A Associação Meditar é uma sociedade civil com personalidade jurídica, sem fins lucrativos, não religiosa ou doutrinária. O primeiro núcleo surgiu em Porto Alegre-RS, e, atualmente, possui núcleos nas cidades de Santa Cruz do Sul, Lajeado, Novo Hambugo, Santa Maria, São Francisco de Paula, Capão da Canoa, Florianópolis, Chapecó e Cuiabá.

A Associação Meditar se propõe a: Difundir a prática da meditação; Congregar os praticantes da meditação; Coletar e divulgar os benefícios à saúde física e mental promovidos pela prática adequada da meditação; Criar, apoiar e promover a difusão de locais adequados para a prática de meditação (Núcleo ou Centros Meditar) no Brasil e no exterior; inclusive, com sedes rurais para abrigar seus membros em vida comunitária voltada à meditação, ao estudo, ao trabalho natural na terra, à contemplação da natureza.

Dedica-se a orientar a iniciação e o desenvolvimento das pessoas (empresa, escolas, associações) na meditação de forma clara, simples, objetiva e segura; Promover cursos, palestras, workshops, retiros e atividades voltadas à prática da meditação; Incentivar e promover a atitude mediativa, altruísta e pacífica, que implique na paz interna e externa, na não-violência, no respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, no conhecimento e na sabedoria.

A Associação Meditar de Cuiabá se reúne sempre aos Sábados, às 08h00, no Espaço Ligia Prieto. Endereço: Rua Min.João Alberto, 137 – Araés - Cuiabá. Informações pelo tel. (65)3052-6634.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Informe - Final de Ano - Recesso

Querido amigos e amigas da Associação Meditar de Cuiabá,

informamos que iremos encerrar nossas atividades de 2013 na próxima terça feira, 03.12.13. Estão todos convidados, será nossa última prática antes do recesso de Final de Ano.

As práticas de sábado serão agendadas semanalmente pela Lucila Nunes Vargas, via email, face ou pelo blog.

No início de 2014, comunicaremos a todos do grupo e interessados a data que retornaremos com nossas reuniões, práticas e etc. 

Desejo a todos muita luz e sanidade na comemoração das festas de final de ano. Gasho

Ligia Prieto

Christina Perri - A Thousand Years - The Piano Guys



Que Dezembro seja bem vindo, especial, como fruto fresco colhido no pé. Momento presente, momento maravilhoso! Muita paz!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A Energia do hábito

Por Thich Nhat Hanh

Suponha que temos o hábito de caminhar muito rapidamente, muito rápido. De repente, quando chegamos a Plum Village, somos convidados a desacelerar. Achamos que não é agradável. Uma vez que todos estão andando devagar, você tem que diminuir o ritmo e não se sente feliz. Portanto, sua prática é o motivo de seu sofrimento. Caminhe lentamente, sim, mas ande de tal maneira que te faça feliz, relaxado e calmo, este é o ponto. Temos que perguntar como caminhar lentamente e ainda assim não sofrer, desfrutando da caminhada. Portanto, isto requer algum conhecimento, alguma ideia, alguma prática para poder desfrutar da meditação andando.

Você está diante de uma espécie de hábito, o hábito de caminhar muito rapidamente, correndo. Esse hábito está enraizado profundamente em nossa vida diária. Talvez nossos ancestrais costumassem caminhar muito rapidamente e nos transmitiram essa maneira de caminhar.

Talvez muitas gerações acreditassem que a felicidade está em algum lugar lá no futuro. Temos que ir para esse lugar a fim de sermos felizes. A felicidade não é possível agora, aqui. Esse tipo de crença, consciente ou inconsciente, tornou-se muito forte em nós. Acreditamos que a felicidade é impossível aqui e agora. É por isso que existe um tipo de energia nos empurrando para correr, correr por toda a nossa vida, em busca de um tempo, um lugar, quando a felicidade será possível.

Assim, como entendemos que fomos pegos nesse tipo de hábito, sempre correndo, estamos determinados a parar, para transformar esse hábito e aprendermos como dar passos que possam nos permitir tocar a vida profundamente em cada momento. Com esse tipo de aprendizado e prática, seremos capaz de andar mais devagar e vamos começar a desfrutar do toque da terra com nossos pés, combinando os nossos passos com a nossa inspiração e expiração. Nós apenas nos sentimos maravilhosos ao andar assim, andando sem qualquer intenção de chegar. Isso é novo para nós. Temos que aprender a desenvolver o novo hábito. E à medida adquirimos a energia do novo hábito, vamos passar a desfrutar de um passeio.

Assim, a prática é reconhecer o velho hábito, o hábito negativo, o mau hábito, reconhecer a energia de nossos hábitos e sorrir para eles. E também cultivar o hábito novo, o bom hábito, até que o novo hábito começe a produzir energia. Quando temos um novo tipo de energia, não temos que fazer qualquer esforço, apenas desfrutaremos ouvir o sino, apenas desfrutamos o caminhar lentamente, apenas desfrutamos o comer em silêncio, porque gostamos disso. De repente, a prática torna-se agradável, alegre, nutritiva.

Seria absurdo se nós seguíssemos uma prática que nos faz sofrer. O Buda sempre nos lembra de seu Dharma, sua prática deve ser agradável no começo, no meio, no final. Assim, a prática deve ser linda, deve ser agradável, deve ser alegre, se você está sentado ou em pé, comendo ou bebendo. se você está cozinhando ou limpando. Cozinhar e limpar devem ser feitos de tal forma que possam lhe proporcionar paz, alegria e nutrição.

Nós sabemos o quão forte, quão poderosa é a energia de hábito. Notamos que há momentos em que não somos nós mesmos, não podemos ser nós mesmos. Somos levados pela nossa energia de hábito. Não queríamos dizer o que dissemos, sabíamos que fazendo isso iríamos criar danos em nosso relacionamento com a outra pessoa. Mas, finalmente, dissemos. Nós sabíamos que não deveríamos fazê-lo. Sabíamos que se fôssemos em frente criaríamos danos em nosso relacionamento. Mas, finalmente, fizemos. Dissemos que era mais forte do que nós. O que era mais forte? A energia de hábito. Por isso sentimo-nos impotentes. Nós nos sentimos muito fracos de forma que não podemos lidar com a força do hábito que é muito forte.

