A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ouça, Reflita, Pratique e Realize sua Vida como Paz


Por Taizan Maezumi Roshi


"Este ensinamento de Maezumi Roshi sobre a prática do dharma foi dado originalmente em Los Angeles, 1994.Tradução ao português de Tam Huyen Van (Claudio Miklos)"
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Em nossa prática, há um padrão básico que consiste em três processos. Em japonês dizemos “mom”, “shi” e “shu”. O primeiro estágio é mon, “ouvir”. A audição não está restrita ao ato físico de ouvir com os ouvidos o que alguém fala, mas também ouvir com o olhos quando estivermos lendo um documento escrito. O que você está ouvindo? Ao dharma: ouvindo o dharma, percebendo o dharma. O processo seguinte é shi ou “refletir”. Não tome algo escrito ou falado cegamente como certo. Pense sobre o que está ouvindo ou lendo. Então, se você concorda, e se realmente pensa que aquilo é verdadeiro, passe ao próximo estágio, shu, que significa “praticar”. Estes três estágios são muito importantes.

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Qual é a parte mais importante da prática? Há muitas espécies de prática relacionadas ao dharma. Mesmo se você concordar em quê praticar, talvez o ponto de prática realmente importante não estará ainda muito claro. Sendo assim, nós temos outro processo que denominamos sho – “esclarecer, verificar ou confirmar através de nossa prática”. Dogen Zenji usa este sho muito frequentemente. Você está praticando adequadamente ou apropriadamente ou não? Certifique-se disso. Sho é muito frequentemente traduzido como “realização”, às vezes como “iluminação” ou “despertar”. Isso conduz a um forte senso de verificação ou confirmação – não de forma cerebral, mas de forma do ser total. Então, em primeiro lugar, audição; em segundo lugar, reflexão ou consideração sobre o dharma; em terceiro lugar, prática do dharma; e em quarto, verificação ou confirmação do dharma como [parte de] sua vida. Estas são as bases da prática.

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Estas coisas parecem muito simples, mas considere apenas o primeiro ponto – “ouvir”. Como nós ouvimos? A maior parte do tempo as coisas entram e saem de minha cabeça em menos de um segundo. Talvez em devesse pensar mais, mas este pensar é algo muito ardiloso. Muito embora nós pensemos sobre o dharma, estaremos realmente praticando ou não? Assim mesmo este aparentemente simples processo de prática – ouvir o dharma, refletir sobre ele, colocá-lo em prática – não é fácil. Talvez seja por isso que esta prática esteja se estendendo por mais de 2.500 anos.

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Este processo básico não se limita necessariamente à tradição Budista; ele é aplicável também ao Cristianismo e ao Judaísmo. Por exemplo, no Cristianismo, ouvimos a bíblia; no Judaísmo, ouvimos a Torah. Se você é cristão ou judeu, como está ouvindo, confirmando e praticando os ensinamentos da Bíblia ou da Torah? O quanto você tem conseguido entender? O que há ali para ser realmente ouvido e praticado? E afinal o quanto disso você está praticando?Eu me recordo quando certa vez visitei Tetsugen Sensei e Yuho Glassman em Nova York. Era uma noite de sexta e eles estavam celebrando o Shabbat. Em algum momento da visita, Tetsugen Sensei me disse, “Roshi, em certo sentido, o que estava me escapando em relação à tradição judaica na qual fui criado era a verdadeira prática”. Quando ouvi aquilo – muito embora eu não conhecesse a prática judaica – eu me perguntei, “O quê é realmente uma prática apropriada?”Percebo que uma das razões para que muitos de voces sejam atraídos para a tradição Zen é a prática – o tipo de prática, a quantidade e qualidade de prática que nós enfatizamos. No Zen, prática é o aspecto mais enfatizado. Mas se o dharma não é praticado corretamente, então a prática não significa muito.

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Em nossa tradição Zen, enfatizamos o discernimento conscientizador pelo qual nós vemos o plano interno e externo como um só. E afortunadamente, nós temos todos os tipos de upaya, ou meios adequados, através dos quais podemos praticar e realmente ver o que o dharma é. Como a prática pode ser apreciada? Eu desejo que vocês prestem muita atenção ao que verdadeiramente é o dharma. Vocês estão realmente praticando bem, em relação ao que vocês pensavam sobre isso e sobre o que ouviram ou leram? De acordo com o que vocês percebem, examinem o dharma, renovando e encorajando a si mesmos, desta forma fazendo sua prática melhor.

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O que podemos esperar ao praticar o dharma? No Zen, temos um dito: “Não espere nada”. O que isso significa? Dizemos, “Nenhum ganho e nenhuma expectativa sobre a iluminação intrinsecamente falando. Sente-se em uma posição de corpo ereta e firme – apenas sente! Este é o caminho dos ancestrais.” Quando dizemos ancestrais, não estamos restringindo a prática a certos tipos de pessoas. Qualquer um – homem ou mulher, de qualquer classe ou raça e assim por diante – que realizou corretamente o Caminho é chamado de ancestral. Portanto a qualidade de nossa prática é muito importante. Que tipo de prática fazemos e qual espécie de despertar temos? Qual espécie de consciência? Samadhi? Quais são os efeitos que experimentamos? Mesmo não esperando nada, a prática tem certos efeitos.

