As Quatro Nobres Verdades, de acordo com os textos canônicos, são a Verdade do Sofrimento, a Verdade da Causa do Sofrimento, a Verdade da Extinção do Sofrimento e a Verdade do Caminho de Oito Aspectos para a Extinção do Sofrimento. Nobre aqui é usado com o sentido oposto de comum, ordinário, indicando iluminação supramundama, uma condição transcendendo a existência mundana."A básica doutrina Budista das Quatro Nobres Verdades é completamente lógica: exclui qualquer coisa que seja ilógica. A exclusão do ilógico é característica básica e única do Budismo." (Prof. Mizuno Kogen "Essentials of Buddhism"). O Sutra do Girar a Roda do Darma no Parque dos Cervos, uma das seções do Samyutta-nikaya, é onde as Quatro Nobre Verdades são descritas por Xaquiamuni Buda (cerca do século VII antes de Cristo):"Monges! Nascimento é sofrimento, velhice é sofrimento, doença é sofrimento, morte é sofrimento.""Estar unido ao que se detesta é sofrimento. Separar-se do que se ama é sofrimento. Não se obter o que se deseja é sofrimento. Resumindo, apego aos cinco agregados é sofrimento.""Esta é a Nobre Verdade do Sofrimento.""Monges! É o apego que leva ao renascimento, conectado à alegria e ganância, continuamente encontrando deleite e prazer ora aqui ora ali. É o apego por satisfações sensuais, apego à existência e apego à não-existência.""Esta é a Nobre Verdade da Causa do Sofrimento.""Monges! O apego pode ser afastado e destruído, abandonado e rejeitado. Libertar-se e livrar-se dos apegos (é possível).""Esta é a Nobre Verdade da Extinção do Sofrimento.""Monges! Esta é a Nobre Verdade sobre o Caminho de Exterminar o Sofrimento: ponto de vista correto, pensamento correto, fala correta, ação correta, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta e concentração correta."
Sofrimento
A importância da Verdade do Sofrimento (dukkha-satya, dukkha-sacca) é a necessidade primordial de ver a realidade como é. Em termos do absoluto, o relativo é incompleto, repleto de contaminações e sofrimentos. Há oito espécies de sofrimento: nascimento, velhice, doença, morte, contato com o que detestamos, separação do que amamos, objetivos inalcançáveis e o sofrimento inerente ao apego aos cinco agregados (elementos psicofísicos: forma - rupa, sentimentos - vedana, percepção - samjna, sanna, constituintes mentais - samskara, sankhaara e consciência - vijnana, vinnana. Coletivamente são chamados de numa (nome) e rupa (forma). Assim o composto de nome-forma é um sinônimo dos cinco agregados. Tanto os agregados físicos como mentais são caracterizados pela impermanência, sofrimento e não-eu.
Causa do Sofrimento
Na Verdade da Causa do Sofrimento (samudaya-satya, samudaya-sacca) a palavra da Índia traduzida como "causa" significa "vir junto, formar-se conjuntamente e surgir, aparecer". O Sutra considera apego como a causa do sofrimento. Há três tipos de apegos: Apegos sensuais, dos cinco desejos ou seja, dos desejos resultantes dos objetos dos cinco sentidos. Apego mundano. Apego por existência se refere a existência superior, nos níveis celestiais, de renascimento nesses estados. É ainda um aspecto egoista. Apego à não-existência é o desejo pelo nada, como condição de paz interior, considerado egoísta. Alguns traduzem não existência como apego à prosperidade desde que a palavra Vibhara também pode ter esse sentido. Os comentários tradicionais interpretam como não-existência e é nesse sentido que aqui interpretamos. ("Budismo recomenda atividade positiva e uma atitude de não-eu para purificar a sociedade nesta vida." - Prof. Mizuno)
Extinção do Sofrimento
O Sutra define a Verdade da Extinção do Sofrimento (nirodha-satya, nirodha-sacca) como a eliminação dos apegos e o estado de Nirvana. Sutras primitivos descrevem Nirvana como eliminação das máculas, extinção da ganância, raiva e ignorância. Neste contexto a extinção do sofrimento é Nirvana.
O Caminho
A Verdade do Caminho (marga-satya, magga-sacca) se refere á extinção do sofrimento, ao caminho de prática e ao nirvana. Conhecido como O Caminho Nobre de Oito Aspectos ou Oito Passos (arya-astangika-marga, ariya-aatthangika-magga). Embora estudados individualmente cada aspecto faz parte de um todo orgânico e indivisível. Ponto de Vista Correto - sabedoria e compreensão das Quatro Verdades Nobres e da Origem Interdependente. Alguns consideram como Fé Correta, para os de pouca experiência que ainda não adentraram o nível da sabedoria superior. Pensamento Correto - pensamento ou determinação que precede ação ou fala. Para uma pessoa ordenada é a prática do pensamento correto através da mente cada vez mais gentil, compassionada e pura. Para os leigos é pensar corretamente sobre sua situação e agir determinadamente de acordo. Fala Correta - surge do pensamento correto. Não mentir, não usar linguagem pesada, não falar mal dos outros, não caluniar, não falar frivolamente e usar a fala beneficiando a todos e conduzindo à harmonia, pela ternura que nutre a todos os seres. Ação Correta - surge do pensamento correto. Não matar, não roubar, não cometer adultério. É praticar boas ações como a de proteger e cuidar de todos os seres, observando os valores éticos. Meio de Vida Correto - conduta correta na maneira de viver, de se manter, com hábitos regulares e saudáveis de dormir, comer, trabalhar, fazer exercícios, descansar. Viver de maneira a melhorar a saúde, ser mais eficiente e criar harmonia, eficiência e saúde para todos. Ter meios de vida que considerem outros seres, outras formas de vida, o respeito e dignidade próprios e dos outros presentes e passados, as futuras gerações, a sustentabilidade e a melhor qualidade da vida. Esforço Correto - dedicar-se constante e assíduamente ao caminho de obter os ideais de fé religiosa, ética, eduação, política, economia e saúde produzindo e aumentando o que é bom e prevenindo e eliminando o que é mal. Atenção Correta - manter-se atento garante que com a correta consciência e percepção nunca sejam esquecidos os objetivos ideais de fazer o bem a todos os seres. Na vida diária é agir com cuidado e atenção, pois qualquer momento desatento pode causar um desastre. Do ponto de vista Budista tradicional significa manter constante atenção à impermanência, sofrimento, não-eu. Concentração Correta - aqui a referência é aos Dhyanas ou estados meditativos. Manter a mente calma e concentrada para permintir a manifestação da sabedoria completa e verdadeira a partir da qual surgem os pensamentos e ações corretas. Manter a mente clara e brilhante ativa em tranquilidade, tranquila em atividade.
Bibliografia utilizada: Essentials of Buddhism - Basic Terminology and Concepts of Buddhist Philosophy and Practice (Primeira Edição 1996). Autor: Kôgen Mizuno - Autoridade em Budismo Primitivo e Pali, foi Presidente da Universidade de Komazawa, em Tóquio onde ensinava também Budismo. Editora: Kosei Publishing Co, - Tokyo - JapanTradução e Revisão de Monja Coen. Janeiro de 2003.
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