E depois de ter dito aquilo, depois de ter feito aquilo, lamentamos. Nós sentimos muito, nos condenamos. Às vezes, fazemos uma forte promessa que da próxima vez não vamos fazer novamente. Não vamos dizer outra vez. Mas na vez seguinte, fazemos de novo, dizemos outra vez. A energia de hábito é muito forte. É por isso que temos de ser capazes de praticar para aprender formas de lidar com essa energia de hábito, a fim de transformá-la.

O Buda não recomenda lutar contra sua energia de hábito. Ele recomendou a prática de reconhecer esses hábitos. A prática de reconhecer, se a incluirmos em nossa prática diária, irá tornar-se um outro tipo de hábito, um bom hábito. Você é capaz de reconhecer tudo o que está acontecendo dentro de si mesmo, incluindo a energia de hábito que você considera ser mais forte do que você. Reconhecendo assim, não significa que você tem que sofrer porque tem esse hábito, pois esse hábito pode não ter sido aprendido durante a sua vida. Pode ser um tipo de energia de hábito transmitida por várias gerações de seus antepassados e você só a recebeu. Você tem que reconhecer que ela está presente e tentar transformá-la para si mesmo, para seus pais e para seus antepassados.

Cerca de dez anos atrás, visitei vários estados da Índia para oferecer retiros e palestras de Dharma para as comunidades da sociedade Ambedkar, composta pelos ex-intocáveis. Um amigo dessa comunidade me ajudou a organizar a minha turnê. Um dia eu estava sentado com ele em um ônibus e estava curtindo muito a paisagem do lado de fora. Estava muito feliz por estar na Índia, oferecer retiros e palestras de Dharma e poder desfrutar das pessoas e da paisagem. Quando eu olhei para ele, que estava sentado à minha direita, percebi que não estava relaxado. Ele estava muito tenso. Ele tinha a energia de hábito de se preocupar muito.

Eu sabia que ele estava tentando o máximo para fazer a minha viagem agradável, então eu lhe disse: "Meu querido amigo, eu sei que você está tentando muito fazer minha visita agradável, mas eu gostaria de dizer-lhe que estou muito feliz agora, é muito agradável sentar-me aqui, eu estou desfrutando muito disso, por que você não se senta e se diverte também? Não há nada para se preocupar agora. " Ele disse, "OK" e se sentou novamente. Eu continuei a apreciar as palmeiras e outras coisas e poucos minutos mais tarde, eu me virei e olhei e ele estava exatamente como antes, muito tenso, muito rígido.

Eu sei que não é fácil. Quando se pertence a uma casta discriminadas por quatro mil, cinco mil anos, você tem que lutar dia e noite. O hábito de lutar dia e noite estava lá no fundo dele. Ele havia sido transmitido por várias gerações de antepassados.

Lá está ele com sua forte energia de hábito, lutando dia e noite, não sendo capaz de relaxar por um segundo, por um minuto. Claro que podemos ajudá-lo a relaxar, e entender que não há nada para se preocupar, que é possível aproveitar a vida no momento presente.

Ele é perfeitamente capaz de entender isso e praticar, mas não dura. Em apenas alguns segundos ele se permite ser pego novamente por essa forte energia hábito. Portanto, não faz sentido culpar a si mesmo porque você tem essa energia hábito. Você sabe que essa energia hábito não é algo que você criou para si mesmo, ela tem sido transmitida. Você reconhece seus antepassados ​​que sofreram. Você sabe que agora tem uma oportunidade de transformar essa energia para si, para os seus antepassados e para os seus filhos.

Também cerca de dez anos atrás, havia um jovem que veio da América do Norte para Upper Hamlet para praticar e ficou duas, três semanas conosco muito feliz. Ele estava cercado por irmãos e irmãs que sempre praticaram a meditação andando, meditação sentada, trabalho na cozinha com atenção plena, e assim por diante. Um dia, ele foi convidado por amigos para ir ao mercado em St. Foy La Grande para fazer algumas compras, porque era Dia de Ação de Graças e todo mundo foi convidado a fazer um prato, cozinhar algo especial do seu país, para oferecer aos nossos antepassados. Os chineses iriam cozinhar um prato chinês, os holandeses iriam oferecer um prato holandês, e assim por diante. Ele estava fazendo algo com os outros americanos então ele foi para St. Foy La Grande fazer compras.

Enquanto comprava percebeu que ficou agitado, que estava ficando apressado. Ele ficou surpreso, porque durante a sua estada de três semanas em Plum Village nunca havia se comportado assim. Ele estava cercado pela Sangha, e sempre foi consciente e pacífico. A energia da sanga o ajudou a se manter consciente e pacífico, mas nesse momento ele estava sozinho. De repente, sem a Sangha a sua volta a velha energia hábito surgiu. Como ele tinha praticado por três semanas, tinha também um outro tipo de energia, a energia de plena consciência. Ele era capaz de reconhecer a vinda do velho hábito. Ele também viu que tinha herdado o hábito de sua mãe, porque ela sempre foi assim, sempre estava com pressa.

Então ele respirou e disse: "Olá, mamãe". De repente, a energia de hábito não estava mais presente. Ao reconhecê-la, a energia vai perder o seu poder sobre você. Ele vai voltar para a profundidade de sua consciência, em seu corpo, à espera de circunstâncias adequadas para se manifestar novamente. Ele apenas respirou e disse: "Olá, mamãe", reconhecendo o hábito como era. "Minha mãe é sempre assim." Então, ele ficou livre do hábito durante a prática de inspirar e expirar. Ele sabia que sem a Sangha em volta, ainda estava fraco e tentou seguir sua respiração conscientemente. Ele terminou suas compras e vei nos contar a história.

