Por Alan
Wallace
Para
avaliarmos se estamos fazendo a prática de shamatha corretamente, há sempre
duas coisas a serem consideradas: o que
a sua mente está trazendo para você e o que
você está trazendo para a sua mente. São duas coisas bem
diferentes.
Algumas vezes durante a prática surgirão muitos pensamentos, não
há como controlar, não há como escolher que isso seja diferente. Então você
simplesmente repousa: muitos pensamentos vêm, muitos pensamentos vão. Você não
está fazendo nada de errado; é assim que as coisas são. Mas se quando surgirem
muitos pensamentos você for carregado por eles, aí sim: isso é distração,
agitação.
Outras vezes, sua mente estará bem quieta, com poucos
pensamentos. E isso também não quer dizer que você esteja fazendo a prática
corretamente. Sua mente está simplesmente quieta. Neste caso, a mente está
trazendo pouco pra você.
O que nós devemos trazer para a prática, seja lá como estiver a
nossa mente, é a habilidade de não sermos carregados pelos pensamentos, de
permitir que a nossa consciência permaneça em repouso, iluminando o nosso
objeto de meditação, seja a respiração, seja o espaço da mente e eventos
mentais, seja a própria consciência.
Portanto, é importante avaliar a sua prática em termos do que
você está trazendo para a prática e não com base no que a mente está trazendo
pra você.
Essa distinção é muito importante. Na nossa vida, alguns dias
serão piores que outros. Haverá dias muito conturbados, com muito trabalho,
muitas preocupações, dias ruins. A mente estará bastante irritada, toda a nossa
energia estará perturbada. Pode
ser que você se sente para praticar e dois minutos depois desista: “Esqueça!
Hoje não vai dar pra meditar!” E então se levante, vá ver TV, ou vá para a
internet. Isso é como estar muito doente e pensar: “Ah… estou tão doente! Estou
muito doente pra tomar remédio! Vou deixar pra quando estiver me sentindo
melhor!”
Nesses dias em que a sua mente estiver verdadeiramente uma
confusão, você pode simplesmente se deitar na sua cama, com um travesseiro
macio sob a sua cabeça e soltar completamente a tensão do corpo, a cada
expiração, relaxar completamente, deixar o corpo respirar sem esforço, em seu
ritmo natural. Relaxe até o finalzinho da expiração e nesse momento deixe a
mente bem quieta, sem nenhum blá, blá, blá. E então permita que o ar entre
novamente, sem puxá-lo, em total quietude.
Faça isso por 24 minutos. A mente que você trouxe para a prática
pode estar completamente perturbada, atirando pensamentos, pedras, lama, tudo o
que é tipo de coisa em você. Não há como controlar isso! É o que a mente está
trazendo para você. Mas o que você está trazendo para a sua mente é tão doce,
tão suave, tão tranquilizador, que após 24 minutos sua mente estará mais calma,
quieta, equilibrada. E aí sim, no final da sessão avalie: esta foi uma boa
sessão ou não? Talvez uma sessão difícil em termos do que a mente trouxe para
você mas uma boa sessão em termos do que você trouxe para a mente.
É nos momentos em que a sua
mente está mais desequilibrada que você mais precisa meditar.
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