A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A verdadeira felicidade vem da mente atenta


Thich Nhat Hanh

Como podemos aprender a prática da inexistência do eu? Quando você aprende algo pela primeira vez, você usa a sua consciência mental para compreender. E depois de algum tempo aquilo se torna um hábito, e a sua consciência mental não tem mais que estar consciente. Existe um processo de criar hábitos, uma tendência a automatizar tudo e usar a nossa consciência armazenadora; de modo que, mesmo que você não preste atenção ao que está fazendo, você pode fazer aquilo corretamente, como andar. Quando você anda, sua mente pode estar totalmente absorvida em pensamentos sobre outras coisas, e, no entanto, a consciência visual colabora com a consciência armazenadora o suficiente para que você evite acidentes.

Nós usamos este processo de levar a informação para dentro da consciência armazenadora para criar hábitos. Se você opera excessivamente com sua consciência mental, envelhece rapidamente. Suas preocupações, o seu pensamento, o seu planejamento e a sua reflexão requerem muita energia. Uma pessoa chamada Wuzisi na China antiga passou somente uma noite se preocupando e se amedrontando, e pela manhã todos os cabelos da cabeça dele tinham ficado brancos. Não faça isto! Não use a sua consciência mental em demasia; ela consome muita energia sua. É melhor ser do que pensar.

Isto não significa que perdemos nossa consciência plena, mas sim que a nossa consciência plena se torna um hábito que conseguimos praticar sem esforço. A consciência mental é o nível no qual conseguimos nos treinar no hábito da atenção plena, e então esta se infiltrará na consciência armazenadora criando um padrão de atenção plena naquele nível. A mente atenta tem a capacidade de estimular o cérebro, de engajar de uma maneira nova com o que estamos percebendo, de forma que não estamos apenas operando no piloto automático. É possível re-programar a nossa consciência armazenadora para que responda com atenção plena e não descuidadamente? É possível instilar em nossa consciência armazenadora o hábito da felicidade?

Para fazer isto, precisamos aprender a lição do viver consciente com os nossos corpos e com a nossa consciência armazenadora, ao invés de com a nossa consciência mental. A lição que estamos aprendendo é que temos que tratar nosso corpo como consciência. A prática tem que envolver o nosso corpo nela. Você não pode praticar apenas com sua mente, porque o seu corpo é um aspecto da sua consciência e sua consciência é uma parte do seu corpo.

Quando a nossa consciência armazenadora e a nossa consciência sensorial (que poderia também ser chamada de consciência corporal) estão em harmonia, nós acharemos mais fácil cultivar o hábito da felicidade. Quando somos apenas iniciantes na prática e ouvimos o sino temos que fazer um esforço para concentrar, para curtir o sino, para praticar a respiração consciente e nos acalmar. Nós usamos muita energia. Mas depois de praticar por seis meses, um ano ou dois, isto acontecerá naturalmente e a mente não terá que intervir. O sino vai diretamente à consciência armazenadora através da consciência auditiva, e a resposta se torna natural. Nós não temos mais que fazer um esforço ou usar muita energia como fazíamos no início. É assim que a prática pode se tornar um hábito. Quando a prática tiver se tornado um hábito, nós não temos que despender um esforço demasiado a nível de consciência mental. Isto mostra que a boa prática consegue transformar hábitos antigos que não estão mais nos servindo. A boa prática também pode criar bons hábitos. Chegará um tempo em que não temos mais que usar a consciência mental para tomar decisões – apenas praticamos naturalmente. Muitos de nós não precisamos tomar uma decisão para praticar a respiração consciente. Quando ouvimos o sino, praticamos a respiração consciente naturalmente, e nos deleitamos com ela. Deste modo, quando se tornou um hábito, um comportamento é menos dispendioso.