Você pode reconhecer a sua energia de hábito, porque tem a energia de plena consciência, um tipo de energia dentro de você que faz o trabalho de reconhecimento. Plena consciência é a energia que é capaz de reconhecer o que está acontecendo no momento presente. Quando você bebe, sabe que você está bebendo. Quando você respira e sabe que está respirando, a energia da consciência está presente. Nós chamamos isso de plena consciência da respiração - Anapanasati. Quando você anda, e sabe que está andando, a plena atenção está lá. É a chamada atenção ao andar.

Quando você come e sabe que está comendo, que está mastigando, então a plena atenção está presente, chamamos isso de plena consciência de comer. Tentamos estar conscientes em cada ato que fazemos, em cada momento da nossa vida diária e essa é a melhor maneira de cultivar o segundo tipo de energia, a energia de plena consciência, de plena atenção.

(Do livro de Thich Nhat Hanh - "Good Citzens” - Tradução Leonardo Dobbin)

ZEN:MUSIC FOR BALANCE AND RELAXATION

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

As Três Portas da Liberação

Por Thich Nhat Hanh

As Três Qualidades do Darma são as chaves de que dispomos para abrir as Três Portas da Liberação - o vazio, a ausência de imagens e a ausência de objetivo. Todas as escolas de budismo aceitam o ensinamento das Três Portas da Liberação. Essas três portas às vezes são chamadas de Três Concentrações. Quando passamos por essas portas, adquirimos concentração e nos libertamos do medo, da confusão e da tristeza.

A Primeira Porta da Liberação é o vazio. O vazio sempre significa vazio de alguma coisa. O copo está vazio de água, e a tigela vazia de sopa. Nós estamos vazios de um eu independente e separado. Não podemos existir sozinhos. Só podemos existir em inter-relação com tudo o mais que existe no cosmos. A prática consiste em incentivar a compreensão do vazio durante todo o tempo. Aonde quer que vamos, entramos em contato com o vazio que existe em tudo. Olhamos para a mesa, o céu azul, o nosso amigo, a montanha, o rio, a raiva e a felicidade, entendendo que tudo isso está vazio de um eu independente e separado. Quando contemplamos essas coisas em profundidade, vemos a natureza interpenetrante e interdependente de tudo o que existe. O vazio não significa, em absoluto, não-existência. Significa Origem Interdependente, Impermanência e Não-eu.

Quando ouvimos falar de vazio, ficamos assustados. Mas depois de praticar por algum tempo, entendemos que as coisas realmente existem, só que de forma diferente do que pensávamos. O vazio é o Caminho do Meio entre a existência e a não-existência. A flor não se toma vazia quando murcha e morre, mas sempre foi vazia em sua essência. Ao olharmos em profundidade, vemos que a flor é composta de elementos não-flor - luz, espaço, nuvens, terra e consciência. Está vazia de um eu independente e separado. No Sutra do Diamante, aprendemos que um ser humano não é independente das outras espécies, e que para proteger os seres humanos é preciso proteger as espécies não-humanas. Se poluirmos o ar, a água, os vegetais e os minerais, estaremos destruindo nós mesmos. Temos que aprender a nos enxergar de outra maneira, vendo a nós mesmos naquelas coisas que sempre pensamos que estivessem fora de nós, e dissolvendo nossas falsas fronteiras.

No Vietnã, dizemos que se um cavalo estiver doente, todos os outros cavalos do estábulo recusam comida. Nossa felicidade e sofrimento são a felicidade e o sofrimento de todos. Quando agimos baseados no não-eu, nossa ações passam a estar em consonância com a realidade, e sabemos o que devemos fazer e não fazer. Quando temos consciência de que estamos todos ligados uns aos outros, adquirimos a Consciência do Vazio. A realidade está muito além de nossas idéias sobre ser e não ser. Dizer que uma flor existe não é exatamente correto, mas dizer que ela não existe também não é verdadeiro. O verdadeiro vazio é chamado de "ser maravilhoso", porque está além da existência e da não-existência.

Quando comemos, devemos praticar a Porta da Liberação chamada de vazio. "Eu sou este alimento. Este alimento sou eu." Um dia, no Canadá, quando eu almoçava com a Sangha, um estudante me olhou e disse: "Estou alimentando você." Ele estava praticando a concentração no vazio. Cada vez que olhamos nosso prato de comida, podemos contemplar a natureza impermanente da comida. Esta é uma prática profunda, porque tem o poder de nos ajudar a enxergar a "Origem Interdependente". Aquele que come e a comida ingerida são, por natureza, vazios. É por isso que a comunicação entre eles é perfeita. Quando praticamos a meditação andando de uma forma relaxada e pacífica, acontece a mesma coisa. Cada passo que damos não é dado apenas para nós, mas para o mundo. Quando olhamos para os outros, vemos sua felicidade e sofrimento ligados a nossa felicidade e sofrimento. "A paz começa em mim mesmo."

Todos aqueles que amamos um dia ficarão doentes e morrerão. Sem praticar a meditação no vazio, quando isto acontecer ficaremos arrasados. A Concentração no Vazio é uma forma de permanecer em contato com a vida como ela é, mas precisa ser praticada, e não apenas falada. Observamos nosso corpo e vemos as causas e condições que o fizeram existir - nossos pais, nosso país, o ar, e até mesmo as gerações futuras. Vamos além do tempo e do espaço, do eu e do meu, e experimentamos a verdadeira libertação. Se só estudarmos o vazio como uma filosofia, ele não será para nós uma Porta da Liberação. O vazio só se torna uma Porta da Liberação quando penetramos nele com profundidade, entendendo a natureza interdependente e o aparecimento conjunto de tudo o que existe.

A Segunda Porta da Liberação é a ausência de imagens. Neste contexto, "imagem" quer dizer uma aparência, ou um objeto de percepção. Quando vemos algo, é porque um sinal ou imagem aparece diante de nós, e é isso que chamamos de lakshana. Se a água, por exemplo, estiver em um recipiente quadrado, sua imagem é a "quadratura" do recipiente. Se estiver em um recipiente redondo, será a "redondeza". Quando abrimos o congelador e tiramos gelo, a imagem recebida é de que a água está sólida. Os químicos chamam a água de "H2O". A neve nas montanhas e o vapor que se eleva da chaleira também são H2O. Se H2O estiver no momento redonda ou quadrada, líquida, gasosa ou sólida, dependerá das circunstâncias. As imagens são instrumentos para nosso uso, mas não são a verdade absoluta. Elas podem nos enganar. O Sutra do Diamante diz: "Onde houver uma imagem, haverá uma ilusão”. As percepções costumam nos dizer tanto sobre quem percebe quanto sobre o objeto percebido. As aparências enganam.

