A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

sábado, 26 de junho de 2010

Das Seis Portas da Ação - (1/6)




Doação (Dana) é uma prática essencial do bodhisattva. No Capítulo Vinte sobre o Bodhisattva Avalokiteshvara, a Porta Universal, aprendemos os quatro meios hábeis de um bodhisattva e o primeiro é a prática de fazer oferendas - não apenas de bens materiais, mas do Dharma, a prática que nos liberta do sofrimento, e a suprema dádiva do bodhisattva, o presente do não medo. Assim devemos entender a doação sob esta luz. Dana-Paramita, a perfeição da doação, não tem nada a ver com riqueza material. Tem a ver com generosidade e abertura, nossa capacidade de abraçar outros com nossa solidariedade e amor e, com esse espírito, querermos, muito naturalmente, dar tudo o que pudermos para ajudá-los. Assim, podemos ver, diretamente, que Dana-Paramita se intersecciona com a prática de Kshanti, inclusibilidade, e também tem o elemento de Prajña, sabedoria, por que é através da nossa compreensão do interser que a generosidade e a solidariedade emergem. Quando verdadeiramente vemos nós mesmos nos outros e os outros em nós mesmos, nós naturalmente queremos fazer tudo o que pudermos para assegurar a felicidade e o bem estar deles, pois sabemos que se trata de nossa própria felicidade e bem estar.
Existe um tipo de vegetal no Vietnã chamado de he (pronuncia-se "rei" - r francês). Pertence à família das cebolas e se parece com cebolinha, e é muito bom em sopas. Quanto mais você corta essas plantas na base, mais elas crescem. Se você não as cortar, elas não irão crescer muito, mas se você cortá-las frequentemente, bem na base da haste, elas crescerão mais e mais. Isso também é verdade na prática de Dana. Se você der e continuar a dar você se torna cada vez mais rico, todo o tempo, rico em termos de felicidade e bem-estar. Isto pode parecer estranho, mas é sempre verdade. Quando mais você doa coisas que você valoriza - não apenas bens materiais, mas também dádivas de tempo e energia - maior será sua riqueza. Como isso é possível? Quando você tenta se amontoar de coisas, terminará por perdê-las, mas tudo que você der para ajudar os outros sempre permanecerá com você, como fundamento do seu bem estar.
A prática de Dana é maravilhosa, mas deve ser feita no espírito de Prajña, entendimento. Os Estados Unidos têm sempre dado muito a outras nações - ajuda humanitária, ajuda financeira, recursos tecnológicos etc. Mas estas coisas têm sido dadas com a intenção de conquistar os outros, de coagir aqueles que recebem essa ajuda a se alinhar com os seus objetivos e ideologia. Esse tipo de doação é motivado pelo interesse nacional, pela conveniência política e econômica. Assim, mesmo a ajuda humanitária que é dada com uma agenda oculta de conquistar pessoas ou cimentar uma aliança política ou econômica não é Dana verdadeira, doação verdadeira.A verdadeira Dana não é troca, uma estratégia de barganha. Na verdadeira doação não há pensamento de doador ou daquele que recebe. Isto é chamado de "vazio da doação", quando não há percepção de separação entre que doa e quem recebe. Esta é a prática de Dana feita no espírito de Prajña, com a compreensão do interser. Você oferece ajuda tão naturalmente como respira. Você não se vê como doador e a outra pessoa como recipiente de sua generosidade, que agora é observada por você e lhe deve ser apropriadamente grata, atender aos seus pedidos etc. Você não doa para fazer da outra pessoa sua aliada. Quando você vê que alguém precisa de ajuda, você oferece e doa o que você tem, sem pensar em recompensa.
Existe a história de um homem muito rico que doou 100.000 peças de ouro para um templo. O abade tinha feito à comunidade um chamado por apoio financeiro para construir uma nova sala de meditação, então este rico proprietário de terras apareceu com uma grande doação. O abade estava oferecendo chá aos convidados, e entre eles o rico doador, que mostrou o ouro numa bandeja em cima da mesa. O abade não prestou muita atenção ao dinheiro, ao invés disso, deu uma palestra de Dharma informal ao grupo sobre como praticar os treinamentos da plena consciência etc. Ele não ligou para o ouro porque ele acreditava que enquanto é bom para as pessoas contribuírem, sua tarefa era ajudá-las a entender melhor o Dharma e a colocá-lo em prática. De fato, a oferta foi aceita somente para apoiar o objetivo maior de promover o Dharma. O rico doador começou a ficar impaciente; ele queria que o abade se desse conta do ouro e o agradecesse na frente de todos. Então ele interrompeu o abade e perguntou, "Querido abade, você contava com isso? Existem 100.000 peças de ouro aqui". O abade disse gentilmente, "Eu sei", e continuou o seu ensinamento do Dharma. Pouco depois, o homem interrompeu-o de novo, "Mas, reverendo abade, você não acha que 100.000 peças de ouro é muito?". O abade olhou para ele e disse, "Você quer que eu agradeça a você? Eu acho que você é quem deveria me agradecer, por que eu dei a você uma oportunidade de fazer a doação e ganhar mérito".
Ajudar a criar salas de meditação é uma dádiva para todos, para a continuação do Dharma e permitiu ao homem rico uma oportunidade de contribuir e ganhar mérito por ajudar a transmitir o Dharma. Mas ele deu o dinheiro esperando o reconhecimento público pela sua grande doação; ele esperava recompensa e louvor pelo seu ato. Apesar de ter doado grande quantidade de dinheiro, ele não o fez no verdadeiro espírito de Dana.