Consciência plena é uma prática de deleite, e não para criar mais privações em nossa vida. A prática não é um trabalho pesado, é uma causa de alegria. E alegria pode se tornar um hábito. Alguns de nós temos o hábito do sofrimento. Outros entre nós têm cultivado o hábito de sorrir e ser feliz. A capacidade de ser feliz é a melhor coisa que podemos cultivar. Então, por favor, deleitem-se em sentar e caminhar por vocês, por nossos ancestrais, por nossos parentes, amigos e as pessoas que amamos, e àqueles que são chamados de inimigos. Andar como um Buda – esta é a sua prática. Não precisamos aprender e compreender todos os sutras, todos os ensinamentos escritos do Buda, para sermos capazes de andar como um Buda. Não. Só precisamos de nossos dois pés e a nossa consciência. Podemos beber o nosso chá conscientemente, escovar nossos dentes conscientemente, nós podemos respirar conscientemente, dar um passo conscientemente. E isto pode se feito com muita alegria e sem qualquer luta ou esforço. É uma questão de deleite.

A verdadeira felicidade vem da mente atenta. A mente atenta nos ajuda a reconhecer as muitas condições de felicidade que estão disponíveis no aqui e agora. A concentração nos ajuda a entrar em contato mais profundamente com estas condições. Com suficiente atenção e concentração, o insight surge. Com insight profundo, estamos livres de percepções errôneas e conseguimos manter nossa liberdade por muito tempo. Com insight profundo, não nos enraivamos mais, não nos desesperamos mais, e podemos desfrutar cada momento de vida.

Existem àqueles entre nós que necessitam de certa dose de sofrimento para ser capaz de reconhecer a felicidade. Quando você de fato sofreu, compreende que o não-sofrimento é maravilhoso. Mas existem àqueles entre nós que não necessitam sofrer e, mesmo assim, ainda têm a capacidade de saber que o não-sofrimento é felicidade, é maravilhoso. Com consciência plena, tornamos-nos conscientes do sofrimento que está acontecendo a nossa volta. Existem muitos que não conseguem se sentar desta forma, com calma e segurança. Uma bomba ou foguete poderiam cair sobre eles a qualquer momento, como por exemplo, no Oriente Médio ou Iraque. O que eles querem é paz. O que eles querem é a cessação da matança. Mas eles não a têm. Tem muitos de nós que têm a chance de se sentar assim com muito mais segurança - nós que moramos numa situação onde inexiste este tipo de sofrimento. Mas não parece que apreciamos isto.

A mente atenta nos ajuda a estar ciente do que está acontecendo a nossa volta, e de repente sabemos como apreciar as condições de paz e felicidade que estão disponíveis no aqui e agora. Não temos que ir a outro lugar para compreender o sofrimento. Precisamos apenas estar plenamente atentos. Você pode estar onde quer que esteja, e a consciência plena lhe ajuda a tocar o sofrimento do mundo e a compreender que muitas condições de felicidade existem para você. Você pode se sentir suficientemente seguro, feliz, alegre e poderoso para mudar a situação a sua volta.

O sentimento de desespero é o pior sentimento que pode acontecer a um ser vivo. Quando você se desespera, você quer se matar ou matar alguém para expressar a sua raiva. Existem tantas pessoas que estão prontas a morrer para punir os outros; elas têm sofrido tanto. Como seria possível oferecer a eles uma gota do néctar da compaixão? Como seria possível fazer com que uma gota daquele néctar caísse dentro do coração delas que está cheio de raiva e desespero? Cada um de nós praticantes da mente atenta é capaz de entrar em contato com as maravilhas da vida que são nutritivas e saudáveis, e também com o sofrimento, de forma que nosso coração se enche de compaixão e nos tornamos um instrumento do bodisatva Avalokiteshvara, o bodisatva da compaixão. É sempre possível para nós sermos algo, fazermos algo parecido com Avalokita, levando o néctar da compaixão a uma situação de desespero.

(Do livro Buddha Mind, Buddha Body: Walking toward Enlightenment, de Thich Nhat Hanh)
(Tradução para o português: Tâm Vân Lang)
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