A prática da Concentração na Ausência de Imagens é necessária para que possamos nos libertar. Sem enxergar além das imagens não atingiremos a realidade propriamente dita. Enquanto ficarmos presos às imagens - redondo, quadrado, sólido, líquido, gasoso - continuaremos a sofrer. Nada pode ser descrito em termos de uma imagem apenas. Mas sem imagens nós ficamos ansiosos. Nosso medo e nosso apego se devem a ficarmos presos a imagens. Até entendermos que todas as coisas têm uma natureza desprovida de imagens, continuaremos com medo e sofrendo. Para poder entrar em contato com a H2O, temos que esquecer de imagens tais como quadrado ou redondo, duro ou mole, pesado ou leve, em cima ou embaixo. A água, por si mesma, não é nenhuma dessas coisas. Só quando conseguirmos nos libertar das imagens estaremos aptos a penetrar no âmago da realidade. Enquanto não conseguirmos enxergar o oceano nos céus, continuaremos iludidos pelas imagens.

Um grande alívio advém quando rompemos as barreiras das imagens e atingimos o mundo que está além das imagens, o Nirvana. E onde devemos procurar este mundo sem imagens? Aqui mesmo, no meio do mundo das imagens. Se jogarmos a água fora, não haverá nenhuma forma de ter contato com a essência da água. Contatamos sua essência quando abrimos caminho através das imagens e chegamos à verdadeira natureza da interdependência dos seres. As três fases são a água, a não-água e a verdadeira água. A verdadeira água é a essência da água. O fundamento de sua existência não está sujeito ao nascimento nem à morte. Quando chegarmos a isso, não teremos mais medo de nada.

"Quando chegarmos à ausência das imagens dentro das imagens, encontraremos o Tathagata. Esta é uma frase do Sutra do Diamante. Tathagata significa "a natureza maravilhosa da realidade". Para ver a natureza maravilhosa da água é preciso olhar além das imagens (aparências) da água, e ver que ela é constituída de elementos não-água. Se você achar que a água é apenas água, que não pode ser o sol, a terra ou as flores, estará enganado. Terminará por entender que a água na verdade é o sol, a terra e as flores, e que apenas ao olhar para o sol, a terra e as flores você estará vendo a água. Isto é a "ausência de imagens das imagens". Um jardineiro orgânico que olha para uma casca de banana, folhas moitas ou galhos podres enxerga as flores, frutas e os legumes contidos neles. Ele saberia que as flores, as frutas e o lixo não têm existência independente. Ao aplicar esta compreensão a outras áreas de sua vida, o jardineiro pode atingir o despertar total. (...)

A ausência de imagens não é uma idéia apenas. Ao contemplar nossos filhos, vemos os elementos que os produziram. Eles são como são porque nossa cultura, economia, sociedade e nós mesmos somos do jeito que somos. Não podemos simplesmente culpar nossos filhos quando as coisas dão errado. Muitas causas e condições contribuíram. Quando soubermos transformar a nós mesmos e a sociedade, nossos filhos também se transformarão. Os jovens aprendem a escrever e ler, aprendem matemática, ciências, e outras matérias na escola para ajudá-los a ganhar a vida. Mas poucos currículos escolares ensinam os jovens a viver - como lidar com a raiva, como reconciliar os conflitos, como respirar, sorrir, como transformar as formações interiores. A educação necessita de uma revolução. Precisamos incentivar as escolas a ensinar a seus alunos a arte de viver em paz e harmonia. Não é fácil aprender a ler, escrever, ou resolver problemas matemáticos, mas as crianças conseguem. Aprender a respirar, sorrir e transformar a raiva também pode ser difícil, mas já vi muitos jovens conseguirem. Se ensinarmos às crianças valores adequados, quando elas tiverem apenas doze anos já saberão viver em harmonia com as outras pessoas.

Quando vamos além das imagens, entramos em um mundo onde não há medo nem culpa. Vemos a flor, a água e o nosso filho por um prisma que está além do tempo e do espaço. Sabemos que nossos ancestrais estão presentes dentro de nós, aqui e agora. Constatamos que Buda, Jesus, e todos os outros ancestrais espirituais não morreram. O Buda não pode ficar confinado há 2.600 anos. A flor não está limitada à sua breve manifestação. Tudo se manifesta por meio de imagem. Se ficarmos presos às imagens, sempre teremos medo de perder as manifestações específicas.

Quando um menino de oito anos que vivia em Plum Village morreu de repente, pedi a seu pai que mantivesse a plena consciência da presença do filho no ar que respirava e nas folhas de grama sob seus pés, e ele conseguiu fazer isso. Quando um conhecido professor de meditação vietnamita morreu, seu discípulo escreveu o seguinte poema:

Irmãos de Darma, não se apeguem às imagens.
As montanhas e os rios que nos cercam são nossos professores.

O Sutra do Diamante enumera quatro imagens - o eu, a pessoa, o ser vivo e o período de vida. Ficamos enredados na imagem eu, porque achamos que existem inúmeras coisas que não são eu. Mas quando contemplamos a questão com profundidade, vemos que não existe um eu separado e independente, o que nos liberta da imagem do eu. Entendemos então que para nos protegermos temos que proteger tudo o que não é nós mesmos.

Também ficamos enredados na imagem "pessoa". Separamos os seres humanos dos animais, árvores e pedras, e achamos que os não-humanos - peixes, vacas, plantas, terra, ar e mar - estão lá apenas para serem explorados por nós. As outras espécies também caçam para comer, mas não de uma forma exploratória como nós. Quando olhamos para a nossa espécie, vemos os elementos não-humanos contidos nela, e quando olhamos para os reinos animal, vegetal e mineral, vemos o elemento humano neles. Quando praticamos a Concentração na Ausência de Imagens, sabemos viver em harmonia com todas as espécies.