Minha mão direita faz várias coisas, faz caligrafias e escreve poemas. Quase todos os meus poemas foram escritos pela minha mão direita por que eu não uso máquina de datilografia. Houve apenas uma vez que eu escrevi um poema usando uma máquina. Quando a inspiração veio, eu não tinha um lápis, então pus o envelope na máquina de datilografia e, desta vez, minha mão esquerda participou. Todo o resto dos meus poemas foram escritos somente pela minha mão direita, mas ela nunca disse para a esquerda “Você não é boa em nada! Não faz caligrafia, não escreve poemas. Eu faço o trabalho todo, você nunca faz nada!”.
O corpo nunca discrimina desse jeito. Não pense que é por que o nosso corpo não possui nenhuma inteligência inerente. Enquanto tentava pendurar uma pintura na parede, peguei o prego com a mão esquerda e martelei com a mão direita. Mas ao invés de acertar o prego acertei o dedo da minha mão esquerda. Isso acontece de vez em quando, especialmente se você está no alto de uma escada.
Imediatamente a mão direita soltou o martelo e foi em socorro da minha mão esquerda, muito naturalmente. Os pés começaram a se mover para procurar uma bandagem. Todos trabalharam junto de maneira muito suave. Mais tarde a minha mão direita não disse “Ei, mão esquerda – lembra-se de como ajudei você? Da próxima vez que eu precisar de algo, você vai ter que vir e me ajudar”. Nossos corpos, inatamente sábios, não agem desse jeito. Assim a sabedoria da não discriminação está presente em nós como uma realidade corporalmente viva. Temos de aprender como treinar nossas mentes para ver as coisas desse modo.
Nós formamos uma realidade. Existimos intersendo com toda a vida. Quando entendermos esta verdade fundamental, nosso ato de doar será feito no espírito da não discriminação. O mérito, o benefício espiritual a ser ganho com o aperfeiçoamento da prática da doação não podem ser calculados. A prática de Dana traz muita felicidade quando sabemos praticá-la no espírito do interser. Você dá livremente, é feliz e continua a dar. Muitos de nós já sabem praticar dessa maneira. Não precisamos dar 100.000 peças de ouro ou mesmo uma única peça; ao invés, podemos oferecer um sorriso, ou um amoroso e compassivo olhar. Podemos dar de presente a nossa presença calma e concentrada para ajudar alguém que está com medo ou ansiedade. Podemos fazer uma dádiva de nosso tempo e energia e trabalhar com os sem-teto, com os que estão presos ou são viciados em diversas substâncias ou trabalhar ajudando o meio ambiente. Nós estamos cheios de presentes para oferecer, somos muito mais ricos do que podemos imaginar. Podemos ajudar a assegurar a felicidade de muitas pessoas mesmo se não tivermos um centavo em nossos bolsos.
A prática de Dana-Paramita é também um antídoto efetivo contra a raiva. O Buda ensinou “Quando estiver com raiva de alguém, tente dar algo para ele ou ela”. A prática é preparar um presente antes e mantê-lo pronto a ser dado. Não espere ficar com raiva de alguém para preparar algo, por que com raiva e hostilidade em sua mente você não quererá dar nada ao objeto de sua raiva. Não precisa ser um presente material; você pode oferecer um poema ou uma passagem de um ensinamento ou uma canção ou peça musical, a fotografia de um lugar bonito. Então, quando tiver raiva de alguém, lembre-se do conselho do Buda. Tão logo a idéia de dar algo a essa pessoa apareça, seu sofrimento irá diminuir. Usualmente quando estamos com raiva, queremos apenas punir, mas agora praticamos o oposto e pensamos somente em dar algo ao outro. Graças a essa prática, nossa raiva começa a se apaziguar.
Temos que aprender como praticar a doação dessa maneira no nível das nossas sociedades e nações. O que poderá oferecer uma nação a outra que é percebida como sua inimiga? Uma nação poderia dizer “ Queremos oferecer a você a oportunidade de viver em paz, com auto-determinação. Queremos que o seu povo tenha um lugar seguro para viver, prosperar e gozar de segurança e bem estar”. Quando estamos motivados pelo desejo de dar, mesmo sem ter oferecido nada ainda, apenas com a intenção de oferecer a nossa ajuda e entendimento, nosso desejo de ouvir e se comunicar, o nosso sofrimento e o dos outros começa a diminuir. Praticar Dana-Paramita causa o desaparecimento de nossa raiva e aversão e, num segundo, cruzamos para a outra margem.
Quando comunidades e nações praticam dessa maneira, elas prosperam e ganham admiração, respeito e aceitação das outras comunidades e nações. Se pudéssemos aprender a lidar desse jeito com as outras nações, não precisaríamos mais de guardas nas entradas de nossas embaixadas, não precisaríamos mais ter medo de bombas e ataques terroristas. Não ficaríamos isolados e consumidos pelo medo. A felicidade jamais será possível enquanto houver tanto medo e suspeição em nossas consciências. Se pudermos aprender como abrir as portas das seis paramitas, individualmente e coletivamente, então todos chegaremos às margens da liberdade, da paz e da segurança, muito rapidamente.

PS: Solidariedade = Compaixão (ver Nota do Tradutor)

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