro monge" e um irmão. Sobre ele testemunha Merton:

"Thich Nhât Hanh deixou seu país e veio até o nosso para mostrar o quadro que revistas e jornais não nos revelam. Eu tenho mais em comum com ele do que com muitos americanos, e não hesito em dizê-lo. É de vital importância que tais laços sejam admitidos. Porque são os laços de uma nova solidariedade, de uma nova fraternidade, que começa a se evidenciar nos cinco continentes e ultrapassa os marcos políticos, religiosos e culturais, para unir homens e mulheres de todos os países em algo que é mais concreto do que um ideal e mais vivo do que um programa. Esta união é a única esperança para o mundo".

Thâi chegou a ter importantes reuniões com personalidades americanas, incluindo também duas audiências com o papa Paulo VI, a quem recomendou vivamente seu projeto de cooperação entre católicos e budistas, em favor da paz no Vietnã. Incorporou-se também, em 1969, à delegação budista das conversações de paz em Paris. Na sequência da assinatura dos acordos de paz, em 1973, vem-lhe negada a permissão de retornar ao Vietnã, passando a viver no exílio na França. Depois de alguns anos vivendo em pequena comunidade, nas proximidades de Paris, funda em 1982 a Plum Village, um centro de retiro e reflexão budista, em Bordeaux, no sudoeste da França.

Dentre os traços de seu pensamento está a ênfase na prática da mente alerta, que envolve uma profunda reverência para com a vida, a generosidade amorosa e a abertura desarmada ao outro. Para Thâi, o cultivo da compaixão e da generosidade é essencial para a defesa da vida, que se irradia por toda parte, "dentro de nós e à nossa volta". Como reação à destruição dessa vida, e todo o sofrimento decorrente, propõe caminhos alternativos: "É importante que estejamos em contato com o sofrimento do mundo. Precisamos nutrir esta consciência através de vários meios – sons, imagens, contato direto, visitas e assim por diante – para manter a compaixão viva dentro de nos". Um contato que deve ser realizado de forma equilibrada, para evitar sofrimento maior. Deixar-se habitar pelo sofrimento do mundo é forma de manter aquecida sua memória, possibilitando o fluir da compaixão dentro de cada um, e acionando as energias necessárias para as ações.

Captar o âmago da compaixão, segundo Thâi, é ser capaz de reconhecer o sofrimento físico, material e psicológico do outro, bem como se envolver na pele do outro. Compadecer-se do outro é presenciar seu sofrimento com o próprio olhar, é "sofrer com o outro". Para que haja, de fato, compaixão é necessário também romper com todo sentimento de apego ou cobiça (tanha). É nesse apego que está a raiz de todo o sofrimento para o budismo. A prática budista possibilita "compreender vivencialmente o vazio último ou a não-existência desse ´eu' e, como consequência, podemos nos libertar do impulso constante de servir o ´eu'". É aqui que reside a base do ativismo social budista, como mostra com acerto Sallie King:

"Se a pessoa que eliminou o ´eu' se torna consciente de que uma ´outra' pessoa (ou ser sensiente) está sofrendo, a resposta natural é fazer algo para aliviar a dor, assim como faríamos naturalmente o que fosse necessário para aliviar nossa ´própria' dor; isto é, a dor de um ´outro' é nossa ´própria' dor. Quando o sofrimento se torna agudo e disseminado, como aconteceu com o povo vietnamita durante a guerra, então presenciamos centenas de milhares de monges, monjas e leigos atuando de forma não-violenta, para dar fim a ele".