A terceira imagem é "ser vivo". Achamos que seres conscientes são diferentes de não-conscientes. Mas seres vivos ou sensíveis são feitos de espécies não-vivas ou não-sensíveis. Quando poluímos as espécies chamadas de não-vivas, como o ar ou os rios, estamos poluindo os seres vivos também. Se pensarmos na interdependência dos seres vivos e não-vivos imediatamente pararemos de agir deste modo.

A quarta imagem é "período de vida", que é o período de tempo entre o nascimento e a morte. Nós achamos que só estamos vivos por um período específico de tempo, que teve um começo e terá um fim. Mas ao contemplar profundamente, constatamos que nunca nascemos e nunca morreremos, e nosso medo se dissolve. Com atenção plena, concentração e as Três Qualidades do Darma, podemos abrir a Porta da Liberação que é a ausência de imagens e conquista o maior de todos os alívios.

A Terceira Porta da Liberação é a ausência de objetivo. Não há nada a fazer, nada a realizar, nenhum programa a ser cumprido, nenhuma agenda. Esse é o ensinamento budista sobre os fins últimos do homem. A rosa tem que fazer alguma coisa? Não, o objetivo da rosa é apenas ser uma rosa. Seu objetivo é ser quem você é. Você não precisa sair correndo e se tornar outra pessoa. Você é maravilhoso do jeito que é. Esse ensinamento do Buda permite que a gente se divirta, contemple o céu azul e tudo o mais que é tão bom e refrescante no momento presente.

Não há nenhuma necessidade de inventar objetivos para depois correr atrás deles. Nós já temos tudo o que é necessário, já somos aquilo em que desejamos nos tornar. Somos todos Budas, por isso podemos dar a mão a um outro Buda e praticar a meditação andando. Esse é o ensinamento do Avatamsaka Sutra. Seja você mesmo, a vida é preciosa do jeito que é. Não há necessidade de correr, lutar, carregar fardos nem disputar coisas. Podemos apenas existir. Estar aqui, neste momento, neste lugar, já é uma forma profunda de meditação. A maioria das pessoas não acredita que caminhar sem pressa e despreocupadamente seja o bastante. As pessoas acham que lutar e competir são coisas normais e necessárias. Tente praticar a ausência de objetivos por cinco minutos apenas, e observe como será feliz durante esses cinco minutos.

O Sutra do Coração diz que não há nada para ser atingido. Nós não meditamos para atingir a iluminação, porque a iluminação já está em nós, conseqüentemente não há necessidade de busca-Ia. Não precisamos de propósitos nem de metas. Nossa prática não visa obter uma alta posição. Quando praticamos a ausência de objetivo, entendemos que nada nos falta, que já somos tudo o que queríamos ser. Nessa altura, nossa luta desesperada principia a cessar. Fazemos as pazes com o momento presente, e conseguimos observar a luz do sol entrando pela janela e ouvir o barulho da chuva. Não precisamos mais correr atrás de coisas externas. Podemos usufruir esse momento. As pessoas discutem como chegar ao Nirvana, mas na verdade já estamos lá. A ausência de objetivo e o Nirvana são uma coisa só.

Ao acordar hoje de manhã eu sorri.
Vinte e quatro horas, novinhas em folha, ao meu dispor.
Tenho a firme intenção de viver plenamente cada momento do meu dia,
E olhar para todos os seres com o olhar da compaixão.

Essas vinte e quatro horas são uma dádiva preciosa, que só poderemos usufruir completamente quando tivermos aberto a Terceira Porta da Liberação, que é a ausência de objetivo. Se pensarmos que temos vinte e quatro horas para realizar alguma coisa, o dia de hoje passa a ser um meio para atingir um fim. O momento de cortar madeira ou carregar água é o momento que temos para sermos felizes. Não devemos esperar que essas tarefas estejam terminadas para só então sermos felizes. Ser feliz agora significa não ter metas agora. Se não fizermos isto, andaremos em círculo pelo resto da vida. No momento presente, temos tudo o que necessitamos para fazer desse momento o mais feliz de nossas vidas, mesmo se estivermos com dor de cabeça ou com um resfriado. Não temos que esperar o resfriado acabar para poder ser felizes. Resfriar-se é parte da vida.

Alguém me perguntou: "Você não está preocupado com a situação do mundo?" Eu respirei e respondi: "O mais importante é não permitir que a ansiedade em relação aos acontecimentos mundiais encha o seu coração. Se o coração for preenchido pela ansiedade, você ficará doente, e não poderá ajudar quando for necessário." Existem guerras - grandes e pequenas - em muitos lugares, e isso pode nos tornar ansiosos. A ansiedade é a doença de nosso tempo. Estamos sempre preocupados conosco, com a família, com os amigos, com o trabalho, e também com a situação do mundo. Se permitirmos que a preocupação inunde os nossos corações, mais cedo ou mais tarde ficaremos doentes.

É verdade que existe uma enorme quantidade de sofrimento por este mundo afora, mas o fato de saber disso não significa que estamos paralisados. Se praticarmos a respiração, a caminhada, a meditação e o trabalho com consciência, e fizermos o melhor que pudermos para ajudar os outros, teremos paz no coração. A preocupação não realiza nada. Mesmo se nos preocuparmos dez vezes mais, isso não melhorará em nada a situação do mundo. Na verdade, a ansiedade só faz piorar as coisas. Mesmo sabendo que nada é como gostaríamos que fosse, devemos ficar contentes mesmo assim, porque estamos dando o nosso melhor, e continuaremos a fazer isso. Se não soubermos respirar, sorrir e viver com atenção e profundidade cada momento de nossa vida, nunca poderemos ajudar ninguém. Sou feliz agora. Não me falta nada. Não espero nenhum tipo de felicidade adicional nem condições ideais para poder ser mais feliz ainda. A prática mais importante de todas é ausência de objetivo, em vez de ficar correndo atrás das coisas intensamente.

