A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

sábado, 6 de agosto de 2011

Tal como as folhas, possuímos muitos pés



Por Thich Nhat Hanh

Certo dia de Outono, eu estava num parque, absorto na contemplação de uma minúscula e bonita folha com o feitio de um coração. A sua cor era quase vermelha e mal estava presa ao ramo, prestes a cair. Passei longo tempo com ela e fiz-lhe uma série de perguntas. Descobri que a folha tinha sido uma mãe para a árvore. Normalmente, pensamos que a árvore é a mãe e as folhas são apenas filhas, mas, enquanto a observava, vi que ela era também uma mãe para a árvore. A seiva que as raízes assimilam é apenas constituída por água e minerais, os quais não são suficientes para alimentarem a árvore. Por isso, a árvore distribui a seiva pelas folhas e as folhas transformam a seiva em bruto em seiva refinada e, com a ajuda do Sol e do vapor, devolvem-na à árvore para que ela se alimente. Por conseguinte, as folhas são também uma mãe para a árvore. Uma vez que a folha está ligada à árvore por um pé, a comunicação existente entre ambas é facilmente observável.

Nós já não possuímos um pé a ligar-nos à nossa mãe, mas quando estávamos no seu útero, tínhamos um longo pé: o cordão umbilical. O oxigénio e o alimento de que necessitávamos chegava-nos através desse pé. Porém, no dia em que nascemos, este foi cortado e ficámos com a ilusão de que nos tornáramos independentes. Ora isso não é verdade; continuamos a depender da nossa mãe durante muito tempo e possuímos muitas outras mães também. A Natureza é a nossa mãe. Temos uma grande quantidade de pés que nos ligam à nossa Mãe Natureza. Há pés que nos ligam às nuvens. Se não houver nuvens, não haverá água para bebermos. Somos constituídos por 70% de água no mínimo e o pé que nos liga à nuvem existe realmente. O mesmo acontece no caso do rio, da floresta, do lenhador e do agricultor. Existem centenas de milhares de pés que nos ligam a tudo o que existe no Cosmos, ajudando-nos e tornando possível que existamos. Consegue ver a libação existente entre mini e si? Se você não estiver aí, eu não estou aqui. Isto é mais que certo. Se você ainda não a viu, por favor, observe-a com mais atenção e estou certo de que a verá.

Perguntei à folha se esta estava assustada por ser Outono e as outras folhas estarem a cair. A folha disse-me: «Não. Durante toda a Primavera e todo o Verão estive inteiramente viva. Trabalhei muito para ajudar a alimentar a árvore e agora uma grande porção de mim está na árvore. Não estou limitada a esta forma. Também sou toda a árvore e, quando regressar ao solo, continuarei a alimentar a árvore. Por isso, não me preocupo nada. Quando deixar este ramo e flutuar até ao chão, acenarei à árvore e dir-lhe-ei “Ver-te-ei muito em breve”.»

Nesse dia fazia vento e, passado um bocado, vi a folha deixar o ramo e flutuar até ao solo, dançando alegremente, pois, enquanto flutuava, via-se já ali, na árvore. Estava tão feliz. Curvei a cabeça, com a noção de que tenho muito a aprender com a folha.

Todos estamos ligados uns aos outros

Há milhões de pessoas que assistem a eventos desportivos. Se você adora assistir a um jogo de futebol ou de basebol, provavelmente torce por uma equipa e identifica-se com ela. Pode assistir aos jogos com desespero e com júbilo. Talvez dê um pontapé ou se balance para ajudar a bola a seguir caminho. Se você não tomar um partido, o jogo perde a graça. Nas guerras também tomamos partido, normalmente o do lado que está a ser ameaçado. Os movimentos pela paz nasceram deste sentimento. Zangamo-nos, gritamos, mas raramente nos elevamos acima de tudo isto para observarmos um conflito da mesma forma que uma mãe observa os seus dois filhos à bulha: ela apenas pretende a sua reconciliação.

Existe um ditado vietnamita muito famoso: «Para lutarem uns contra os outros, os pintainhos nascidos da mesma mãe galinha põem cores nos seus rostos.» Pôr cores no nosso próprio rosto significa tornarmo-nos estranhos perante os nossos irmãos e as nossas irmãs. Apenas conseguimos alvejar outras pessoas quando estas são desconhecidas. Os esforços verdadeiros no sentido da reconciliação ocorrem quando vemos à luz da compaixão e esta capacidade surge quando vemos claramente a natureza da interexistência e da interpenetração de todos os seres.

Na nossa vida, podemos ter a sorte de conhecer alguém cujo amor se estende aos animais e às plantas. Podemos também conhecer pessoas que, apesar de viverem numa situação segura, se apercebem de que a fome, a doença e a opressão estão a destruir milhões de pessoas na Terra e que procuram maneiras de ajudar aqueles que sofrem. Não conseguem esquecer os oprimidos, mesmo no meio da pressão das suas próprias vidas. Estas pessoas aperceberam-se, pelo menos até certo ponto, da natureza interdependente da vida. Sabem que a sobrevivência dos países subdesenvolvidos não pode ser separada da sobrevivência dos países materialmente ricos e tecnica¬mente avançados. A pobreza e a opressão trazem a guerra. Nos tempos de hoje, qualquer guerra implica todos os países. O destino de cada país está ligado ao destino de todos os outros.

Quando será que os pintainhos filhos da mesma mãe tirarão as cores dos seus rostos e se reconhecerão como irmãos e irmãs? A única forma de acabar com o perigo é cada um de nós fazer isso e dizer aos outros: «Sou teu irmão», «Sou tua irmã», «A humanidade somos todos nós e a nossa vida é só uma».



Extraído do livro "Paz a cada passo"; de Tich Nhat Hanh.

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