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Um dos mais importantes ensinamentos de dharma é o de causa e efeito. Podemos afirmar que o ensinamento de Buddha versa sobre [o fenômeno d]a Causação. Não é a questão de [existir] apenas uma causa ou algumas causas – todas as coisas são a causa de alguma outra coisa. Tudo está conectado de um modo ou de outro. Existem causas diretas e indiretas, todas trabalhando juntas. Dizemos, “Causa e efeito não são coisas separadas; causa e efeito são uma só”. Normalmente não temos este tipo de entendimento sobre a prática ou os ensinamentos. Como você entende causação? Algumas pessoas pensam que, quando fazem uma coisa ruim, esta ação não é realmente uma coisa ruim até o momento em que elas são flagradas – talvez amanhã ou um ano depois ou quando forem presas pela polícia. Em relação a isso, Yasutani Roshi dizia repetidamente, “quando você rouba algo, naquele mesmo momento você se torna um ladrão”. Isso é verdade?

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Como viver é uma questão primária para todos nós. Não é uma questão apenas [de existirem] regras ou regulamentos feitos pelo Homem que são sustentadas sob certas circunstâncias ou ambientes, ou por sociedades, grupos e países. Evidentemente, estas regras são importantes. Mas há muito mais do que isso. Mesmo para decidir o quê é bom e o quê é mau, o que é correto ou errado, o que é verdadeiro ou o que é falso – como iremos julgar? Por sorte, esta questão é enfocada nos mais fundamentais ensinamentos dos Buddhas.

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O ensinamento fundamental de Buddha é o dos quatro Selos do Dharma: Impermanência, Não-eu, Sofrimento e Nirvana, ou Paz. Vocês compreendem o fato simples da vida que é a impermanência, e o que afirma não haver [qualquer] coisa imutável [cristalizada], não-eu? Especialmente esta questão do não-eu ou não imutabilidade: porque isto é um tesouro do dharma? Por que isto é chamado de Prajna, sabedoria? Se você tem algumas idéias na cabeça, não poderá compreender muito o significado de “tudo é impermanente”. Constante mudança. O Abhidharma (o sistema budista de psicologia) descreve quantas mudanças ocorrem em apenas 24 houras, em um dia e uma noite. Eu adoro falar sobre este importante tópico, e eu mais e mais fico convencido do quão verdadeiro ele é. Em apenas um segundo nossa vida muda mais de 5.000 vezes. Em um segundo! Uma vez que a mudança é tão rápida, nossa atenção consciente simplesmente é incapaz de segui-la. E todavia nosso corpo e mente estão mudando nesta velocidade. Vivemos uma vida e tanto, percebem? E vivendo tão rápidas mudanças, o que podemos esperar? Que espécie de pensamentos temos? Com que tipo de coisas gastamos nosso tempo pensando?

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Falamos sobre o agora, mas o que é isto? O passado já se foi; mas nos prendemos a ele. Tudo o que falamos tem a ver com o passado ou o futuro. Embora falemos sobre o “agora”, não existe tal coisa. O fato é, “agora” já se foi. Nós confundimos isso. Esteja eu atentamente consciente desta vida de rápidas mudanças ou não, ela está se manifestando. Mas o que fazemos com esta vida? Fazemos isso e aquilo – é tudo sobre algo já acontecido ou ainda por ocorrer. O pensamento, a idéia [de vida] com a qual brincamos em nossa cabeça, não é a existência real que lidamos aqui, exatamente agora. Não deveríamos confundir estas coisas. Este é um ponto muito, muito importante.

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Não estou desvalorizando o pensamento. Apenas estou mencionando que nós não deveríamos confundir o fato de nossa vida com as idéias sobre nossa vida. O que pensamos e o que realmente existe – isto é o que Buddha fala sobre mudança constante. Tudo e qualquer coisa, mudando constantemente. Esta é a vida real a qual é, em certo sentido, incognoscível. E este não-eu incognoscível, impessoal – desprendido de qualquer tipo de valor, apegos, desapegos – funciona perfeitamente. Nada sabendo, ele funciona plenamente. É isso que esta vida é. É isso que se expressa como não-eu. Quando você não vê isto, sofrimento está esperando por você. Quando você percebe isso, há o nirvana, ou paz.

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Ouça o dharma, reflita sobre ele, pratique e realize-o. Realize sua vida como a paz em si mesma. Realize sua vida como você é, como ela é agora, e não como você pensa ou analisa. Nós não necessitamos esperar nada; nós não precisamos tentar fazer algo. A razão é simples: ele [o dharma] já está aqui como sua vida. Não é fascinante? Realmente ouça, reflita, pratique, verifique. Juntas, estas [ações] são parte da prática também. Juntas, isto é o que estamos fazendo. A coisa importante é estar em paz ou em nirvana. Isto é o que o Buddha afirma. Então estando em nirvana, o que você estará fazendo? O que você estará fazendo?!


Taizan Maezumi Roshi foi uma figura fundamental na transmissão do Zen Buddhismo ao ocidente. Ordenado como monge zen aos 11 anos, ele se mudou para os Estados Unidos do Japão em 1956. Maezumi Roshi foi o fundador e abade do Zen Center de Los Angeles, e fundou cinco outros templos Soto Zen nos Estados Unidos e Europa. Ele transmitiu o dharma para doze sucessores e estabeleceu o White Plum Asanga, para levar adiante sua linhagem.


Listen, Think, Practice and Realize Your Life As Peace, Taizan Maezumi Roshi, Shambhala Sun, March 2004.

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