Aqueles dentre nós que tiveram a sorte de conhecer e praticar a atenção plena têm a responsabilidade de trazer paz e alegria para as suas vidas, mesmo que as condições do corpo, da mente ou do meio ambiente não sejam exatamente as que gostaríamos. Sem felicidade não poderemos ser um refúgio para os outros. Pergunte a si mesmo. O que estou esperando para ser feliz? Por que não fico feliz agora mesmo? Meu único desejo é ajudar vocês todos a entenderem isso. Como podemos inserir a prática da atenção plena na sociedade? Como podemos ajudar o maior número possível de pessoas a ser feliz e a ensinar a arte da atenção plena a outras pessoas? O número de pessoas capazes de gerar violência é muito grande, enquanto que um número muito reduzido sabe respirar e gerar felicidade. Todo novo dia representa mais uma oportunidade para ser feliz e ser um refúgio para os outros.

Não precisamos nos tornar nada além do que já somos. Não precisamos desempenhar nenhuma ação específica. Só precisamos ser felizes no momento presente, e dessa forma estaremos sendo úteis às pessoas que amamos e a toda a sociedade. A ausência de objetivo significa parar e entender que a felicidade está ao nosso alcance. Se for perguntado quanto tempo alguém precisa praticar para ser feliz, eu responderei que essa pessoa pode ser feliz imediatamente. A prática da ausência de objetivo é a prática da liberdade.

(Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda” – Thich Nhat Hanh)
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Contribuições Budistas para a Construção de uma Sociedade Justa




Todos sabemos que a construção de uma sociedade justa, democrática e civil não depende apenas daquilo que fazemos mas, acima de tudo, daquilo que somos. Temos que ser a própria mudança antes que possamos fazer mudanças em nossa sociedade. Estar em paz é a base para gerar paz. Sem transformação e cura pessoais não seremos suficientemente calmos e compassivos para usar a fala amorosa e a escuta profunda, e nossos esforços não ajudarão a mudar nossa sociedade. Assim, nossa prática pessoal e a prática de nossa sangha são essenciais para a mudança que queremos ver no mundo.

As raízes da guerra e do conflito estão dentro de nós. Temos que reconhecer as aflições dentro de nós, abraçá-las e transformá-las: raiva, ódio, discriminação, orgulho, desespero. A prática consiste em olhar profundamente suas raízes, compreendê-las e aprender a transformá-las. Precisamos dar ouvidos ao nosso próprio sofrimento e ao sofrimento de nossa família, comunidade e nação. Devemos ser capazes de ajudar uns aos outros a reconhecermos que essas aflições existem em cada um de nós e que ao longo de nossas vidas temos permitido o desenvolvimento dessas aflições.

Assim, cada um de nós deve assumir o compromisso de não regar as sementes de violência, ódio, discriminação e desespero que estão em nós. Em nossos relacionamentos com nossos cônjuges, ou entre pai e filho, mãe e filha, irmão e irmã, precisamos ajudar uns aos outros na prática, aprendendo sempre a ouvir o outro com compaixão, sempre utilizando a fala amorosa para ajudá-lo a reconhecer as aflições que carrega dentro de si. Também devemos usar a fala amorosa para regar as sementes de compreensão, compaixão, alegria e irmandade inerentes ao outro. Devemos nos ajudar para que possamos trazer a cura a nossas relações pessoais antes que possamos ajudar a curar a humanidade e a Terra. A cura é possível através de cada respiração, cada passo, cada pensamento, cada palavra e através dos atos mais simples, como sorrir para alguém.

A Terra está padecendo, nossa sociedade está padecendo e há tanto desespero e violência. Práticas budistas, como o Pensamento Correto (ou seja, pensar com base na não-discriminação, compaixão e compreensão), Fala Correta, Ação Correta e Modo de Vida Correto são cruciais para a cura de que todos necessitamos. Os jovens devem aprender a praticar o Nobre Caminho Óctuplo em suas famílias e nas escolas. As negociações de paz terão êxito apenas se ambas as partes em conflito tiverem compreensão mútua e souberem como fazer uso da escuta profunda e da fala amorosa. E este tipo de treinamento deve começar nos níveis mais básicos da educação. É isto que entendemos por educação da paz e é a forma de sairmos da guerra e da violência.

O Manifesto de 2000 da UNESCO contém 6 pontos e equivale à prática dos Cinco Treinamentos da Plena Consciência. Tanto os seis pontos quanto os Cinco Treinamentos abordam as questões de paz e justiça social no nível mais fundamental. Na tradição budista, após receber os Cinco Treinamentos da Plena Consciência, a pessoa que os tomou deve recitá-los a cada duas semanas e participar de sessões de estudo e discussões do Dharma para entrar mais a fundo em seus significados e para descobrir melhores formas de colocá-los em prática na vida diária, tanto na família como na sociedade.

Os Cinco Treinamentos nos ajudam a viver com mais simplicidade, dando-nos o tempo e a energia necessários para proteger a vida e ajudar aqueles que precisam realmente de nós. É possível ser feliz com uma vida simples, com tempo para tomarmos conta de nós mesmos, de nossa família, daqueles que sofrem e, ao mesmo tempo, promovermos uma justiça social maior. Muitos de nós correm atrás da fama, do poder, do sexo e do dinheiro durante toda a vida, mas mesmo aqueles que têm essas 4 coisas em abundância continuarão sofrendo muito se não tiverem compreensão e amor.

Quando praticamos o segundo treinamento da generosidade para oferecermos nosso tempo, energia e recursos materiais àqueles que necessitam realmente deles, nossa vida torna-se repleta de significado e realização. O Budismo e a prática dos Cinco Treinamentos têm muitos meios para levar mais justiça e compaixão à sociedade. Com plena consciência, compaixão e compreensão dentro de nós, agimos naturalmente, levando a cura a nossas relações, comunidade e sociedade. Devemos estar cientes das situações de injustiça, como desigualdade entre gêneros e a exclusão da mulher, a opressão de minorias, a exploração das crianças e dos pobres.