Para o exercício de afirmação da mente alerta, requer-se também a busca da paz interior. Para isso contribui a prática da respiração consciente e o equilíbrio interior. Na contramão da tendência ocidental, voltada para a produtividade e a lógica dos resultados, Tich Nhât Hanh propõe a atenção permanente ao caminho, e não somente aos objetivos. Há que parar para se trabalhar e refletir com calma e paciência sobre os passos seguintes, mas também, em alguns casos, parar sem objetivo definido. Diz o pequeno monge: "Precisamos aprender a parar de vez em quando a fim de ver com nitidez". É o sagrado momento para a "cura" do sujeito. Algo semelhante diz Thoma Merton, em seu belo livro, Homem algum é uma ilha (1955). Sublinha ali a importância do desapego como condição essencial para a paz interior. Não é só mediante a ação e o trabalho que se processa o crescimento do ser. Há necessidade de "pausas" e "silêncios" para essa modelação da subjetividade. Diz ele:

"Há ocasiões, portanto, em que, para guardarmos a nossa existência, temos simplesmente de ficar sem fazer nada. E para um homem que se deixou arrastar completamente fora de si por sua atividade, nada é mais difícil do que ficar em sossego, sem fazer nada. O próprio ato de repousar é o ato mais difícil e mais corajoso que ele pode realizar: e, muitas vezes, está acima de suas forças".

E nessa busca da paz interior, sublinha Thâi, há que manter vivo o otimismo, apesar das sombras existentes. Indica que o cultivo da paz interior e da capacidade de sorrir, são essenciais para irradiação da fragrância da paz no meio envolvente. É retomar o "sorriso de Buda", em resposta ao discípulo Mahakashyapa, que reage com sorriso ao giro da flor de udumbara. A reação do discípulo não foi movida por pensamento, mas por sensibilidade e atenção. Daí pôde perceber a flor e sorrir. Na verdade, "a técnica de estar alerta faz com que você retorne a si mesmo para que a criança surja como uma realidade maravilhosa. Você pode, então, vê-la sorrir e dar-lhe um abraço".

Toda a engajada reflexão de Tich Nhât Hanh sugere que o exercício espiritual não está restrito a um espaço privilegiado, mesmo que seja o do templo. Todos os lugares são propícios ao crescimento interior. O cotidiano é a via possível da irradiação espiritual e o instante seu momento de celebração. A meditação deve acontecer em qualquer lugar. Todo ato envolve um ritual: "Se você está lavando pratos, deve considerar esta atividade a coisa mais importante da vida. Se estiver usando o banheiro igualmente: o ato de usá-lo será a coisa mais importante da vida. E assim por diante. Cortar lenha é meditar. Carregar água é meditar. Mantenha a mente alerta 24 horas por dia, não apenas nas horas que tiver reservado para uma meditação formal, ou para leitura de textos sagrados ou oração".

A generosidade que se requer para o treinamento da mente alerta envolve também o campo inter-religioso. A generosidade é a "capacidade de trazer alegria e felicidade a outra pessoa ou ser vivo". Num tempo marcado pelo pluralismo religioso, esta generosidade implica a abertura de coração e braços para acolher com delicadeza e ternura o diferente. A generosidade envolve todo um trabalho interior de quebra dos "nós" ou das "formações internas" adversas, que impossibilitam a abertura do coração. Para implementar esta perspectiva, Tich Nhât Hanh cunhou um termo que é muito feliz: inter-ser. Em sua visão, "ser é inter-ser. Não podemos ser simplesmente sozinhos ou isolados. Temos de interser com tudo mais". Ao perceber "a natureza da interexisitência, as barreiras entre nós e os outros se dissolvem, e a paz, o amor e o entendimento tornam-se possíveis. Onde quer que exista o entendimento, nasce a compaixão". É um tema que inspirou teólogos do diálogo, como Paul Knitter em suas produções recentes. Em sua obra, Sem buda não poderei ser cristão (2009), Paul Knitter sublinha que "os budistas não se sentem chamados a uma relação eu-tu com um Deus, mas com todos os seres sensientes: a uma compaixão universal para com os outros". O diálogo firma-se para Thâi como essencial nos dias atuais. Mas deve começar dentro de cada um, no exercício de uma paz interior. É dela que brota o aroma essencial para a abertura dialogal. E o diálogo requer igualmente o amor à tradição e o profundo respeito às diferenças. São elas fator de enriquecimento e de abertura para a acolhida singela do extraordinário capital simbólico do mundo da alteridade.