Há muitas formas de falarmos sobre injustiça e de chamarmos a atenção daqueles que sofrem e não são ouvidos. Podemos organizar passeatas para promover a paz, pois cada passo é um movimento em direção à paz. Não se trata de uma demonstração ou de um protesto, mas sim de uma verdadeira manifestação de paz, de irmandade. Podemos escrever declarações de amor a nossos políticos e representantes. Nossa sangha de Plum Village ofereceu retiros de plena consciência para policiais, membros do Congresso dos EUA, artistas e cineastas, ambientalistas, psicoterapeutas, líderes do comércio, assim como israelenses e palestinos. Os Cinco Treinamentos Budistas da Plena Consciência e os seis pontos do Manifesto de 2000 são a verdadeira prática da compreensão e do amor. São o caminho para uma sociedade justa.

O Budismo Engajado é o primeiro de todos os tipos de Budismo praticado ao longo de todo o dia, ininterruptamente, vivendo em plena consciência e concentração quando caminhamos, dirigimos, cozinhamos, vamos ao banheiro, etc. O Budismo Engajado também é a nossa prática dos Cinco Treinamentos da Plena Consciência dentro de nosso ambiente social. Praticamos a compreensão e o amor em nossa família, escola, local de trabalho, hospital, prisão, fábrica, exército, prefeitura e governo. Não precisamos usar termos budistas para trazer a prática à nossa vida diária.

A presença de plena consciência, concentração e insight, o espírito do interser, a não-discriminação, compreensão e compaixão são a própria presença do Budismo. Não temos que converter as pessoas ao Budismo, mas podemos inspirá-las a viver e trabalhar de acordo com este caminho nobre. Podemos encontrar felicidade no desenvolvimento da compreensão e da compaixão. Nosso índice para medir a felicidade, o sucesso e o progresso de nossa nação não deve ser o Produto Interno Bruto ou nosso poder aquisitivo, mas sim nosso nível de compreensão e compaixão.

Os quatro Brahmaviharas (bondade amorosa, compaixão, alegria e equanimidade) são energias ilimitadas que podem ser desenvolvidas para nossa felicidade e para a felicidade do mundo. Essas energias jamais ocorrem em excesso. A prática da produção e do consumo conscientes (o Quinto Treinamento da Plena Consciência) garante que sempre seguiremos o caminho do desenvolvimento sustentável. A verdadeira felicidade deve ser a base de nossas políticas de produção, consumo e desenvolvimento.

Nossa sabedoria é o interser, a Visão Correta Budista do mundo, no sentido de que tudo depende de todo o resto para se manifestar. Se outras espécies não podem sobreviver, então os humanos também não sobreviverão. Proteger o ambiente é proteger a nós mesmos. Não somos apenas nosso corpo e espírito, somos também nosso ambiente. Nosso ambiente é a retribuição de nossa ação coletiva (karma). Viver com simplicidade, desenvolver a compreensão e o amor, cuidar de nosso ambiente, assumir um compromisso em prol do desenvolvimento sustentável - em outras palavras, seguir o caminho do Buda.

Texto extraído do blog: http://www.sangavirtual.blogspot.com.br/

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Shushogi – Significado da Prática Autêntica (2/1)



SHUSHOGI
Significado da Prática Autêntica ou
Significado de Prática-Iluminação

PRIMEIRA PARTE
PRINCÍPIOS GERAIS
Clarificar completamente o significado de vida-morte é o assunto mais importante para todos que trilham o Caminho Iluminado. Quando há Buda na vida-morte, não há vida-morte. Compreenda, simplesmente, que vida-morte é em si mesmo Nirvana. Não há viver-morrer a ser odiado nem Nirvana a ser desejado. Então, pela primeira vez, você estará livre de nascer-morrer.

Compreenda que esse assunto é de suprema importância. É raro nascer humano, mais raro ainda entrar em contato com os ensinamentos de Buda.
Devido às nossas virtudes do passado nascemos humanos e também pudemos encontrar o Budismo. Dentro do campo de vida-morte esta vida atual deve ser considerada a melhor e a mais excelente de todas.

Não desperdice seu precioso corpo humano à toa, abandonando-o ao vento da impermanência. Não se pode depender da impermanência. Não sabemos quando nem onde nossa vida transiente terminará. Este corpo já está além de nosso controle e a vida, à mercê do tempo, continua sem parar nem por um só momento.

Assim que a face da juventude desaparecer é impossível encontrar mesmo seus traços. Quando pensamos a respeito do tempo cuidadosamente, descobrimos que o tempo, uma vez perdido, nunca volta. Repentinamente, ao estarmos de frente para a possibilidade de morrer, governantes, reis, rainhas, ministros e ministras de estado, parentes, servos, companheiras, companheiros, filhos, filhas, jóias raras, não servem para nada.

Devemos entrar no campo da morte a sós. Apenas nos acompanha nosso carma bom ou mau. A lei da causalidade, entretanto, é ao mesmo tempo clara e impessoal: os que fazem o mal inevitavelmente descendem e os que fazem o bem inevitavelmente ascendem. Se assim não fosse, os vários Budas não surgiriam neste mundo nem Bodidarma teria ido à China.

A retribuição do bem e do mal ocorre em três diferentes períodos de tempo: Retribuição experimentada na vida presente, Retribuição na vida seguinte a esta e, por fim,
Retribuição em vidas subseqüentes.

Esse é o primeiro assunto que deve ser estudado e compreendido quando se pratica o Caminho. Caso contrário muitos de vocês cometerão erros e manterão pontos de vista errados. Mais do que isso: poderão descender aos mundos do mal, passando por um longo período de sofrimento.

Compreenda que nesta vida você só tem esta vida, não duas ou três.
Quão lamentável se, infrutiferamente, mantendo pontos de vista falsos, você em vão errar, pensando que não está cometendo nenhum mal, quando de fato o está cometendo.
Você não poderá evitar a retribuição cármica de seus atos, mesmo que, erroneamente assuma que, por não reconhecer sua existência não está sujeito a eles.

SEGUNDA PARTE
LIVRE ATRAVÉS DO ARREPENDIMENTO
Budas Ancestrais devido á sua infinita bondade deixam abertos os grandes portais da compaixão, a fim de que todos os seres – tanto humanos quanto celestiais – possam realizar a Iluminação.

Embora a retribuição cármica por atos maléficos deva surgir em um dos três estágios do tempo, o arrependimento abranda seus efeitos, trazendo alívio e pureza. Logo, vamos, com toda sinceridade, arrepender-nos em frente a Buda.

O poderoso mérito do arrependimento ante Buda não apenas nos liberta e purifica, mas também encoraja o crescimento, em nós mesmos, da pura fé, do esforço correto, e a eliminação das dúvidas. Quando a pura fé aparece nos transformamos e os benefícios se estendem a tudo que existe, todas as coisas, todos os seres e todos os objetos.

A essência do arrependimento é a seguinte: ”O acúmulo de carma prejudicial, desde o passado mais remoto, tem sido imenso, gerando dificuldades à prática.
Rogo a todos os Budas Iluminados e Benfazejos que me liberte da retribuição cármica, eliminando todos os obstáculos à prática do Caminho. Rogo que me envolvam em sua compaixão, pois é através dessa compaixão que os méritos de seus ensinamentos preenchem tudo que existe nos céus, nos mares e nas terras.

Budas Ancestrais do passado foram originalmente como sou agora. No futuro, serei como os Budas Ancestrais. Todo carma prejudicial, alguma vez cometido por mim, (desde os tempos mais remotos); Devido à minha ganância, raiva e ignorância (sem princípio); Produzido por meu corpo, fala e mente, Agora, de tudo, eu me arrependo.”

Quem se arrepender dessa maneira deverá, sem dúvida, receber invisível ajuda dos Budas Ancestrais. Compreender e agir de maneira correta é a forma de se arrepender.
O poder advindo (do arrependimento) purifica os erros até suas raízes.

TERCEIRA PARTE
PRECEITOS E ILUMINAÇÃO
Em seguida devemos venerar profundamente os Três Tesouros. Os Três Tesouros sempre merecem veneração e respeito, independentemente das mudanças em nossa vida e em nosso corpo. Budas Ancestrais, tanto na Índia como na China, corretamente transmitiram a veneração a Buda, ao Darma e à Sanga.

Pessoas sem sorte e sem virtude são incapazes de ouvir até mesmo o nome dos Três Tesouros, menos ainda podem se refugiar neles. Não aja como aqueles que em vão se refugiam nas divindades e espíritos das montanhas ou adoram altares não budistas, porque é impossível obter alívio do sofrimento dessa forma. Pelo contrário, rapidamente se refugie em Buda, no Darma e na Sanga, procurando não apenas alívio ao sofrimento, mas também completa iluminação.

Refugiar-se nos Três Tesouros significa, antes de tudo, fé pura. Quer durante a vida do Tathagata ou mesmo depois, com as mãos em gassho (palma com palma) e abaixando a cabeça devemos entoar o seguinte: Retorno e me abrigo em Buda. Retorno e me abrigo no Darma. Retorno e me abrigo na Sanga.

Retorno e me abrigo em Buda porque é o Grande Mestre.
Retorno e me abrigo no Darma, porque é um Bom Remédio.
Retorno e me abrigo na Sanga, porque é composta de Excelentes Amigos.

É somente através do refúgio nos Três Tesouros que alguém se torna discípulo (a) de Buda e se qualifica a receber todos os outros preceitos. O mérito de se refugiar nos Três Tesouros inevitavelmente aparece quando há comunhão espiritual entre quem pratica e Buda.

As pessoas que experimentam essa comunhão sempre se refugiam, quer estejam existindo como seres celestiais ou humanos, vivendo nos reinos dos sofrimentos, espíritos famintos ou animais.

Como resultado, o mérito assim acumulado inevitavelmente aumenta através dos vários estágios da existência, conduzindo, finalmente, a mais alta e suprema iluminação.
Saiba que o Bhagavata já testemunhou que esse mérito é de valor insuperável e de profundidade incomensurável. Logo, todos os seres devem assim tomar refúgio.

Em seguida devemos receber os Três Preceitos Puros. O primeiro é o de não fazer o mal. O segundo é o de fazer o bem. O terceiro é o de beneficiar abertamente a todos os seres. Então, nos comprometemos a aceitar e manter as dez graves proibições:
- não matar
- não roubar
- não praticar atos sexuais impróprios
- não mentir
- não negociar tóxicos (usar ou fazer com que outros usem)
- não falar dos erros alheios                                                                           
- não ser controlada pelo orgulho (não se elevar e rebaixar os outros, não se rebaixar e elevar os outros, não se igualar)
- não ser controlada pela ganância ou avareza (não cobiçar e/ou não compartilhar o Darma e/ou coisas materiais)
- não difamar os Três Tesouros (Buda, Darma e Sanga)

Todos os Budas têm recebido e observado os Três Refúgios, os Três Preceitos Puros e as Dez Graves Proibições. Recebendo esses Preceitos a pessoa realiza a Suprema Sabedoria Iluminada (Anokutara Sammyaku Sanbodai), a sólida e indestrutível iluminação de todos os vários Budas nos três estágios do tempo (passado, futuro e presente). Há alguma pessoa sábia que, alegremente, não procure alcançar isso?

O Bhagavata mostrou claramente a todos que quando as pessoas recebem os Preceitos de Buda, entram no nível de todos os Budas. Nível de todos os Budas é o da grande iluminação. Verdadeiramente se tornam crianças Buda. Todos os Budas existem nesse campo, percebendo tudo claramente e sem deixar rastros. Quando pessoas comuns fazem desse o seu campo, deixam de distinguir entre sujeito e objeto.

Nesse momento tudo que existe – tanto terra, grama, árvore, muro, tijolo, pedregulho – funciona como manifestação da iluminação. Aqueles que recebem os efeitos dessa manifestação realizam iluminação mesmo sem o perceber. Esse é o mérito do não fazer e não lutar: acordar a mente Bodhi (iluminada).

Extraído com contentamento e gratidão do site: http://www.monjacoen.com.br/